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Uma Abordagem Psicodélica do Fenômeno da Morte

O Derradeiro Ato Meu. André de Castro Pereira disserta sobre a morte numa perspectiva psicodélica. 

“Habitua-se a pensar que a morte não é nada para nós, pois o bem e o mal só existem na sensação. Donde segue que um conhecimento exacto do facto de a morte não ser nada para nós permite-nos usufruir esta vida mortal, evitando que lhe atribuamos uma ideia de duração eterna e poupando-nos o pesar da imortalidade. Pois nada há de temível na vida para quem compreendeu nada haver de temível no facto de não viver. É pois, tolo quem afirma temer a morte, não porque sua vinda seja temível, mas porque é temível esperá-la”.
(Epicuro)

Há dois assuntos tabus que acompanham a humanidade pela história. O sexo e a morte. Eros e Tânato. Neste texto tratarei da morte, um tema que fascina e causa espanto. Em outra oportunidade fica o compromisso de falar sobre o sexo. Mas, não nos esqueçamos que uma coisa se sucede a outra. É através do sexo que a vida é gerada. Esta mesma vida que irá se degradar e perecer. E as memórias genéticas ancestrais continuarão correndo, junto ao sangue da humanidade, nas veias de cada homem e mulher vivos. A morte acompanha-nos pelas duas pontas do novelo da vida. Por um lado, somos resultado de todo passado humano que já não se encontra mais aqui, a não ser pela presença de algumas poucas gerações antecessoras; e por outro, caminhamos à sombra do futuro e do fatídico encontro com a Miss Morte.

Este tema funéreo é recorrente na literatura e nas artes em geral. O Dr. Timothy Leary (o conhecido profeta do LSD) chamava a morte de Miss Morte, o que me faz lembrar a imagem que Raul Seixas tinha da morte como uma dama “vestida de cetim”. Há muitas descrições poéticas da morte. Múltiplas interpretações do que realmente significa esse fenômeno. Ninguém está imune a seus efeitos. Todos nós já perdemos algum ente querido ou iremos um dia perder. De fato, todos nós iremos morrer. E talvez seja por esta consciência de nossa degradação que ensejamos a criação das Letras e as Artes, como uma forma de driblar a morte e alcançar a eternidade.

– A Morte Vista em Múltiplas Perspectivas

Todos nós já tivemos muito medo da morte. É natural e faz parte de nosso instinto de sobrevivência. Mas, na sociedade ocidental, a morte tornou-se um grande tabu. Muitas vezes é difícil falar sobre o assunto. Tentamos evitar o tema, principalmente com aqueles que estão em iminência de morrer. Usamos diversos eufemismos como: bater as botas, ir dessa pra melhor, virar uma estrela. Há muitos jogos psicológicos criados socialmente para nos ajudar a superar a dor e a angústia decorrentes desse tabu. E por que sofremos tanto com a morte? Talvez, seja porque pensamos a morte como algo não natural, como a quebra de uma divina linearidade, como a interrupção de um processo que necessariamente teria uma continuidade. Para a maioria de nós a morte aparece como uma maldição.

O filósofo Nietzsche, conhecido por descartar a hipótese de Deus e combater qualquer metafísica como instrumento de conhecimento da realidade imediata, admitiu, mesmo assim, em seu famoso livro Humano, Demasiado Humano, a possibilidade da existência de um outro plano, para onde, quem sabe, se encaminhe nossos pensamentos após o sucumbir do corpo: “É verdade que poderia existir um mundo metafísico; dificilmente podemos contestar a sua possibilidade absoluta. Olhamos todas as coisas com a cabeça humana, e é impossível cortar essa cabeça; mas permanece a questão de saber o que ainda existiria do mundo se ela fosse mesmo cortada (…)”.

Não nos enganemos pensando que esse trecho manifesta uma contradição na estrutura da filosofia nietzschiana. Cabe ao filósofo, ao artista e ao cientista especular também sobre essa questão. Nietzsche ficou com a afirmação da vida, recusando a metafísica como resposta última às questões humanas, mas não negou, em absoluto, a sua possível existência.  

Essa questão do mundo metafísico deixada em aberto por Nietzsche, mesmo que por um pequeno orifício, nos ajuda a entender melhor aquelas pessoas que se agarram fortemente a convicção da existência de um mundo superior e espiritual. Não podemos esquecer que a morte é um tema que absorve significativa parte de nosso tempo – o que se traduz na imensa quantidade de religiões e explicações metafísicas da origem da vida e das relações humanas. Entretanto, além de um tabu, o que acontece para além da vida imediata e o significado último da existência do universo são grandes mistérios insolúveis pois, “se eu sou algo incompreensível/ Meu Deus é mais”, diz Gilberto Gil junto aos Doces Bárbaros.

A arte é um dos campos mais profícuos quando o assunto é a morte. Não só como tema inspirador e gerador de muitas obras, mas enquanto fenômeno estatístico. Segundo a professora e pesquisadora em psicologia da universidade de Sydney, Dianna Kenny, a partir de seu projeto de pesquisa sobre a morte precoce entre músicos dos E.U.A (com dados coletados entre os anos de 1950 e 2010), há uma maior chance de músicos morrerem por homicídio, suicídio e overdose quando comparados ao restante da população dos Estados Unidos, sendo que a maior parte das mortes – independente das causas – ocorre em média entre 51 e 70 anos de idade. Uma curiosidade mórbida para emolduramos de maneira funesta o conteúdo deste texto. Fina ironia minha.

– O “Dia Derradeiro” Cantado na Música Brasileira

O nosso cancioneiro popular está repleto de referências ao fenômeno do decesso. Noel Rosa, que teve a vida sombreada pela morte desde o início – com o parto quase fatal que sofreu – até o trágico e precoce fim aos 26 anos, se referiu a morte em várias de suas canções, quase sempre de modo bastante jocoso e irreverente. O Poeta da Vila deixa registrado em Fita Amarela seu explícito desejo final: “Quando eu morrer, não quero choro e nem vela/ Quero uma fita amarela gravada com o nome dela”, concluindo que seu velório deveria terminar em choro – não de lágrimas – mas com música; referindo-se ao estilo musical popular na época da velha república. “Não quero flores, nem coroa de espinhos/ Eu quero choro de flauta, violão e cavaquinho”.

Por outro lado, Nelson Cavaquinho, o poeta do trágico no banal cotidiano, através de um dos seus eus líricos, aproveita o funeral da mulher amada para realizar o profundo desejo de uma vida, na canção Depois da Vida: “Sei que agora é tarde, mas matei meu desejo/ É pena que os lábios gelados como os teus/ Não sintam o calor que conservei nos lábios meus (…)/ Eu te esperei minha querida/ Mas só te beijei depois da vida”. O homem apaixonado oscula os lábios gélidos da amada cadáver que em vida nunca lhe retribuiu o amor. O sensual e a morte flertam no tema de Nelson Cavaquinho, sugerindo uma possível imagem de ensaio necrófilo.

Ismael Canappele, no livro A Vida Louca Da MPB, conta que a morte sempre foi fundamental para o trabalho de Nelson Cavaquinho, a ponto de afirmar que o mestre do samba mórbido “foi um dos primeiros a forjar a presença constante do fatal na música brasileira”. Sem dúvidas, Nelson Cavaquinho “cantou a angústia de estar cada vez mais perto do fim”, e foi essa característica que marcou o tom de sua obra. Aos 74 anos de idade, depois de uma intensa vida boêmia em estilo punk, morreu o grande sambista, em 18 de fevereiro de 1986. Causa da morte: enfisema pulmonar.

O que se percebe é que grande parte das canções brasileiras que versam sobre a morte ressaltam o seu aspecto de perda. Ou seja, geralmente são músicas com letras que tratam da perda da pessoa amada com a vinda inexorável da morte. Dorival Caymmi, um dos maiores nomes do cancioneiro popular brasileiro, também tratou do assunto. De certa maneira romanceou a ideia da perda e da morte na música de sugestivo título É Doce Morrer No Mar. Trata-se da história de um pescador que sai em um saveiro para mais um turno de trabalho e sofre um naufrágio, deixando sua jovem noiva em prantos na areia da praia, enquanto os destroços da embarcação retornam solitários do alto mar.

É doce morrer no mar/ Nas ondas verdes do mar (…)/ Ele foi se afogar/ Fez sua cama de noivo/ No colo de Iemanjá”. A beleza da melodia de Caymmi que envolve essa triste história sugere que a dor do trágico pode ser sublimada pelas cores da arte. Certa vez, o nosso bom filósofo Nietzsche disse que era necessário fazer da própria existência uma obra de arte. Ele queria dizer que a tragédia da vida só é suportável por meio da visão estética. Ou seja, a realidade é bela e cruel; isso é um fato visto pela perspectiva humana. Portanto, é preciso absorver nobremente esta existência, fruí-la como ela é – caótica e contraditória.

Não devemos nos iludir. É preciso amar o necessário! Para Nietzsche, a vida sem música seria um erro pois o homem inventa a arte justamente para aliviar o fardo da realidade. A abordagem estética da vida seria a única forma de encarar as coisas como elas de fato são, de maneira afirmativa, sem falsas ilusões (religião e idealismo) e em todas as ações humanas. A religião, preocupada com o além, seria um estágio a ser superado em prol de uma sociedade estética, preocupada com a afirmação da beleza do aqui e agora.

– A Visão Psicodélica da Morte

Penso um pouco diferente do meu grande ídolo Gilberto Gil quando na canção Não Tenho Medo Da Morte disse que embora a morte, em si, não lhe inspirasse medo, ele teria medo mesmo era do ato de morrer. E explica: “Qual a diferença? / Há de perguntar/ É que a morte já é depois/ Que eu deixar de respirar/ Morrer ainda é aqui/ Na vida, no sol, no ar/ Ainda pode haver dor/ Ou vontade de mijar”. Finalmente conclui que tem “medo de morrer, sim (…)/ O derradeiro ato meu/ E eu terei de estar presente”. Percebe-se que nesta música, lançada em 2008, no álbum Banda Larga Cordel, Gil afasta-se um pouco da visão psicodélica que tanto emoldurou suas canções da fase tropicalista. Digo que penso um pouco diferente de Gil porque me aproximo mais da abordagem psicodélica da morte.

Gilberto Gil foi um entusiasta da visão psicodélica que coloriu a arte Pop dos anos 60. Ele teceu elogios de Jimmy Hendrix a Timothy Leary. Adulava as ideias dos grandes expoentes da contracultura da época. Com certeza, Gil leu o livro A Experiência Psicodélica (1964), dos doutores Timothy Leary, Ralph Metzner e Rick Alpert. O livro trata da interpretação de uma literatura sagrada chamada Livro Dos Mortos Tibetanos ou Bardo Thodöl (1326 – 1386). Basicamente, a tese defendida por Leary e seus colegas de Harvard era de que os estados psicodélicos da mente, produzidos pela ingestão de ácido lisérgico, seriam muito semelhantes às descrições de experiências esperadas no momento da morte contidas nas passagens dos antigos textos do Livro Dos Mortos Tibetanos. No caso, o livro de Leary era considerado um manual científico para a execução de experimentos psicodélicos e guia na interpretação esotérica do Bardo Thodöl.

Segundo Timothy Leary, a experiência psicodélica muitas vezes se assemelha a uma experiência de quase morte. Assim como no modelo tibetano, grosso modo, a experiência psicodélica seria constituída por três fases. O primeiro período seria o do Chikhai Bardo, ou da transcendência completa, da dissolução do ego. A segunda fase seria a do Chonyid Bardo, ou o jogo da realidade exterior, de claridade aguda ou de alucinações. Finalmente, o período do Sidpa Bardo, sendo a fase de retorno ao jogo da realidade rotineira do self, ou do ego. Uma das propostas principais do manual de Leary era “recuperar a transcendência do primeiro Bardo (Chikhai Bardo) e evitar a permanência prolongada no período Chonyid Bardo”.

Em várias entrevistas Timothy Leary afirmou que seu manual psicodélico e os outros livros que veio a publicar posteriormente seriam, na verdade, fragmentos de uma mesma obra que aponta para a compreensão da morte e por fim, para a compreensão de como lidar com ela. A primeira lição é de que não devemos ter medo de morrer, ou seja, não temer o ato da morte. Aqui está minha pequena divergência em relação ao grande mestre Gilberto Gil que disse sentir medo do “derradeiro ato meu”.

A visão psicodélica nos ensina que a morte é parte do processo biológico. Algo extremamente natural. Um espetáculo surpreendente, assim como o nascimento. A outra ponta do novelo da existência terrena. A vida e a morte são os dois momentos sacro-mágicos do indivíduo. E portanto, a partir deste ponto emerge a seguinte questão. Sendo o pensamento resultado de um conjunto de forças naturais que atuam através do cérebro, o que acontece a cada consciência após a perda das funções do corpo?

Leary dizia que a morte é um momento ainda mais especial, pois, diferentemente do nascimento, do qual fazemos parte, porém de forma inconsciente; a morte é um fato do qual temos consciência e enquanto estamos vivos podemos refletir sobre ela, a ponto de até mesmo podermos planejar o derradeiro acontecimento. Calma lá! Não estamos aqui falando de suicídio ou da eutanásia, simplesmente. Mas, de que o indivíduo, dentro de certos limites e respeitando certos padrões, pode fazer de sua vida uma grande obra de arte e de sua morte o grand finale. Temos Leary como exemplo. Vejamos. 

– A Morte como o Último Ato do Grande Espetáculo

This is the end/ Beautiful friend/ This is the end/ My only friend/ The end/ Of our elaborate plans, the end/ Of everything that stands, the end/ No safety or surprise, the end”. O rei lagarto, Jim Morrison, proferiu estas palavras com sua banda chamada The Doors, nome extraído de um poema de William Blake que diz: “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito”.

Adouls Huxley também aproveitou o tema para desenvolver o conceito de seu famoso livro The Doors of Perception, em que afirma ser o cérebro humano um filtro de processamento das informações da realidade que nos chegam através dos sentidos, e que se esse filtro fosse removido, toda a informação existente estaria disponível ao ego de uma só vez. Um ser humano não aguentaria tal situação de hipersensibilização e sucumbiria.

Pela perspectiva psicodélica, o fim da vida pode significar o acesso a toda informação disponível nas formas sutis de energia. Em resumo, a morte é o portal para o nirvana. O estado de êxtase divino. Algo muito próximo do que acontece no período do Chikhai Bardo. Neste caso, a pergunta feita alguns parágrafos acima pode ser respondida desta forma: Segundo a visão psicodélica, após a morte nossa consciência se dissolve em uma hiperconsciência. Algo que constitui parte da própria natureza, onde se encontram forças sutis atuando na transmissão de informações infindáveis, criando estados de consciência que pouco ou nada conhecemos, desconectados do que denominamos de ego.

Antes de morrer de câncer, Timothy Leary, já em estado terminal, escreveu o livro Desing For Dying como um projeto para sua morte. Uma forma nada convencional de se tratar o fenômeno do decesso. Seu objetivo era brindar a chegada da Missa Morte com pompas. Tudo deveria ser meticulosamente registrado e transmitido ao vivo. A sua partida deste mundo deveria ser transformada em estudo científico, obra de arte e performance.

Em seus últimos momentos, nem o óxido nitroso (que o ajudara com as terríveis dores) fazia mais efeito. Foi aí que as instruções deixadas por Leary começaram ser seguidas pelos seus colaboradores. Ele recebeu uma elevada dose intravenosa de LSD 25 para depois serem iniciados os procedimentos de liberação da sua consciência. Após o óbito oficial, sua cabeça rapidamente foi separada do corpo para congelamento criogênico. Seu tronco e membros foram cremados e suas cinzas enviadas ao espaço. Tudo foi registrado em filme, notas científicas e transmissão on-line.

– A Preparação para o Ato Derradeiro

Morrer é um processo contínuo pelo qual todos nós estamos passando agora. Estamos morrendo neste exato momento. A cada movimento do ponteiro do relógio nos aproximamos mais e mais de nosso túmulo. Porém, isso não deveria causar aflição ou qualquer tipo de mal estar. Como já disse Epicuro: “a morte não é nada para nós”.

A palavra nada é empregada pelo filósofo grego no sentido de que a morte não deve causar medo, pois a própria sensação de medo é algo que existe apenas no mundo dos sentidos, e o decesso – enquanto fim dos sentidos – também significa o fim de qualquer sofrimento.

Assim como Noel Rosa pede para que em seu funeral não haja “choro e nem vela”, Robert Plant também possui um desejo para esse momento: “In my time of dying, want nobody to mourn”. Os artistas, por serem desbravadores dos limites da própria humanidade, lançam o desafio da mudança de perspectiva em relação a morte. Nos sugerem a quebra de um tabu. Assim, a morte está conosco e precisamos aprender a conviver com ela, e acima de tudo, precisamos aprender a morrer, como nos ensina o Bardo Thodöl.

É interessante lembrar que o movimento hippie dos anos 60 foi muito interessado nos assuntos místicos relacionados a morte. A banda Grateful Dead, por exemplo, embalou vários experimentos coletivos com LSD na época em que a substância era legalizada nos EUA. Era o Verão do Amor e as longas improvisações da banda psicodélica da Califórnia conduziam as vivências lisérgicas, das quais Timothy Leary havia se referido. Grateful Dead significa, na leitura aborígene norte-americana, a libertação dos espíritos da terra, um título muito sugestivo para o projeto musical ambicioso de Jerry Garcia – através da música de uma banda de rock elevar as almas da juventude na preparação do espírito para a partida.

E finalmente a pergunta: qual a vantagem em se preparar para a morte? Ou seja, qual o benefício da visão psicodélica sobre a morte? Bem, podemos dizer que o fato da morte ser um dos principais tabus de nossa sociedade faz com que o tema sempre esteja envolto de mistificações e mistérios, de forma que o medo é constantemente cultivado e mantido no coração das pessoas.

Para Leary, durante toda a trajetória da humanidade fomos programados para aceitarmos aquilo que nos dizem ser a realidade, mas que na verdade não passa de uma elaborada construção social. O medo sempre foi instrumento de opressão. E como estamos falando de visão psicodélica que, em última instância, significa a busca pela a expansão da consciência; é preciso atentar ao fundamental fato de que o medo irracional é o maior impedimento para a evolução humana, tanto pessoal como da espécie.

O medo diminui a inteligência e sua influência leva a imobilidade dos sujeitos, de maneira que o indivíduo tende a não se engajar nas causas que são essenciais para seu próprio desenvolvimento. O medo paralisa a pessoa e prejudica a caminhada da humanidade. Talvez estivemos durante muito tempo de olhos fechados aos reais significados da morte. A perspectiva psicodélica propõem-nos, não só a abertura da visão, mas o aprimoramento da capacidade em ver.

No dia 31 maio de 1996, Timothy Leary finalmente encontrou a Miss Morte. Transmitiu seu derradeiro ato ao vivo pela internet. Suas últimas palavras foram: “Why not?” e “Yeah!”.  Dizia desde a muito tempo que morrer é “a cena final de um glorioso épico”. Ele não escolheu o dia de sua morte por mero capricho, mas quis exercer o mínimo de autonomia perante sua vida – e morte – demonstrando que mesmo diante do inevitável era necessário se manter firme e jamais perder o controle da situação. Afinal, a vida e a morte são os bens maiores do ser humano.

De qualquer forma, cada um de nós lida de maneira diferente com o tema da morte. Fazer da vida uma obra de arte e do derradeiro ato algo de espetacular fica a critério do indivíduo. Afinal, cada um sabe a delícia e o inferno de ser o que se é. Mas, se eu pudesse escolher, ficaria com as palavras de Ataulfo Alves e Paulo Gesta que, embora não soubessem e não quisessem escolher o dia de suas mortes, manifestaram um justo desejo que compactuo: “Eu quero morrer numa batucada de bamba, na cadência bonita do samba”.


Uma Abordagem Psicodélica do Fenômeno da Morte

Por André de Castro Pereira

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