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A Música Instrumental e as Sensações

Uma reflexão à cerca do misterioso poder que a música instrumental possui de nos despertar as mais profundas sensações.  

Por que as músicas puramente instrumentais são capazes de transmitir sentimentos, emoções, e até prazer? O que nos leva a imaginar que determinada nota musical formando uma harmonia quer transmitir certa ideia? Nietzsche, em Humano, Demasiado Humano, descreve uma linha evolutiva da linguagem e da comunicação:

“(…) assim que o homem se entendia por gestos pôde por seu turno surgir uma simbólica dos gestos: quero dizer que se podia fazer-se entender por meio de uma linguagem de sons, desde que se produzisse por primeiro o som e o gesto (ao qual se acrescia como símbolo) e, mais tarde, somente o som”.

Ou seja, o homem começou a dar significados e símbolos aos sons, significados esses que tinham como valor, sentimentos e emoções, esse processo da linguagem mais tarde serviu também para a história da música.

Tanto a linguagem quanto a música criou diversos sons com significados, o que diferencia uma da outra é a sua forma. Não tem como afirmar que a música é objetiva tal qual a linguagem, a música é subjetiva, misteriosa; a música evolui, criou e ainda cria a suas diversas formas e padrões de linguagem (“em busca de uma batida perfeita”) para expressar algo que é parte de um processo histórico.

Ainda segundo Nietzsche:

“(…) nossos ouvidos se tornaram sempre mais intelectuais, graças ao extraordinário exercício do intelecto por meio do desenvolvimento artístico da nova música”.

Através disso, podemos chegar a uma resposta a pergunta – Nietzsche mais uma vez:

“(…) quanto mais os olhos e os ouvidos se tornam capazes de pensamento, tanto mais se aproximam dos limites em que se tornam imateriais: o prazer se instala no cérebro, os próprios órgãos dos sentidos se tornam embotados e fracos, o simbólico ocupa cada vez mais o lugar do real”.

“O símbolo ocupa o lugar do real”, na música, os sons, as notas, são carregados de simbologia, de sentimentos, de emoções – tudo criação da nossa imaginação -, carrega consigo toda uma carga emocional do artista, as harmonias das notas devem seguir algumas regras primeiramente, depois o artista com sua imaginação consegue criar o que se pensa e o que se sente. A linguagem musical tal como a matemática, é universal.

Os ouvintes muitas vezes não conseguem formar uma ideia a respeito de uma música, mas as sentem, sabem do que se trata, é uma linguagem que ainda não foi desenvolvida objetivamente. A imaginação juntamente com o sistema sensorial transformam as notas em histórias, em emoções, é algo totalmente íntimo e pessoal, por isso as variações de gostos. O prazer depende do conhecimento.

Muito se fala da superioridade da música instrumental em relação à música cantada. Acredito que aqueles que defendem essa ideia, partem justamente da ideia de que, para se ouvir as músicas instrumentais e sentir prazer, é necessário esse trabalho cognitivo, parte da lógica de que a música como a arte em si, tem que ter certa dificuldade para compreensão, que é através desse processo mental alquímico que se consegue sentir um prazer de nível superior, uma quinta-essência.

Não quero dizer com isso que a música instrumental seja superior. Seria tolice e injusto essa constatação. Dentro da história da arte sempre houve – e acredito que ainda é tema para muita discussão – a ideia de superioridade, inferioridade e mediano.

Gosto de pensar que tudo o que o homem e a humanidade criam artisticamente – funk, rap, etc… independente de rotulações são cultura e arte, e dentro dessas criações existem lapidadores de diamantes, que com o seu trabalho, seu sentimento, sua originalidade, e principalmente, honestidade, criam o que há de mais cristalino no ser: a arte.

Por: Gustavo Andrade Lantyer

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