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CD's, Seletores de Frequência

A TransmutAção do Bnegão & os Seletores de Frequência

Depois de ganhar a vida ”Enxugando Gelo” (2003), ajudar os comparsas que curtem o ato de ”Sintoniza Lá” (2012) e colher os frutos que apenas bons anos de estrada conseguem prover, é chegada a hora da ”TransmutAção”. 
Sim meus amigos, depois que o groove saiu do casulo em 2003, a fábrica de beats do Bnegão & Seletores de frequência beirou a alquimia sonora no segundo play. Vários estilos fizeram escala para enriquecer a paleta de vertentes sonoras escolhidas pela banda, o intrumental ficou azeitado demais e o sucesso foi questão de justiça, afinal de contas a qualidade sempre foi cliente mais na fila dos cariocas. 
Só que agora, passados praticamente 3 anos entre ”Sintoniza Lá” e ”TransmutAção” (lançado dia 31 de agosto de 2015), o coletivo chega com um disco ainda mais rico, ácido e que para a alegria da nação, não teve que superar nove anos de break para surgir na pista de pouso dos nossos auriculares. 
O terceiro disco de estúdio do combo comprova algo básico: para se fazer boa música, é necessário algumas horas de som no simulador de voo, e rapaz, o Bnegão planou tanto que a mixagem foi feita num dirigível enquanto os Seletores apenas escolhiam a frequência desejada.

Line Up:
BNegão (vocal)
Pedro Selector (trompete/arranjos de metais)
Fabiano Moreno (guitarra)
Fábio Kalunga (baixo)
Robson Riva (bateria)

Arte: Marcelo Ment

Track List:
”Agô”
”Dias da Serpente”
”No Momento (100%)”
”Mundo Tela”
”Surfin’ Astatke”
”No Amanhecer”
”Fita Amarela”
”Um Tema Para Iemanjá”
”No Ar (Convocação)”
”Giratória”
”Nós (Pontos de Mutação)”

Apresentando um todo complexo com cerca de 40 minutos de trocação na jam, esse disco consegue ser ainda mais rico do que seu antecessor. Com uma mistura classudíssima entre Jazz, Funk, Dub, Gafieira, Surf Music e percussão africana, ”TransmutAção” parece encerrar um capítulo na vida da banda.
O primeiro trabalho apontou todos os erros do sistema em escala global. O segundo analisou os dados com mais perícia para fazer a prova dos 9, já a conclusão, fagulha criativa que fecha a primeira trinca da história dos caras, é a palavra de ordem para os habitantes da terra do 7×1: precisamos mudar. É chegada a hora irmãos: O mantra está ai, é questão de transmutAção.
”Ogô” irmão, essa é a verdade absoluta que condiciona o início dos trabalhos, a palavra que antes de começar o groove com tudo (até o caroço), pede permissão aos elementos que formam e canalizam a energia. Sim, ”Agô”, a faixa de introdução do disco, é uma demonstração de respeito perante todos os vieses filosoficamente sonoros que foram abordados neste trampo.
Depois que o caminho libera a avenida espiritual pelo sinal verde, é hora de apenas ser e crer com as ideias espirituais de ”Dias da Serpente”. Tema que evidencia a receita miscigenada deste disco, demonstrando muito feeling por parte do time de metais e muita visão lírica por parte do Bnegão, o DJ das frequências.
Daí pra frente o baile se inicia com aquele teor etílico que fez o nome dos caras. ”No Momento (100%) entra com mais reflexões e retoma todos os dogmas já citados. A pulsação deste som visa alterar sua percepção, não como um entorpecente, mas sim como um novo tópico de questionamento.
Aloprando os alienados da geração ”tiro selfie, logo existo” com ”Mundo Tela”. Um dos pontos altos do disco na questão letrística e instrumental, apresentando um inspirado Fabiano Moreno e sua transgressora guitarra. 
Depois as palavras entram num coma pensante e quem fala com o ouvinte é o tromepte de Pedro Selector. Reverendo responsável por todos os sublimes arranjos de metais que permeiam o disco e enriquecem a viagem de ”Surfin Astake”, tema que nada mais é do que uma simulação de jam session entre o Surf Music personificado, Dick Dale e a pioneira mistura de percussão etíope e Jazz que caracterizou o mito Mulatu Astatke.
São dezenas de referências. Passagens mais cadenciadas com um groove mais aveludado por parte de Fábio Kalunga, misturando ideias poéticas duranta uma tarde ”No Amanhacer”. Rola até uma licença poética para citar o mestre Noel Rosa com a apropriação de sua clássica composição ”Fita Amarela”, uma vinheta para Iemanjá e a convocação messiânica para o Dub de ”No Ar”.
Mais do que outro bom disco, esse quinteto comprova que música é uma matéria que exige estudos infinitos e que quanto mais influências, mais groove teremos no leque. A batera do Robson Riva nunca perde o passo, Bnegão segue no topo de seu jogo criativo, o baixo está sempre presente, o trompete uiva com a classe da Motown e a guitarra entra sempre livre pra finalizar. 
Contrate uma assenssorista pra virar a bolacha do lado A para o B e vice versa, pois você vai cansar de levantar pra fazer a ”Giratória” começar os ”Nós” do ponto de mutação outra vez. É hora de vagar em busca de um propósito, significado ou sentido. Baixe o disco diretamente da fonte.

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