Esquentando as turbinas para o seu primeiro disco, A Rua Se Conhece manda avisar a todos e todas: Se Passe Não Viu que a rua é barril.
Se for verdade que periferia é periferia em qualquer lugar e só basta observar, o bairro soteropolitano do São Caetano é uma espécie de Capão Redondo ou Ceilândia quando falamos de rap.
É de lá que saiu um dos maiores grupos do rap baiano, o Afrogueto, que alcançou inclusive projeção nacional. É nesse bairro que moram e surgem muitos artistas de renome no rap da nossa cidade, que surgem e resistem com a mesma intensidade em que a ausência do estado se faz “presente”.
A rapa do grupo A Rua Se Conhece é um desses exemplos e certamente uma das maiores expressões atuais do hip-hop de nossa city. Sim, não apenas do rap, mas do hip-hop! Formado em 2010 a partir de vivências e lutas no coletivo São Caetano Resistência (produção e propagação militante do 5º elemento), hoje o grupo conta com: Bruno Suspeito, Gringo Mc, Baga Mc, Filó, Gabi e Dj Dudread.
Essa semana eles lançaram um excelente clipe da música Se Passe Não Viu (2016), todo gravado pelo bairro de suas origens, vivências e lutas alertando para o barril de pólvora que é o seu cotidiano.
A mensagem propaga a contundência costumeira do grupo, chamando a atenção para as armadilhas montadas pelo sistema que visam o enfraquecimento e a eliminação de nosso povo negro e periférico. Como dito acima, gestados através de forte militância no bairro e levando suas mensagens de união e enfretamento do sistema pela cidade toda, A Rua Se Conhece ainda não conta com discos gravados nestes cinco anos de caminhada.
No entanto, pode-se perceber toda a qualidade poética e musical que acumularam ao longo desse período de atuação.
Baga Mc e Bruno Suspeito são os mestres de cerimônias a cantar em flows rápidos e lotados de ideias de resistência neste clipe dirigido por Denis Pinina. Direção esta que privilegia os planos abertos e em sequência, hora revelando os labirintos periféricos onde cada linha vista do alto ou a acumulação de casas desordenadamente construídas em morros, nos leva a perceber uma visão geográfica que comunga com o social.
E é neste cenário que é preciso não se passar, pegar a visão de todos os “caminhos” que são traçados de fora para que possamos ser suprimidos pelo estado racista e burguês.
Qualidade estética presente no clipe que consegue aliar letra, música e visões, como por exemplo, nas cenas ondem aparecem grupos de capoeira, intervenções em escolas pela cultura hip-hop, iniciativas educacionais que visam resgatar e possibilitar aos nossos jovens outras perspectivas de vida.
Em processo de pré-produção do seu primeiro disco, A Rua Se Conhece merece ser escutado e visto, para que nos preparemos para essa bordoada que com certeza será o seu disco de estreia.
Sinta a pressão e não se esqueça: se passe não viu!
Você pode assistir o videoclipe clicando neste link.