Oganpazan
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ALFÃO é uma fábrica de hits em seu trabalho de estreia: “LESGUIREY MIXTAPE vol.1”

ALFÃO

Foto por @cabecadefire Lorena mendes

ALFÃO inicia sua caminhada solo com um trabalho de 4 faixas, mostrando uma expertise de veterano em lírica e flow!

As aplicações e o design foram coordenados por JÓZÁ, com a colaboração de SAJA na produção do letrado baiano

Já faz alguns anos que o trabalho de ALFÃO (Ex-Alfa da Underismo) dentro do cenário do rap feito na Bahia implicou uma renovação muito potente junto ao seu coletivo. Esse filho do Garcia, não apenas pela identificação geográfica, se insere em uma linha evolutiva da música baiana que possui suas raízes no nome de Riachão. Está lá nas suas letras, a malandragem e o humor que foram características muito distintivas da obra do sambista.

A prova disso é LESGUIREY MIXTAPE vol.1, trabalho recém lançado pelo MC que conta com 4 faixas produzidas por Raonir Braz, Geeli, Fwizy e OG Saimon7. Gravado no Cremenow Studio, casa de Galf AC, Vandal, BAGUM, entre outros grandes nomes da música feita em Salvador e capitaneado por Tiago Simões, a tape marca e fixa desde já a carreira solo de ALFÃO. 

Apesar de curto, o trabalho cobre uma gama ampla de ideias, sonoridades e cospe barras que como sempre prometem se fixar nos ouvidos e na mente dos ouvintes mais atentos. Em um cenário onde é raro encontrar artistas que não estejam copiando estéticas, apresentando clichês e empenhados por ideias neoliberais, ALFÃO se destaca com a apresentação de referências muito próprias. 

-Leia nossos artigos e resenhas sobre a Underismo no site

A riqueza semiótica presente em LESGUIREY MIXTAPE, capaz de mesclar elementos da cultura local e mundial, Rasta Wine e Atlanta (série de TV), é apenas uma pequena amostra, ainda assim marcante, da força do trabalho de ALFÃO. Sabedor de que a arte não pode se diluir em fórmulas estúpidas, o MC baiano, apresenta um pequeno mix de afetos e sensações, que conseguem muito bem, dar conta da real vivência de um jovem negro. 

Do cotidiano opressor enfrentado por milhões de trabalhadores até o genocídio negro, passando pelas festas e chegando mesmo até uma visão de mercado e do papel do artista diante do mesmo. ALFÃO é capaz de em pouco mais de 8 minutos, nos fazer rir, dançar, pensar, nos indignar e refletirmos, sobre o quanto não é o tempo mas a duração e a força das imagens poéticas que definem um trabalho dentro do rap nacional. 

As sonoridades apresentadas que dialogam com o que de mais moderno e contemporâneo existe atualmente na “indústria cultural”, com produções de alto nível dos beatmakers e produtores envolvidos, encontram na lírica e no flow do MC, a relação entre forma e conteúdo, que performa realmente algo novo. Conversamos com ALFÃO para sabermos um pouco mais sobre o seu corre e sua visão sobre algumas questões, e você pode conferir abaixo nossa entrevista, LESGO:

Oganpazan – Salve meu maninho, feliz demais por você estar continuando a sua arte e aproveitando a oportunidade gostaria de te perguntar: Como é ser um jovem negro fazendo rap em Salvador? 

ALFÃO – Boa pra nós big ref!! Tô aí tem quase 10 anos guerreando, atuando e mantendo. Ser negro na arte em Salvador, tanto pra mim quanto pra quem ta começando agora é “selva” kkkk. A cidade não foi feita pra preto muito menos pro rap. São poucos os espaços que temos para trabalhar nossa arte, ou curtir algo do nicho, então é um desafio constante. 

Oganpazan – Quais as suas principais influências musicais e outras? E quais artistas contemporâneos você mais ouve hoje em dia?

ALFÃO – Irmão, eu me influencio mais pela vivência do que por músicas em si. Mas eu escuto de tudo um pouco, na minha playlist toca majoritariamente rap. Eu consumo muito do pagodão e da musicalidade daqui de salvador. Músicas dos Anos 80/90/00 me pegam muito, um negocinho de um Gfunk, um Charlie Wilson/The Gap Band, uma galera genérica me agrada também, um Leviano, um Caio Luccas. Mas sou fiel aos meus, não tem como.. Liz Kaweria, Makonnen Tafari, Gremory (Lil Devil), enfim…

Oganpazan – Com o fim do Underismo, como a sua cabeça ficou, o quanto isso impactou a sua vida e seus planos naquele momento?

Foto por Lorena Mendes (@cabecadefire), Modelos: ALFÃO e Laila Barbosa (@aquecorta)

ALFÃO – Rapaz, se em grupo já é difícil imagina “só”. Foi a primeira coisa que eu pensei! Mas eu fiz parte da Underismo antes dela se fazer parte de mim então foi tranquilo entender o hiato desse ciclo belíssimo. Ser ref 01 da cidade por alguns aninhos me fez entender a importância de não parar. 

-Leia no nosso site o artigo sobre o lançamento do clipe RV do MC ALFÃO!

Oganpazan – O que a sua participação no Coletivo Underismo lhe ensinou como um jovem em formação – que você era na época – e como artista tanto em termos estéticos quanto em termos de mercado?

ALFÃO – Underismo me moldou muito. Me entendi como porta voz de algo maior dentro do grupo. Realidades próximas, visões e ambições parecidas.. era um ambiente confortável mesmo que cheio kkkkk. boas lembranças e aprendizados. Entendi que eu era bonito com eles, entendi que era preto com eles, entendi de moda, de música, de raiva com cada um deles, enfim, sou grato! No quesito mercado Underismo abriu portas e me inseriu em lugares inimagináveis, me apresentou a pessoas que facilitam as nuances de ser independente, mesmo que de vez em quando eu precise dar a carteirada de integrante de uma das melhores coisas que a Bahia já viu 😛.kkkk sou grato.

Foto por Lorena Mendes (@cabecadefire)

Oganpazan – Alfão, além de ser um jovem MC negro fora do eixo, para piorar você é CLT e ainda tem a pachorra de ser estudante, ou seja, é a chacota para a visão de mundo dos “Trappers” de hoje. Como você vê essa questão? 

ALFÃO – porra, eu ainda nao entendi essa resenha kkkkk. Se não é trabalhando ou estudando como é que faz dinheiro?? Dinheiro não se faz parado. Essa ideia de fazer o que gosta pra nao precisar trabalhar é uma enganação fudida e tem quem caia.. todo mundo tá no mermo barco mas tem quem insista que tá no bote kkkkk, enfim, queria ser idiota pra viver mais em paz.

Oganpazan – Uma coisa que sempre tive curiosidade de te perguntar meu mano, de onde vem a suas inspirações para compor e como/onde você escreve?

ALFÃO – Rapaz, eu escrevo toda hora. Frases, palavras, coisas que ouço, falas de filmes/séries que acho que dá pra tirar algo e depois eu construo algo em cima. Rap é consequência das minhas vivências… Eu preciso vivenciar a rua, o silêncio, a festa, a minha casa, preciso experienciar pra escrever. Inspiração vem do nada, ai eu caneto uma, 2 faixa no dia ou só um verso kkkkk depende. Mas do “vaso” ao estúdio, eu caneto.

Oganpazan – Algo incrível é que você é um artista muito admirado pelo público, assim como a Underismo rapidamente angariou um público muito grande para os padrões independentes de Salvador. É possível transformar esse público em moeda no “corre”, o que falta na sua visão para que o público do underground se torne fonte de sustentação para os artistas tanto em termos de visibilidade como um mercado?

ALFÃO – Acho que fazer dinheiro no underground de Salvador é constância. Ou é você tocando de graça até acertar um edital massa pra ir num festival que te pague o mínimo,ou você fazendo seu evento até conseguir um patrocínio massa, enfim.. o público nunca vai ser fonte de renda, mas sim o chamariz pra quem realmente tem dinheiro investir no seu corre ou algo do tipo. Publico de Salvador maioria é artista, todo mundo guerreando igual (ou parecido) ai é foda.

Oganpazan – Tenho acompanhado de perto seu corre desde a época do coletivo, e queria saber como se deu seu fechamento com a Cremenow Studio e qual é a sua ligação com eles atualmente mano? 

ALFÃO – LESGUIREY MIXTAPE vol.1 foi o início de muita coisa. A Cremenow sempre foi uma meta de onde chegar no quesito qualidade de trabalho e hoje lançar um trampo em parceria é motivo de sorrir sempre que lembro kkkkk. A forma como estreitamos laços foi tão natural que parece que era pra ser sabe?!.., tipo amor à primeira vista. Falo pouco pq tenho ciumes da minha porra,  mas essa parceria é sem prazo de validade.

Oganpazan – Você vai lançar LESGUIREY mixTape vol.1 no dia 08/08, e gostaria que você falasse o que você quis comunicar com esse trabalho.

ALFÃO – 08/08 foi o dia de portais abertos, de energia fluindo. Esse número sempre me acompanhou, desde a Underismo, então nada mais justo que ser nele a conclusão de algo tão simbólico pra mim. LESGUIREY é o que eu sou no momento, as verdades que canto, meu primeiro EP solo de estúdio, ALFÃO nessa nova fase ai. A galera que me conheceu como “Alfa da Underismo” vai me ver como ALFÃO DE ALFÃO kkkkk. Meu respiro pré álbum.

Oganpazan – Por fim, gostaria de lhe perguntar o que você está aprontando pro futuro, quais os seus planos após o lançamento de LESGUIREY meu mano?

ALFÃO – CLIPADAAAAAAA, MERCHS, SHOW DE LANÇAMENTO, VINIL, tudo que eu puder kkkkkkk. Mas por partes, vamo ver uma assessoria de imprensa pra badalar mais o trampo, fazer um clipão de PAPERBOI e um showzinho pra nós curtirmos. 

-ALFÃO é um fábrica de hits em seu trabalho de estreia: “LESGUIREY MIXTAPE vol.1”

Por Danilo Cruz 

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