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A sonoridade nua e crua da Game Over Riverside

Saiu o registro ao vivo do show da Game Over Riverside realizado no dia 15 de junho de 2019 na Bardos Bardos, uma ode ao formato bootleg. 

A Cidade Baixa é outra Salvador. Os cidadebaixenses, extremamente ligados às suas raízes, celebram suas tradições sempre de forma ritualística. E o que há de mais tradicional na cultura da Cidade Baixa que a Lavagem do Bomfin? Não a toa a Game Over Riverside escolheu o dia 16 de janeiro para lançar oficialmente seu terceiro álbum, o registro ao vivo de seu show na Bardos Bardos em junho do ano passado. 

Trata-se de um projeto audacioso, uma vez que revela a natureza da sonoridade da banda em seu estado íntimo, desprovida das roupagens possibilitadas pelos recursos de estúdio. Assim, temos acesso à crueza sonora da banda, colocando o ouvinte diante de uma nova percepção de seu som. Não é o momento presente em que o show aconteceu, nem são as gravações de estúdio das faixas que compuseram o set list do show.  

O formato bootleg tem essa particularidade, não passa pelo cuidadoso processo de produção de um álbum, mesmo dos ao vivo, originalmente era uma espécie de pirataria. Pessoas presentes em shows de suas bandas favoritas gravavam as apresentações e reproduziam no agora vintage formato K7. Apropriado pelas gravadoras e artistas, o bootleg se tornou um novo formato, imbuído de um caráter desafiador, uma vez que despe a sonoridade da banda de toda minúcia própria do processo de produção de um álbum.

Nesse sentido, em Game Over Riverside Live (2020), somos lançados a uma realidade sonora desconhecida, causando forte impressão acerca da potência sonora da banda. Podemos travar contato, mesmo que indiretamente, com i clima gerado pelo show, bem como o envolvimento do público com os membros da banda através das músicas. Preservar a sonoridade tal qual foi captada, possibilita ao ouvinte essa experiência, de sentir a energia do ambiente. Esse efeito é um elemento a mais, favorável, claro, a esse tipo de registro.

O entrosamento da banda evidenciado ao longo do álbum, ajuda a oferecer tal experiência ao ouvinte. Há momentos espontâneos, criados pelas condições do instante, porém o resultado do longo tempo tocando juntos se apresenta como a base necessária para que as inspirações momentâneas encontrem o terrento propício ao seu surgimento.

Falando em espontaneidade, a participação do Honker Sputter (também conhecido como Rodrigo Chagas, graças aos seus pais e também como Bubute, graças aos amigos mais próximos) em Deep Waters, quando compartilhou os vocais com Sérgio Morais, certamente é um desses momentos. Aí certamente o recurso visual fez falta, uma vez que as performances de Sputter ao vivo são catárticas. Outra participação de valor ficou por conta da cantora Suzy Almeida, ex membro da Invena, que atacou o microfone furiosamente em Me And My Band.

A obra O Navio dos Loucos, do pintor e gravurista renascentista Hieronymus Bosh foi escolhida para ornar a capa do álbum devido sua representação caótica da realidade. Nesse caso, toda vertiginosa experiência presente num show de rock, recheado de acontecimentos inusitados e excitação dos instintos através da música. 

Muitas foram as novidades apresentadas nesse show da GOR. Entre elas a nova formação em quarteto da banda, após a saída do guitarrista John-John Oliveira, exigindo que os membros remanescentes lidassem com a realidade de contar com uma guitarra a menos durante a execução das músicas. O impacto pode ser notado, aos ouvintes mais íntimos da GOR, embora não comprometa a identidade sonora da banda. É certo que se apresenta um novo desafio aos que permaneceram, pois exige pensar sua nova condição … bom, ou simplesmente ligar o foda-se e seguir dentro dessa nova conjuntura esperando os desdobramentos espontâneos desse acontecimento. 

A segunda novidade é a presença no set list de uma faixa inédia. If, já pode ser considerada o marco entre as duas fases da banda, já que não há registros oficiais dela sendo executada no antigo formato de quinteto. Música de pegada blues, cria um clima sombrio, quase nos lançado ao completo pessimismo. 

O álbum saiu apenas no formato virtual até o momento, podendo ser ouvido no bandcamp da banda (clique aqui). Haverá lançamento em formato físico pelos selos SoteroRec OCADISCOS, portanto, fiquem ligados. Existe a promessa da banda de lançar novos registros ao vivo já que o ano de 2019, embora politicamente sombrio para todos nós, foi profícuo musicalmente para a GOR que pôde realizar um bom número de shows, devidamente registrados, acumulando um bom material para futuros lançamentos. 

Aqui no Oganpazan tem mais matérias da Game Over Riverside. Confira as resenhas do Ep Game Over Riverside (2016) e Empity (2017)

 

Game Over Riverside Live

 

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