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Discos, Resenha

Aline Lessa (2015)

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Aline Lessa
Aline Lessa

Aline Lessa estréia com álbum intimista marcado pela recusa de antigas fórmulas e pela busca de uma sonoridade autêntica.

Aline Lessa é o nome dela! Golaço! Entrou com bola e tudo, diferente do Fio Maravilha ela não teve nenhuma humildade ao fazer o gol. Permitam essa analogia com o futebol por mais bizarra que possa parecer. Mas apenas a sensação de fazer um gol decisivo é comparável à sensação que se tem ao ouvir algo pela primeira vez! E tô falando de pela primeira vez, quando você não consegue achar parecido com nada que já tenha ouvido antes. Podem até dizer que estou exagerando, mas eu sei bem o que senti.

Engraçado, eu nunca ouvi falar da Aline antes, imaginem ter ouvido uma música dela. Mas as redes sociais podem ser mais do que um depósito de banalidades e disputa pra ver quem vai ganhar o troféu hidrófobo do ano. Prova disso foi o aviso do twitter de que eu havia ganhado um novo seguidor. Na verdade seguidora, era a Aline Lessa. Fui ver quem era e me deparei com uma cantora e tanto lançando seu primeiro álbum solo. Nessas horas que a gente para, senta, bota o cotovelo no joelho, cerra o punho e o usa para apoiar o queixo.

Retornemos à analogia do futebol. Assim como o craque de um time que bate no peito e chama pra si a responsabilidade para vencer a partida, Aline Lessa deixou a banda Tipo Uísque para comandar sua carreira musical. Na banda era tecladista e por mais virtuosa que seja (isso eu não sei), mas se for, esse virtuosismo em nada deve se comparar à sua inspiração criativa como compositora. Estava lá sendo uma boa tecladista, porém, apenas isso, nada de ser o craque do time, mesmo tendo potencial de sobra pra isso. Aline precisava vestir a camisa dez, digo mais, merecia usar a braçadeira de capitão. Essa atitude ela tomou ao se arriscar pelos tortuosos caminhos da carreira solo. Seu álbum de estreia mostra que tem talento pra vencer qualquer adversidade que possa porventura se apresentar.

Opa, eu não posso deixar de abrir um parêntese antes de continuar. Há para mim uma característica mais importante do que tudo na musicalidade de Aline Lessa. Vou mais longe, arriscando-me a dizer que nada do que ela possa fazer nas outras esferas da sua vida pode se comparar ao seu talento para cantar. Lembre ai de um pássaro que tem o mais belo canto que você já ouviu. Pois é, Aline Lessa é como ele, nasceu, sabe-se lá por quais desígnios da natureza, para cantar. Ainda bem que é como os pássaros canoros, fosse como as sereias teríamos todos que usar do artifício de Odisseu e nos amarrar em algum poste para ouvi-la cantar. Senão sairíamos por aí sem rumo, hipnotizados pelo efeito das ondas sonoras produzidas por suas cordas vocais.  

Sério, não tô de brincadeira rapaziada. A voz dessa mulher faz neguinho ficar arrepiado! Ficar xonado, literalmente cair de joelhos! O timbre de sua voz é sereno, vigoroso, cristalino! Há uma singularidade no seu modo de cantar que aliado ao seu timbre vocal  lhe assegura mais que uma identidade, uma impressão digital sonora, ou seja, não há outra sequer parecida com a dela. Isso é raro, pois o comum por aí é a padronização do modo de cantar. Vá às escolas de música Brasil afora e confira se não existe por aí um processo de sandinização e sangalização das cantoras em formação. Todo mundo optando por seguir a filosofia do Chacrinha segundo a qual nada se cria, tudo se copia. Sai pra lá com sua filosofia de boteco Velho Guerreiro, que a Aline tá mais pra fazer as coisas ao modo nietzschiano, a golpes de martelo.

Li algumas notas e resenhas sobre o álbum da Aline onde os caras fazem comparações de seu estilo com medalhões da MPB como Gal Costa. Sinto dizer meus caros, mas vocês não ouviram o álbum com a devida atenção. A motivação para escrever sobre esse álbum se deve muito à sua originalidade. Em tempos de grandes estripulias musicas faz bem voltar à simplicidade das coisas. Aline Lessa realiza essa guinada. Violões dedilhados com suavidade, solos de guitarra econômicos, mas precisos, percussões usadas de maneira cuidadosa visando dar às músicas o swing necessário para fazer balançar, porém sem perder a tônica contemplativa que caracteriza o álbum. 

Suas músicas despertam climas, imagens e sensações experimentadas durante o outono e o inverno. Clima frio, paisagem acinzentada, folhas caindo das árvores rumo à renovação, fumaça saindo do café quente na xícara, montanhas cobertas por neblina, serração, fui levado a transitar por essas imagens enquanto ouvia a Aline. Considero haver uma filiação com o indie britânico senão em todo álbum, na maior parte das músicas. Existe essa combinação feita de modo preciso entre elementos da chamada MPB e com o indie de DNA britânico. O álbum está disponível para download na página oficial de Aline Lessa. Acesse, baixe e escute Aline Lessa (2015) e experimente toda imersão dentro de si que o álbum provocará em você! 

Ficha Técnica:

Produzido por Elisio Freitas e Aline Lessa
Mixado por Guilherme Marques
Masterizado por Luiz Tornaghi
Gravado em EMPB, exceto baterias das faixas 2, 7 e 9 (Estúdio Cantos do Trilho)
Fotos por Ph Rocha e Aline Lessa
Encarte por Isabela La Croix

Nota: 

Aline Lessa (2015) by alinelessa

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