Por vezes percebemos aquela famigerada estratégia de marketing que tenta “vender” um conceito, mas deveríamos saber que conceitos devem ser pensados ou vividos. No caso da loja Afreeka, para o “consumidor” mais atento, é fácil perceber que “Uma Alma Livre” não é apenas um sloogan publicitário, da mesma forma que a Afreeka não é apenas uma loja. É um espaço construído a partir da vivência das ruas, da militância e do engajamento libertário onde a teoria é apenas um referencial como outros. A Afreeka é hoje em Salvador um espaço impar onde o vil metal não é a única meta, mas um elemento condicional capaz de manter a dignidade desejada para que as coisas mais importantes possam brotar. As vendas sustentam o lugar que abriga a troca de informações e a poesia das ruas de onde a ideia nasceu. Inicio meio inicio. E a ideia nos parece ser a contínua busca pela liberdade, da rua para a rua, que me permitam citar e alterar o famoso verso: “Um por amor, dois pelo dinheiro, três pela Afreeka, quatro pros parceiros.”.
Chegando por lá apesar da excelência das mercadorias expostas: roupas, tênis, discos, livros, bonês, discos, turbantes, não nos sentimos constrangidos em não poder ou não querer comprar algo. Porque é fácil perceber como a loja é pensada para ser praticada como um local de encontro, no sentido forte da palavra. Ao invés de um vendedor lhe pressionando, somos recebidos pelo sorriso generoso de Robson Veio, encontramos Rangel (a mente por trás dos conceitos) no sobe e desce das escadas – urso inquieto- nos corres administrativos-criativos, ao mesmo tempo em que para e emenda uma conversa. Podemos ouvir alguma novidade do rap que soa dos altos falantes – e que logo receberá um elogio seguido de uma explicação sobre as qualidades daquilo por parte do Veio. Podemos encontrar alguém que por lá chega e que depois durante uma conversa descobrimos ser mais uma das cabeças caras do nosso hip hop. E se você estiver lá ás 17:00, 17;30, um excelente cafezinho lhe será servido diretamente de um autêntico vendedor de cafezinho desses que lotam nosso centro na correria com seus carrinhos.
Uma loja da rua (Urban store), fincada no centro da cidade que em pouco mais de um ano se firma como ponto importante de nossa cultura (sem patrocínio ou subvenção estatal) fruto de trabalho e convicção, da luta por dar visibilidade e produzir arte. Sim, porque além dos encontros casuais, da troca de informações, da possibilidade de dar aquela garibada no guarda roupa, encontrar os melhores lançamentos do rap e do rock nacional, ás sextas feiras é por lá que encontramos dois eventos já consolidados em seus conceitos inovadores. Às sextas feiras após o trabalho, faculdade, no esquenta pra night ou simplesmente para ouvir um som e trocar uma ideia antes de retornar pra casa, agora você tem local certo para aportar. Oganpazan colou em duas edições do Afreeka Happy Hour nas últimas sextas feiras do mês de julho para conferir e segue abaixo uma breve descrição para que vocês tenham um ideia e parem de moscar e fortalecer por lá.
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A rapper Cintia Savoli casou perfeitamente com a ideia do Afreekapella com suas letras carregadas de poesia e sua declamação forte. Neste projeto a ideia é aproximar os artistas do público num bate papo agradável e esclarecedor onde as letras são apresentadas sem acompanhamento musical. A rapper que acaba de lançar seu trabalho solo, nos presentou com uma outra forma de entender seu trabalho. Todos sentados na circularidade africana, ouvindo a poetisa e as histórias por trás das composições e algumas passagens da caminhada. Tudo isso num clima intimista e fraterno onde a barreira entre “artista” e público é rompida em favor do entendimento, numa chave real de humildade, para além das selfies fingidas. Foi muito interessante notar como a poesia da artista sobrevive muito bem sem o suporte musical, algo difícil na música popular de modo geral. Mesmo que no rap um dos pilares seja a Poesia, sem o acompanhamento musical nem todos os artista se mantém de pé. Cintia pôde deixar mais uma vez claro para os presentes que seu trabalho também poderia ter sido apresentado – talvez algum dia o seja- por escrito. Muita qualidade na escrita que se conjuga e é mais percebida com a música. Uma noite deliciosa, poesia, engajamento, troca de vivências, boas vibrações, almas livres.
Afreekabeatz – Zezé Olukemi Sexta 24/07
Certamente o Afreeka Happy Hour foge do que tradicionalmente se costuma pensar em termos de Happy Hour, afinal o conhecimento está ali sempre como fio condutor da programação, ligando dessa forma a amizade e a arte. Esses foram retratos meio desfocados daquilo que presenciamos, essas palavras com certeza traem toda a delicia que estas noites de sexta feira são capazes de proporcionar, cabe a você aí colar e registrar suas impressões.
Confira a programação de Agosto e se programe: