Albert King – I Wanna Get Funky

Um bom e velho Blues… Essa é uma daquelas frases que fazem você ter aquele arrepio na espinha! E se tem um guitarrista capaz de dar um arrepio na sua espinha, no seu cérebro, na sua alma, onde bem entender, esse alguém é Albert king.

O americano foi um dos poucos e bons mestres que teve a alcunha de ”Rei”, uma condecoração e tanto no nosso Blues de cada dia. O negrão definitivamente sabia como tratar uma guitarra, esse sentia o Blues como poucos, pegava o instrumento e acomodava o mesmo como se fosse um chaveiro em suas dimensão herculeana, só que o cuidado que ele tinha fazia a madeira vibrar em alarde sentimental de bends como jamais se viu, até o tom era único.

Mas dentro de sua meca discográfica, existe uma coletânea de som negreiro que jamais recebeu o reconhecimento merecido, falo da mítica ”I Wanna Get Funky”. Coleção que além de nos brindar com a tradicional genialidade de um rei, ainda ousou e tocou o Blues como se fosse aquele Funk ácido, algo inédito em sua discografia.

Line Up:
Albert King (guitarra/vocal)
Donald Kinsey (guitarra)
Memphis Simphony Orchestra (arranjo de cordas)
The Memphis Horns (metais)
The Bar-Kays & The Movement (seção rítmica)
Hot Buttered Soul, Henry Bush (vocal)

Track List:
”I Wanna Get Funky” – (Clifton William Smith)
”Playing On Me” – (Sir Mack Rice)
”Walking The Back Streets And Crying” – (Sandy Jones)
”Til My Back Ain’t Got No Bone” – (Eddie Floyd, Alvertis Isbell)
”Flat Tire”
”I Can’t Hear Nothing But The Blues” – (Henry Bush, Clark)
”Travelin’ Man”
”Crosscut Saw” – (R.G. Ford)
”That’s What The Blues Is All About” – (Bobby Patterson, Jerry Strickland)

Gravado em 1972 e lançado apenas dois anos depois, já em 1974, ”I Wanna Get Funky” não perde em nada dentro dos trabalhos clássicos de Albert, mas é um daqueles discos que acabaram ficando levemente ocultos, facto que as vezes se materializa na vida de grandes mestres, sem necessariamente precisar justificar-se perante tal falta de providência divina.

E para mostrar a força de uma abordagem que se limitou a apenas um disco, o LP já abre com a faixa título logo de cara. O mestre mata o Blues no peito e ajeita de prima pra você começa entender por que esse trabalho abrilhanta o swing e vai ronronando o órgão, sempre guiando as notas no meio do coletivo de metais.

Sinta a cadência e veja como ele esnoba o Funk, finge que é Blues e vai segurando o som, na medida que ele ordena o ”Get Down” para sua banda. Mantenham a base, eu carrego a guitarra e nos solos de ”Playing On Me”, desejo apenas que acompanham os metais pra anganar a Stax.

E para comprovar a combinação de resultados, escute ”Walking The Back Streets And Crying”, um dos melhores arranjos do disco e uma prova viva de como Albert conseguia personificar qualquer coisa em sua ”Flying V”. Parece que ele pega o celular tijolão, faz uma ligação pra patroa e só enumera os fatos da vida…

”It was too much for me
That’s why i walked the back street and cried”

Dai pra frente a esposa nem responde, a guitarra já interrompe ele mesmo e a retórica segue as lamúrias de uma alma atormentada até acabar o som, ele apenas manda segurar e volta pra conversa.

”And Last time we had an argument
You know, called the police on me”

Não tem nem conversa, a parte ”A” vai e volta mas o mestre está certo, quem discute com um rei, mesmo com argumentos válidos? Albert mostra que nem sempre tudo que reluz é ouro, apesar de mostrar que sente o Blues, a vida sempre prega peças.

E este oitavo trabalho de estúdio é sua tentativa de retrucar. ”Til My Back Ain’t Got No Bone”, por exemplo, é um bela prova disso, o cara resolveu tocar Reggae falando o dialeto do Blues e brincando com Jazz na cama da jam. Mais sete minutos de pontadas eternizadas em um de seus temas com mais pegada.

Mas nem por isso ”Flat Tire” surge sem desossar mais grooves. ”I Can’t Hear Nothing But The Blues”, por exemplo, segue quente, mostra que até o poeta mente e que o Funk corrompe até os mais xiitas, que vocais!

O instrumental beira a perfeição, ”Crosscut Saw” revive as linhas cortantes da Motown e aqueles backing vocals que nos fazem cair na mais devassa paixão, aniquila o ouvinte no Wah-Wah e finaliza  o trabalho mais chavoso da história do maestro, com mais uma ácida sátira. ”That’s What The Blues Is All About” é mais um ”Blues” e comprova que não se separa Albert de King, nem Blues de ”Flying V”, mesmo que ele engane a audiência, é Funk, mas sinceramente, não estou nem aí, o que vier desse cara faz a minha cabeça.

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