Admirador da rítmica africana, Akira Ishikawa foi um baterista japonês que produziu de sonoridades do tradicional japonês ao afro-beat
Akira Ishikawa (1934-2002) foi um dos jazzistas e bateristas japoneses mais proeminentes de terras nipônicas. Percorreu diversos estilos em sua carreira para além do jazz como a soul music e o afro-beat, além de colaborar com diversos artistas como o mestre do shamisen Rynsioe Kida e visitas à África a fim de se inspirar diretamente da fonte no diálogo com artistas africanos. Infelizmente, não consegui localizar o nome dos mesmos nos créditos disponíveis na internet, fato que pode ter a ver com a superficialidade dos dados disponíveis na rede mas até mesmo uma forma de racismo estrutural.
Um fato curioso nas capas de seu disco é que ele é sempre representado como um japonês de pele escura, para além de sua tonalidade natural (além de ter cultivado um cabelo afro); fato que poderia remeter a questões mais complexas como o colorismo ou quem sabe até a blackface. Todavia, a dinâmica racista existente no Ocidente não é a mesma que se vê historicamente no Oriente. O diálogo entre África e Ásia existe pelo menos desde o séc. VII; muito antes do expansionismo colonial europeu. Histórias reais únicas como a de Yasuke, um africano levado ao Japão durante as investidas europeias no extremo oriente que rapidamente se tornou um samurai, estão aí para provar essa diferença. Inclusive, a um artigo em inglês muito interessante sobre essa temática chamado African Odisseys que retrata e se aprofunda muito bem nessa questão. Obviamente, isso não significa negar a existência de racismo no Japão, tampouco dizer que não é problemática a pigmentação em capas de discos. Apenas há uma diferença real em como as dinâmicas raciais se dão em cada parte do mundo.
Se você ainda não conhece o trabalho dele sugiro começar por African Rock (1971), Uganda (1972) e Dynamic Latin Exotic Sound (1972); que como o próprio nome sugere explora o lado “exótico”; leia-se afro e ameríndio da musicalidade do nosso continente. São também os discos nos quais essa influência africana está mais evidente, deixando claro a influência ao redor do mundo da música desenvolvida pelo povo negro. Inclusive, a africanidade nipônica de Akira tem servido de inspiração nos recortes e samples das minhas próprias produções musicais como foi no caso da beat tape South Samurai (2021) e Outwast (2022). Seu som enegrecido dialoga facilmente com vertentes diversas da música diaspórica, o que não seria diferente com o hip-hop (arrisco dizer que se ainda estivesse vivo talvez fizesse algo nessa linha, quem sabe).
Esse texto é apenas uma introdução à musica de Ishikawa, Oganautas. Agora deixo vocês com a curiosidade de descobrir mais sobre essa figura peculiar na música japonesa. Câmbio!
-Akira Ishikawa: o jazzista japonês que queria ser negro!
Por Gustavo Marques