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A maior história de amor do rock

Hoje é dia dos namorados e para comemorar escolhemos homenagear o casal que vivenciou a maior história de amor da história do rock. E não, não me refiro a Sid e Nancy!

O punk rock é o resultado da soma dos efeitos colaterais de uma sociedade que exige de seus indivíduos a constante emissão de uma imagem de sucesso, de fazer parte de uma família feliz, de ter alto poder aquisitivo, de possuir uma moral cristã impecável. Esses efeitos colaterais geraram jovens inquietos, deslocados em meio à sociedade, à família, à moral.

Jovens que ousaram ser aquilo que desejavam ser, rejeitando o caráter pré fabricado que seus pais, seus vizinhos, colegas de escola, professores e governantes lhes impunham. A rebeldia lhes rendeu a sarjeta, o apedrejamento moral, a coerção social com toda a sua violência. Mas a sarjeta era imensa e nela havia espaço suficiente para abrigar todos os ratos que pularam fora do navio. 

Lá nasceram os Ramones, os Stooges, os Velvet Underground, os New York Dolls, os Talking Heads, os Dead Boys… Contudo haviam aqueles que não conseguiram achar seu lugar nem mesmo no ambiente da sarjeta. Não era escuro, sujo, violento e sensual o bastante! Tiveram que descer pelo buraco do bueiro que nem enxurrada e sair boiando pela água do esgoto. A enxurrada carregou pelo buraco do bueiro Erick Lee Purkhiser e  Kristy Marlana Wallace! Como o esgoto é um lugar inóspito, havia pouca gente por lá. Estarem lá bastou para que se conhecessem e se apaixonassem.

Expostos a toda aquela sopa chorumenta, resultado de tudo que a sociedade havia mandado pelo ralo, Erick se tornou Lux Interior, Krist Poison Ivy. Juntos cultivaram não apenas o amor um pelo outro, também nutriram o amor à música, aos filmes de terror B, e a todo universo do submundo. Consolidaram tudo isso criando uma banda chamada THE CRAMPS. Começara ali a maior história de amor do rock. Nenhum casal foi tão fundo na experiencia da relação a dois e nenhuma banda foi tão fundo no submundo quanto os CRAMPS! 

Poison Ivy e Lux Interior me fazem acreditar piamente na possibilidade de haver pessoas que são metades de um mesmo todo, almas gêmeas pra valer. Esqueçam Romeu e Julieta, isso é romance água com açúcar perto do casal do Cramps. Compartilhavam gostos em comum. Era compatibilidade de 100%, se bobear até tinham a mesma sequencia de DNA. Ambos idolatravam Elvis, curtiam filmes de terror classe B, adoravam sexo e todas as possibilidades de realizá-lo. Isso tudo estava além da música do Cramps, estava presente nas roupas, na decoração da casa, no modo de falar, nos cortes de cabelo! Autenticidade em doses cavalares meus amigos! Estavam sempre juntos, nunca se entediaram da rotina a dois. Rotina essa que envolvia festas, shows, gravações de entrevistas, clipes, todo o pacote que vem junto com uma banda de rock.

Ao criarem o Cramps criaram um som até então inexistente. Era como se o Elvis tivesse feito uma suruba com Iggy Pop e os Ramones e gerado o Cramps. Devido sua clara influência da surf music e do rockabilly só que mais sujo, intenso e frenético, seu estilo musical passou a se chamar psychobilly. Músicos tecnicamente limitados conseguiram usar sua criatividade e paixão para vencer essa limitação e revolucionar o rock. Muitas bandas seguiram as pegadas deixadas pelos Cramps, o psychobilly ganhou força e se consolidou como mais um subgênero do rock . 

Clipes antológicos dos Cramps como o de Like a Bad Girl Should dão uma ideia de como o amor fluía entre quatro paredes. Era amor regrado a muito suor, com muito couro, salto agulha e fetichismo saindo pelo ladrão! No palco não era diferente. Lux lançava sua luz fosca sobre todos vestindo apenas uma tanga e um salto alto enquanto enfiava o microfone na boca e fazia ruídos animalescos. A seu lado Poison Ivy marretando alucinadamente sua Gretsch e olhando a performance de seu homem como se já o tivesse visto fazendo coisas mais exóticas. Confiram nesta apresentação do Cramps. 

Integrantes entraram e saíram da banda desde sua fundação em 1976, mas o casal Lux/Poison sempre estiveram lá. Foram trinta e sete anos juntos, dentro e fora dos palcos até a morte de Lux Interior em 2009 em decorrência de problemas cardíacos. A morte de Lux devastou Poison Ivy. Amigos tentaram ligar para a guitarrista afim de prestar suas homenagens, mas Ivy havia desaparecido. Nem mesmo o empresário da banda sabia do seu paradeiro. Poison Ivy sumiu, ninguém sabe onde está, ninguém a viu. É como se tivesse ido junto com seu amado Lux. 

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