Antiporcos, sempre velozes, sempre furiosos, lançam o EP Enquanto Houver Injustiça Estaremos no Front, pra atravessarem seu canal auditivo tão rápido quanto Usain Bolt percorrendo 100 metros.
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O punk rock se interessa pelo tutano, se desfaz da estrutura óssea, por isso é rápido, direto e quase sempre passa por você sem que haja tempo de saber o que aconteceu. Sente-se apenas o resultado de sua passagem: a percepção atordoada e o trabalho da mente em se situar novamente no mundo. A economia de notas e de tempo de duração das músicas reflete a intenção de construir uma estética sonora específica, que resultará num determinado efeito sobre o ouvinte.
O punk rock dos Antiporcos não foge a esta regra, isso fica nítido no EP Enquanto Houver Injustiça Estaremos no Front recentemente lançado pela banda. Tecnicamente o EP é impecável, o trabalho de captação do som e mixagem das músicas preserva o que de fato é o som da banda. Tive a oportunidade de ouvi-los ao vivo e a sonoridade, bem como o clima criado pela banda ao vivo está presente no registro de estúdio. Isso é fundamental, pois há muitas bandas que ao vivo não conseguem soar do mesmo modo que no estúdio, o que cá entre nós, é frustrante. A banda mostra-se preocupada com a qualidade do trabalho desenvolvido ao buscar preservar suas características ao vivo no registro de estúdio.
Do nome da banda, aos títulos das música e temas abordados pelas letras, fica claro o engajamento politico dos Antiporcos. Colocam-se entre as fileiras de bandas punk e hardcore preocupadas em fazer da sua música uma arma. Usam seu arsenal para lutar contra a opressão imposta pelos “donos do mundo” sobre todos aqueles que não tem outra opção senão vender sua força de trabalho para sobreviver em meio ao caos social. O furor deve se manifestar nas ondas sonoras que produzem, as letras devem se materializar em melodias selvagens, é preciso um choque intenso para abrir olhos entorpecidos. Apena o impacto violento pode nos tornar capazes de perceber a jaula invisível que nos encarcera.
Abre o Ep a faixa que o batiza. Enquanto Houver Injustiça Estaremos no Front atenta para a necessidade de manter a luta viva, tendo na consciência de nossa condição de explorados o fator que irá motivar o engajamento na luta. O alerta constante fomenta a disposição de estar na rua, onde as transformações podem ser deflagradas. A fluidez da linha instrumental conduz a melodia por uma linha sonora constante e sem atritos. Parece haver um horizonte a perder de vista, mas essa imagem logo desaparece com o repentino final da música. Diante dos últimos acontecimentos políticos em nosso país parece que haverá injustiça no front durante muito tempo.
Cheirando Pó Na Tampa do Lixo No Banheiro do Bar trás a tona um traço, quase cultural, associado ao universo do rock´n roll: a desmedida e a compulsividade própria do ethos junk. Sempre que queremos tem a vontade por foco e as atitudes necessárias para saciá-la. Insisto em Viver expõe o peso do cotidiano do trabalhador comum sempre massacrado por uma dinâmica existencial violência, que extrai toda sua vitalidade até nada sobrar, mas que não é suficiente para fazê-lo entregar os pontos e dar um fim à própria existência. Liga Pra Mim fecha o álbum trilhando um caminho temático mais descontraído.
O front do punk rock sempre necessita de voluntários para fazer valer sua sonoridade. Os Antiporcos estão na linha de frente puxando a fila na direção do combate, quando ouvirem esse som tratem de segui-lo, você está diante da batalha, trate de se jogar nela.
Ouça o Ep Enquanto Houver Injustiça Estaremos no Front clicando AQUI.
Ficha Técnica:
Sing Alongs por: Antiporcos, Dill Pereira, Eder “Lobo Mal”, MSK e Pôpo