Oganpazan
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A Força Feminina do Jazz 3: Cecilia Wennerström

Cecilia Wennerström vive a música desde os primeiros anos de vida e construiu uma trajetória magnífica nas sendas do jazz. Nessa entrevista conversamos sobre seu primeiro contato com a música, os primeiros anos de estudo do jazz, as primeiras bandas e a consolidação da super banda de jazz Salamander.

Cecilia Wennerström has lived the music since the earliest years of life and has built a magnificent trajectory in the paths of jazz. In this interview we talked about his first contact with music, the first years of jazz studies, the first bands and the consolidation of the super jazz band Salamander.

*The English version of this article is found after the Portuguese text.

Foi no mínimo inusitado o modo como tive o primeiro contato com a música da Cecília. Baixei no soulseek a edição de julho de 2017, se não me engano, da revista Down Beat e nela havia a resenha de um livro lançado recentemente sobre um festival de jazz feminino ocorrido em Kansas City entre os anos de 1978 e 1985.

O livro intitulado Changing the Tune: The Kasas City Women´s Jazz Festival, escrito por Carolyn Glenn Brewer chamou minha atenção, pois eu havia iniciado uma pesquisa sobre jazzistas mulheres para a coluna que pretendia iniciar aqui no Oganpazan sob o nome de A Força Feminina do Jazz. Corri para o Youtube e digitei o nome do festival na busca.

Pra minha surpresa havia apenas um vídeo, a apresentação de uma banda chamada Salamander. Abri o soulseek em busca de algo da banda e pela primeira vez em mais de uma década o soulseek me deixou na mão.  Passei a procurar via Google e foi aí que cheguei neste site aqui. Havia tudo que precisava saber sobre a Salamander, inclusive algumas faixas disponíveis. Fui arrebatado pelo som da Salamander e foi aí que me interessei a conhecer mais a fundo a banda. Não havia nenhum dos três álbuns da banda para download ou nas plataformas de streaming para ouvir. 

Passei a procurar informações sobre as integrantes da banda e foi aí que cheguei ao nome de Cecília Wennerström. Lendo o site entendi que Cecília o matinha, que ela se preocupou e chamou para si a responsabilidade de manter vivo o nome da banda. Rapidamente passei a admirar a Cecília, pois ali se via uma devoção pela música, uma pessoa que encarava existência e música como partes de um mesmo todo. 

A partir disso veio um insight: “E se eu entrasse em contato com ela e solicitasse mais informações sobre a banda?”. Fiquei alguns dias pensando sobre aquilo e acabei tendo uma ideia ainda mais ousada: “E se eu pedisse à Cecília uma entrevista?”. Falei com algumas pessoas sobre o que elas achavam de eu tentar entrar em contato com a Cecília e todos apoiaram e incentivaram que eu levasse a ideia adiante. 

Sendo uma pessoa extremamente tímida, fiquei relutante alguns dias, pois estava sem saber como iniciar o contato com a Cecília. Tomei umas duas doses de cachaça e a timidez diminuiu o suficiente para que tivesse coragem suficiente de enviar uma mensagem via facebook. Fiquei surpreso com a recepção, isso porque eu considerava estar falando com alguém que está para o jazz da Suécia assim como o Vitor Assis Brasil está para o jazz do Brasil. 

Cecília foi extremamente receptiva e aceitou conceder uma entrevista para o Oganpazan. Fiquei ainda mais encantado pela figura da Cecília na medida que ia lendo suas respostas. O envolvimento com a música travado desde a infância e o processo de amadurecimento musical, acompanhando o amadurecimento biológico e moral evidenciam a síntese dessas três esferas na pessoa de Cecília Wennerström. 

Nessa primeira parte da entrevista que ainda está em desenvolvimento com a saxofonista, você entrará em contato com os primeiros anos de sua carreira, os primeiros passos em direção ao jazz, os encontros que levaram a integrar as primeiras bandas, as primeiras influências até chegar à formação de sua própria banda de jazz a Salamander e o sucesso internacional nos palcos de grandes festivais de jazz da Europa e USA. 

Espero que você amante do jazz, assim como eu, se emocione ao conhecer a história, os anseios e amor de Cecília Wennerström pela música. Estamos diante de uma oportunidade singular de conhecer os detalhes da formação de alguém que dedica sua existência à música e está entre os grandes nomes da música! Obrigado Cecília por compartilhar conosco a beleza, emoção e intensidade de sua história que se confunde com a própria música. 

Carlim (Oganpazan): Gostaria de começar nossa conversa agradecendo por aceitar o convite para esta entrevista. Sentimo-nos honrados com a oportunidade de conhecer mais sobre a carreira de um grande nome do jazz! Bom Cecília, o que despertou o seu interesse pela música?

Cecilia Wennerström: Nasci em 1947 numa casa onde era natural cantar e tocar piano.Frequentei uma escola de música dos 10 aos 13 anos de idade. Assim, recebi uma boa educação musical durante a minha adolescência, tocando bastante em casa sozinha. Estudando a música de Jelly Roll Morton, tocando standards da música americana de livros e coisas do gênero. Mas o que despertou meu interesse pela música foi provavelmente a música pop, tão recente e nova nos anos 50 e 60. No entanto, alguns anos depois, meu interesse em cantar e tocar música pop levou-me ao primeiro contato com músicos de jazz. Foi quando surgiu um interesse pela música mais sofisticada e complexa. Billy Holiday, Jimmy Smith, Sara Vaughn são os nomes que mais rapidamente me veem à cabeça. Neste momento (por volta dos meus 20 anos) estava cantando e tocando piano. A ideia de que eu deveria tocar saxofone ainda não passara pela minha cabeça.

Carlim (Oganpazan): De que maneira ter o primeiro contato com a música através do canto e do piano influenciou  sua carreira como saxofonista?

Cecilia Wennerström: No início dos anos 70 passei a frequentar jamsessions, nas quais se tocava jazz tradicional, em particular o dixeland. Eu descobri que se você for uma cantora você sempre tem que esperar bastante até que os instrumentos de metal (saxofones, trompetes, trombones, etc) terminassem seus solos. Tocar um instrumento de metal pareceu ser muito mais interessante a partir dali. Rapidamente meu gosto passou a seguir uma direção moderna rumo a cantoras como Billie Holiday, Sara Vaughn, Peggy Lee dentre outras. Eu possuía uma lista de 100 canções que conhecia e gostava do fundo do meu coração. Comecei a ir aos clubes de jazz em Malone, Copenhagen e Stockholm e perguntar às bandas se eu poderia participar de uma ou duas músicas. Eles frequentemente diziam-me sim e eu nunca exigia que as músicas fossem tocadas numa tonalidade que não fosse a usual. Eu acho que este período me influenciou bastante para me tornar uma saxofonista, desde então eu passei a ouvir muitos jazz standards e ter mais conhecimento sobre harmonia devido ao fato de ter tocado as músicas que gosto no piano.

Carlim (Oganpazan): O que despertou seu interesse pelo saxofone?

Cecilia Wennerström: Dentre todos os músicos, que tocavam algum instrumento de sopro, ouvidos por mim quando frequentava os clubes de jazz, com os quais cantava algumas vezes, eu gostava mais dos saxofonistas. Pensava comigo mesma: “Como eles fazem isso? ”, ”Como eles sabem quais botões apertar? ” Eu era ignorante, aliás, como qualquer pessoa que tinha apenas tocado piano por si mesma em casa. Certo dia aconteceu de eu conversar com outro músico sobre isso e ele disse que os grandes músicos alcançam essa condição porque eles dominam seu instrumento, o que ocorre através da prática. Isso foi uma novidade para mim … então uma luz se ascendeu dentro de mim: eles praticam, Eu preciso praticar também. Entende? Eu percebi ali que havia tocado até então apenas por diversão

e eu poderia ter tocado uma peça no piano centenas de vezes, uma vez e outra,até que a soubesse bem. Porém, eu nunca havia pensado nisso em termos mais sério, como uma estudante. O próximo pensamento que me veio à mente foi: “Se eu praticar, eu também posso tocar saxofone”. Minha chance veio quando as universidades reais de música abriram vagas para pessoas como eu que já conheciam alguma coisa sobre música, particularmente em jazz, rock e estilos pop. Eu fui admitida como aluna em Malmoe em 1974 e eu sabia que esta foi a chance que tive para me tornar saxofonista. Nessa época eu conhecia pouco a respeito da história do jazz e dos grandes saxofonistas. Eu apenas queria ser como os saxofonistas descolados que eu ouvia nos clubes. Um deles é HelgeAlbihn que é o músico mais conhecido da Suécia e que veio a ser meu primeiro professor.

The band Albatross was a very good jazz group with leader Ewan Svensson, still a formidable and active guitarist. How Salamander took all Cecilia´s time, unfortunately, so she had to quit.

Carlim (Oganpazan): Quando e como foi sua primeira apresentação como saxofonista?

Cecilia Wennerström: Na verdade, acho que foi em uma banda baile muito comum, talvez em 1975, tocando música de dança, o que na Suécia significa uma mistura entre música pop, country e western, ABBA e similares. Aprendi muito nessa banda. Eu só tinha começado a tocar saxofone há um ano, por isso foi um modo de praticar. Mas se falarmos de jazz pra valer, é difícil responder.

O professor de saxofone e o conhecido músico Gunnar Lindgren sentaram-se no júri. Ele notou minha situação difícil, levantou-se de seu lugar e foi até a percussão e bateu um cimbal com quatro batidas determinadas para cada compassor, mostrando onde estava o beat. Essas batidas no cymbal provavelmente mudaram minha vida. Agora eu poderia tocar minha peça, e assim fui admitida. Agora me mudei de Malmoe para Goeteborg e conheci a experiente pianista de free jazz Susanna Lindeborg (com quem, nos meus sonhos, já formava uma banda) e a baterista criativa recém-formada Vanja Holm. Isso tinha que ser uma banda, pensei, e seria uma banda em 1980, quando logo após Stig Boström se juntou ao contrabaixo e Katarina Karlsson foi adicionada à banda como saxofonista alto. O quinteto foi batizado como Salamander.

Carlim (Oganpazan): Esse foi o início da Salamander … a partir disso gostaria de saber como foram os primeiros tempos do grupo e o que levou vocês a participarem do K.C. Women´s Jazz Festival?

Cecilia Wennerström: Eu li sobre o K.C Women´s Jazz Festival em alguma revista, talvez na ”Orkesterjournalen”, que é uma revista de jazz aqui da Suécia. Além disso, um grupo aqui da Suécia chamado Tintomara, que era liderado pela flautista KatarinaFritzén, havia se apresentado no K.C. Pensamos, “Se eles puderam, nós podemos também”. A Salamander começou a ensaiar com o o objetivo de fazer uma demotape e enviar a clubes e festivais, incluindo o K. C, claro. Meu professor de saxofone, Ove Johansson, tocou nossa demotape para outros estudantes numa apresentação às escuras (ou seja, os estudantes não sabiam quem eram os músicos que estavam tocando). Eles chutaram que se tratava de alguma coisa vinda de Nova York e isto divertiu muito meu professor. Ensaiávamosmuitas horas por semana, e minha essência musical era clara: tinha um pouco de Art Ensemble ofChicago,  um pouco de European Cabaret Jazz (Mike Westbrook), um pouco de Anthony Braxton, um pouco de Albert Ayler, um pouco de Ornette Coleman … e claro,  Carla Bley, que foi muito importante, desde que se tornou uma das poucas mulheres a ser reconhecida musicalmente. E eu amo Gato Barbieri tocando! Rapidamente tínhamos a fita cassete, um texto digitado em uma folha de papel (num computador, já eram os anos 80), uma fotografia pequena e barata que foi tirada numa pose típica dos anos 70 na Suécia: sem maquiagem, tampouco roupas apropriadas. Para enviar esse material, nada de internet, claro, apenas cartas. Nós não tínhamos nenhuma grana, eu usei meu trabalho de carteira no verão para sobreviver economicamente. Nisso conseguimos nossa apresentação no K.C. e nós pudemos  solicitar ajuda financeira do Fundo Cultural da Suécia e partimos para o festival. 

Cecilia among members of the Carolines dance band in 1976. This was one of the first bands Cecilia was part of.

Carlim (Oganpazan): Qual o impacto que tocar num festival de jazz reservado às mulheres teve sobre você como jazzista e mulher?

Cecilia Wennerström: Antes de tudo, eu provavelmente não iria tocar em qualquer evento que fosse apenas para mulheres. Não gosto de segregação. Festivais mistos que promovem mulheres musicistas e não fazem muita coisa sobre isso, tudo bem. Mas a minha visão básica sobre os festivais femininos é que eles são um beco sem saída para as mulheres a longo prazo.

Agora, a situação em 1981 era muito diferente da situação em 2017. Poucas mulheres na Suécia em1981 se aprofundaram em aprender a tocar instrumentos de metal da maneira que eu fiz. Atualmente na Suécia há muitas musicistas de jazz, também em instrumentos como a bateria e o baixo. Não deve haver necessidade de encorajamento feminino especial hoje. No entanto, os clubes de jazz suecos hoje são realmente obrigados a contar quantas mulheres empregam, se querem apoio econômico federal ou nacional, e essa é uma ideia que eu não suporto. Eu não gosto de sistemas de quotas, eu sou completamente pela meritocracia.

Mas as mulheres do jazz são realmente julgadas pelo mérito? O jazz é muito social: a atitude, o talento social e outros, são muito importantes, e os homens tendem a escolher seus amigos se puderem escolher … Bem, vou contar uma história sueca de outro mundo da música, o mundo da orquestra sinfônica:

Em meados dos anos de 1960, um trompetista americano, Maurice Koffman, era esperado no aeroporto de Estocolmo. Viram uma mulher transportando o case do trompete e julgaram se tratar de sua esposa. Ao menos foi isso que a delegação responsável por recepcioná-lo pensou. Porém, o trompetista, Maurice, era uma mulher, a primeira na Orquestra Sinfônica da Rádio Sueca. Ela não permaneceu por muito tempo, porque os colegas do sexo masculino eram uns idiotas e se comportavam mal. Então ela saiu. Isso levou algumas pessoas importantes a pensar: “Uma mulher realmente tocou de forma diferente?” Então eles começaram a montar uma tela durante as audições, de modo que o júri não podia ver quem estava tocando. Assim, obviamente, ninguém no júri podia apontar alguma diferença. E assim segue-se até hoje um terço crescente das orquestras sinfônicas suecas são femininas. E as audições sempre são feitas com telas que escondem o músico que está tocando.

Mas a música de jazz não funciona desse jeito. Jazz é uma comunidade freelancer e você não é contratado com um salário mensal. Você deve se promover, tanto para os arranjadores quanto para a comunidade musical. O processo para que os homens aceitem mulheres é, portanto, mais lento no mundo do jazz. No curto prazo, um festival feminino ou uma grande banda feminina poderia ajudar o processo.

Quanto a mim mesmo: Salamander era uma banda onde eu poderia implementar minhas idéias musicais. A parte de gênero não era importante, mesmo que criasse oportunidades de trabalho. Salamander era um projeto musical, não um projeto feminino. As versões posteriores da Salamander foram de fato misturadas. Ouvi a pergunta “Por que uma banda só de mulheres?” muitas vezes, e minha resposta é: por que não? Há, afinal, uma grande quantidade de bandas formada apenas por homens.

Salamander 1980: Vanja Holm, Susanna Lindeborg, Stig Boström, Katarina Karlsson, Cecilia Wennerström Foto: Anders Jirås

Carlim (Oganpazan):Como foram os anos na Salamander? 

Cecilia Wennerström: O começo foi bastante eufórico. Ensaiamos muito durante 1979. Os ensaios foram muito longos e cansativos, com muitas discussões sobre como isso e aquilo deveria ser tocado. Eu acho que todos nós tivemos a sensação de que essa banda seria algo especial. Durante 1980 tivemos muitos shows na Suécia, realizando programas de rádio, excursionando por todo o país e tendo muitos artigos na imprensa. Também toquei em outras bandas e estudei simultaneamente na Academia de Música em Göteborg. Lembro-me da situação de penúria gerada pela falta constante de dinheiro. Por outro lado, era um estilo de vida no qual não se preocupava muito com dinheiro e outras coisas mundanas. Tocávamos, tocávamos e tocávamos. Eu trabalhei como carteira durante os feriados e períodos de Natal, carregando cartas e revistas.

Em 1981 fomos convidados para o festival de jazz Women’s Jazz Festival in Kansas City.  Este foi um evento maravilhoso. O hotel em que nos hospedamos foi um luxo além da realidade. O concerto foi incrivelmente divertido de tocar. Além disso, gostamos muito dos outros músicos, especialmente uma banda afro-americana chamada Sojourner que soou um pouco como Art Ensemble of Chicago, a quem adoramos muito. Um detalhe divertido da Kansas City é a questão da roupa. Eu levei comigo um par de sapatos, sapatos de trabalho negros e firmes que, na minha opinião, eram adequados para todas as ocasiões. Para isso eu usava um par de jeans azul claro. Eu acho que emprestei uma camisa de nossa baterista Vanja Holm. Então conseguimos um crítico para nossa maneira de nos vestir. As fotos desta época são muito típicas dos anos 70 na Suécia: sem maquiagem, t-shirt, jeans e sapatos. Nada chique. Parecer pobre e desgastado, este era o estilo do músico de jazz na Suécia, e na verdade os músicos eram muitas vezes muito pobres, não apenas olhando para ele.

Este ano, 1981, você ainda podia encontrar os verdadeiros mestres do jazz em N.Y. Combinamos nossa visita americana com uma semana em Nova York, onde fomos a clubes e ouvimos Joe Henderson, Mcoy Tyner e outros gigantes. Completamente fantástico.

Então, 1981 foi um ano maravilhoso: a Salamander tocou com sucesso no Northsea Jazz Festival e depois no Jazzfest Berlin, e sempre houve algo novo. Nós gostamos de uma maneira silenciosa de viajar juntos. Especialmente os cafés alemães com pastelaria sobredimensionada eram populares.

Um problema crescente era que Susanna Lindeborg simplesmente tinha muito a ver com seu próprio grupo Mwendo Dawa, cuja popularidade aumentou durante o mesmo período. Ela permaneceu no Salamander durante 1982, e o Salamander como quarteto gravou um LP que ainda considero o melhor da banda: ”In the darkest month” “No mês mais sombrio” (Dragon Records DRLP 45). Mas a mão esquerda de Susanna ficou inflamada devido a tantas turnês e de tanto tocar, e nós realmente fizemos uma turnê alemã, onde ela só tocou com a mão direita e o cotovelo esquerdo … Ela tinha que escolher e, claro, ela escolheu Mwendo Dawa, onde ela era a líder junto com o marido Ove Johansson. Então ela deixou a Salamander em 1983. Logo depois, nosso baixista Stig Boström simplesmente desapareceu e foi para o exterior por diferentes motivos pessoais. A saxofonista alto Katarina Karlsson já havia deixado a banda para seguir uma carreira de cantora, a voz havia sido seu primeiro instrumento.

Here Salamander performs at the famous Northsea jazz festival. The record of this show resulted in the first album of the band Live at Northsea Jazz Festival (Dragon DRLP 31 1981). Photo: Gunnar Holmberg

Os seguintes anos foram, naturalmente, muito mais difíceis, mas os pedidos de Salamandra continuaram a entrar e a banda ainda visitou bastante, comigo em canas e VanjaHolm na bateria. Utilizamos muitos músicos diferentes em baixo / piano ou baixo / guitarra até surgir um trio relativamente estável, com o alemão Peter Sonntag em baixo elétrico. Minha memória mais importante deste período de trio é uma turnê em DDR alguns anos antes da parede cair. É uma experiência que mudou minhas visões básicas de forma profunda. Eu não acreditava o que a imprensa “burguesa” falava sobre DDR, mas agora eu podia ver com meus próprios olhos que cada palavra era verdadeira. No entanto, a cooperação com Peter Sonntag resultou em duas gravações, e uma delas foi lançada na Suécia no Dragon Records em 1985.

Após o período do trio, Salamandra era mais ou menos um grupo inexistente, mesmo que Vanja Holm e eu colocássemos a banda juntas de vez em quando para projetos ocasionais. Em 1991, uma versão de quinteto feminino de Salamandra tocou no Jazz & Blues Festival, Haparanda no norte da Suécia e este foi o último show do grupo.

 ***

It was at least unusual how I had the first contact with Cecilia’s music. I downloaded using soulseek the July 2017 edition of Down Beat magazine, and I reviewed a book recently released on a women’s jazz festival accomplished in Kansas City between 1978 and 1985. 

The book entitled Changing the Tune: The Kasas City Women’s Jazz Festival, written by Carolyn Glenn Brewer, caught my attention because I had started a search of jazz women for the column I wanted to start here at Oganpazan under the name of The Female Force of Jazz. I went quickly to Youtube and typed the name of the festival on the search.

 To my surprise there was only one video, the presentation of a band called Salamander. I opened the soulseek in search of something of the band and for the first time in more than a decade the soulseek left me no results. I started searching via Google and that’s where I got here on this site. There was everything he needed to know about Salamander, including some tracks available. I was caught up in the sound of Salamander and it was there that I became interested to know more about the band. There were none of the band’s three albums to download or streaming to listen.

 I started looking for information about the members of the band and that’s when I got to the name of Cecília Wennerström. Reading the site I understood that Cecilia maintained that website and that she had assumed the responsibility to keep alive the name of the band. I quickly began to admire Cecilia, for there was a devotion to music, a person who considered existence and music as parts of the same whole. 

From that came an insight: “What if I contacted her and asked for more information about the band?” I spent a few days thinking about it and ended up with an even bolder idea: “What if I asked Cecilia for an interview?” I talked to some people about what they thought of me trying to get in touch with Cecilia, and they all supported and encouraged me to take the idea further. 

Being an extremely timid person, I was reluctant for a few days, because I did not know how to begin contact with Cecilia. I drank a couple of doses of cachaça and the shyness slowed down enough that I had enough courage to send a message via facebook. I was surprised by the reception, because I considered talking to someone who is into Swedish jazz just like Victor Assis Brasil is for Brazilian jazz. 

Cecilia was extremely receptive and agreed to give an interview to the Oganpazan. I was even more enchanted by Cecilia’s figure as I read her answers. The involvement with music from childhood and the process of musical maturation, accompanying the biological and moral maturation evidence the synthesis of these three spheres in the person of Cecília Wennerström. 

In this first part of the interview that is still under development with the saxophonist, you will be in touch with the first years of your career, the first steps towards jazz, the meetings that led to integrate the first bands, the first influences until you reach the training his own jazz band Salamander and international success on the stages of major jazz festivals in Europe and the USA. 

I hope you, the jazz lover, as I do, get excited about knowing the history, the yearnings and love of Cecilia Wennerström for music. We are facing a unique opportunity to know the details of the formation of someone who dedicates their existence to music and is among the great names of music! Thank you Cecilia for sharing with us the beauty, emotion and intensity of her story that is confused with the music itself.

Carlim (Oganpazan): I would like to begin our conversation by thanking you for accepting the invitation for this interview. We are honored to have the opportunity to learn more about the career of a great jazz name! Well Cecilia, what sparked your interest in music?

Cecilia Wennerström: I was born in 1947 in a home where singing and playing the piano was natural, and I went to a music school during the important years between 10 and 13. Thus I was rather well musically educated in my teens and I played quite a lot at home by myself, reading music by Jelly Roll Morton, playing books with American standards, and the like. But what really sparked my interest for music was probably the pop music that was so fresh and new in the 50es and 60es. However, some years later my drive to sing and play pop music took me to places where I met jazz musicians, and an interest in more deep and complicated music was born. Billy Holiday, Jimmy Smith, Sara Vaughn are names I remember most. At this time (around 20) I was singing and playing the piano. The idea that I should play saxophone had not yet appeared in my head.

Carlim (Oganpazan): How did having the first contact with music through singing and piano influence your career as a saxophonist?

Cecilia Wennerström:  In the beginning of the 70es I often went to jam sessions, where traditional jazz or dixieland was played. I discovered that if you were a singer, you always had to wait a lot for all the horns to play their solos. To play a horn seemed much more fun. Rather quickly my taste took a more modern direction towards Sara Vaughn, Billie Holiday, Peggy Lee and the like. I had a list of about 100 songs which I knew by heart and I went to clubs in Malmoe, Copenhagen and Stockholm and asked bands if they would let me sit in for one or two songs. They often said yes to this, and I never demanded a different key from the usual one. I think that this period influenced me a lot as a saxophone player, since I had listened to many standard tunes and had a lot of knowledge about harmonies because I played the songs I liked on the piano by myself.

Carlim (Oganpazan): What sparked your interest in the saxophone?

Cecilia Wennerström:  Of all the horn players I listened to when I was out on clubs listening, and sometimes singing, I liked the saxophone players most. How did they do it? How did they know which buttons to press? I was very ignorant, just as anyone would be who had after all mostly played the piano by herself at home. One day I happened to talk about this with a musician and he said that the musicians mastered their instruments because they practised. This was new to me … and a light lit up inside me: they practise. I can also practise. You see, playing had always been something I did for fun, and I could play a piano piece hundreds of times, over and over, until I knew it. But I had never thought about this as practising. And the next thought in my head was: If I practise, I too can play the saxophone. My moment came when the royal universities of music opened an education for people like me who knew something about music, but mostly in jazz, rock and pop styles. I was admitted as a pupil in Malmoe in 1974 and I knew that this was my chance to become a saxophone player. At this time I knew very little about jazz history and great jazz saxophone players, I just wanted to be like the cool saxophone players I listened to at the clubs. One of them was Helge Albihn, who is a wellknown musician in Sweden and who became my first teacher.

Carlim (Oganpazan): When and how was your first performance as a saxophonist?

Cecilia Wennerström:  Actually I think it was in a very ordinary dance band, maybe 1975, playing dance music, which in Sweden means a mix between pop music, country & western, ABBA and the like. I learnt a lot in this band. I had only played saxophone for a year so it was good training for me. But if we talk about jazz it is difficult to answer.

The years before 1979 I played in amateur big bands and in small groups with friends, of which one quartet was indeed very good and had the name Albatross. The leader Ewan Svensson is a great Swedish guitar player today, and has made a lot of recordings and has had international success as well. I remember that it was fun to play with this band – but I don’t remember the actual feeling to play … After many years I listened to a cassette recording and noticed that my intonation was a trifle low … now, why the hell didn’t anyone tell me? However, somehow I must have become aware of this and solved the problem, and in 1979 I went to an audition to apply for entering the music university in Goeteborg. An audition like this of course isn’t really a gig, but on the other hand it is much more important. I played a ballad that I had composed, and piano and bass were played by teachers from the university, who were available for the aspiring pupils. They had problems with my harmonies and I had difficulty playing to their non-existent swing.

The saxophone teacher and well-known musician Gunnar Lindgren sat in the jury. He noticed my difficult situation, rose from his place and went to the drums and hit a cymbal with four determined bangs for every bar, showing where the beat was. Those bangs on the cymbal probably changed my life. I could now play my act, and I was admitted. I now moved from Malmoe to Goeteborg and there I met the experienced free jazz piano player Susanna Lindeborg (with whom I – in my dreams – had already formed a band) and the creative newly educated drummer Vanja Holm. This had to be a band, I thought, and it would be a band in 1980, when shortly after StigBoström joined on the double bass and Katarina Karlsson was added to the band as alto saxophone player. The quintetwascalledSalamander. 

Salamander in action.

Carlim (Oganpazan): This was the beginning of Salamander … from that, I would like to know how the group’s early days were and what led you to participate in K.C. Women’s Jazz Festival?

Cecilia Wennerström:  I read about the K.C. Women’s Jazz Festival in some magazine. Maybe in Sweden’s jazz magazine ”Orkesterjournalen”. And moreover, a Swedish group had already been there! The group was called Tintomara and was lead by flute player Katarina Fritzén. If they could do it, so could we. Salamander started rehearsing with the goal to make a demo cassette to send to clubs and festivals, including K.C. of course. My teacher in saxophone, Ove Johansson, played our demo cassette blindfold for other music students. They guessed at something very hip from New York, and this amused him a lot. However we rehearsed many hours every week, and my inner picture of the music was clear: a bit Art Ensemble of Chicago, a bit European cabaret jazz (Mike Westbrook), a bit Anthony Braxton, a bit Albert Ayler, a bit Ornette Coleman … and of course Carla Bley was important, since she was one of few female well-known musicians. And I loved Gato Barbieri’s playing. Soon we had a cassette, a text was typed on a paper (no computers, this is 1980), a small and cheap photo was taken with the typical look of the 70s in Sweden: no make-up and practical clothes. No Internet then of course, just letters. We had absolutely no money. I used to work as a post(wo)man in the summer to survive economically. And we got the gig in K.C. and I could plead for support from the Swedish Cultural Council. And off wewent. 

Carlim (Oganpazan): What impact does playing on a jazz festival reserved for women have on you as a jazz player and a woman?

Cecilia Wennerström:  First of all, I probably wouldn’t play at all on any event that is women-only. I don’t like segregation. Mixed festivals that promote women musicians and do not make too much of a fuzz about it, are okay. But my basic view about women festivals is that they are a dead end for women in the long run.

Now, the situation 1981 was very different from the situation in 2017. Few women in Sweden 1981 went deep into horn playing the way I did. But today in Sweden there are many good women jazz musicians, also on drums and bass. There should be no need for special women encouragement today. However, Swedish jazz clubs today are actually forced to count how many women they employ, if they want federal or national economic support, and this is an idea that I don’t support. I don’t like quota systems, I am all for meritocracy.

But are jazz women really judged by merit? Jazz is very social: attitude, social talent and the like are very important, and men tend to pick their pals if they can choose … Well, I’ll tell a Swedish story from another music world, the symphony orchestra world:

In about 1960 an American trumpet player, Maurice Koffman, was met at the airport in Stockholm, and his wife stepped out with the trumpet case. Or so the meeting delegation thought. But the trumpet player, Maurice, was a woman, the first one in the Swedish Radio Symphonic Orchestra. She didn’t stay long, because the male colleagues were corny and behaved badly. So she left. This caused some important people to think. Did a woman really play differently? So they began setting up a screen during the auditions, so that the jury couldn’t see who was playing. The result of course was that no one in the jury could tell any difference. And so it follows that today a growing third of Swedish symphony orchestras are female. And auditions are always made with screens that hide the playing musician.

But jazz music doesn’t work that way. Jazz is a freelance community and you are not hired with a monthly salary. You have to promote yourself, both to arrangers and also to the musical community. The process for the men to accept women is therefore slower in the jazz world. In the short run, a women’s festival or a women’s big band could help the process forward.

As for myself: Salamander was a band where I could implement my musical ideas. The gender part of it was not important, even if it created job opportunities. Salamander was a musical project, not a female project. The later versions of Salamander were in fact mixed. I have heard the question “Why an all-women band?” many times, and my answer is: Why not? There is after all a huge amount of all-men bands.

Carlim (Oganpazan): How were the years in Salamander?

Cecilia Wennerström:  The beginning was quite euphoric. We rehearsed a lot during 1979, the rehearsals were very long and exhausting with a lot of discussions about how this and that should be played. I think that all of us had the feeling that this band would be something special. During 1980 we had a lot of gigs in Sweden, doing radio programs, touring all over the country and having a lot of articles in the press. I also played in other bands, and studied simultaneously at the Music Academy in Göteborg. I remember being very poor and there was a constant lack of money. On the other hand it was a life-style not to care very much about money and other worldly stuff. We played, and played, and played. I worked as a post-(wo)man during holidays and Christmas periods, carrying letters and magazines.

In 1981 we were invited to Women’s Jazz festival in Kansas City. This was a wonderful event. The hotel we stayed in was luxury beyond belief. The concert was incredibly fun to play. Also, we liked the other musicians very well, especially an Afro-American band called Sojourner that sounded a bit like Art Ensemble of Chicago, whom we of course admired a lot. An amusing detail from the Kansas City is the issue of clothes. I had brought with me one pair of shoes, black, steady working shoes that in my opinion fitted for all occasions. To that I wore a pair of baggy light blue jeans. I think I borrowed a shirt from our drummer Vanja Holm. So we got som critic for our way to dress. The photos from this time are very typical for the ’70s in Sweden: no make-up, t-shirt, jeans and walking shoes. Nothing fancy. To look poor and worn out was the jazz musician style in Sweden over all, and in fact the musicians were often very poor, not just looking it.

This year, 1981, you could still here the real masters of jazz play in N.Y. We combined our American visit with a week in New York where we went to clubs and heard Joe Henderson, Mcoy Tyner, and other giants. Completely fantastic.

So 1981 was a wonderful year: Salamander played with success at Northsea Jazz Festival and later on Jazzfest Berlin, and there was always something new popping up. We liked in a quiet way to tour together. Especially German cafés with oversized pastry were popular.

A growing problem was that Susanna Lindeborg simply had too much to do with her own group Mwendo Dawa, whose popularity increased during the same period. She stayed in Salamander during 1982, and Salamander as a quartet recorded an LP that I still consider the band’s best: ”In the darkest month”(Dragon Records DRLP 45). But Susanna’s left hand got inflamed of all the touring and playing, and we actually made a German tour where she only performed with her right hand and her left elbow … She had to choose and of course she chose Mwendo Dawa where she was the leader together with her husband Ove Johansson. So she left Salamander in 1983. Soon after, our bass player Stig Boström simply disappeared and went abroad for different personal reasons. Alto saxophone player Katarina Karlsson had already left the band to do more singing, which was her first instrument.

The following years were of course much more difficult, but requests for Salamander kept coming in and the band still toured quite a lot, with myself on reeds and VanjaHolm on drums. We used a lot of different musicians on bass/piano or bass/guitar until a relatively stable trio emerged, with German Peter Sonntag on electric bass. My most important memory from this trio period is a tour in DDR a few years before the wall fell. It is an experience that changed my basic views in a profound way. I had not believed what the ”bourgeois” press said about DDR, but now I could see with my own eyes that every word was true. However, the cooperation with Peter Sonntag resulted in two recordings, and one of them was released in Sweden on Dragon Records in 1985.

After the trio period Salamander was more or less a non-existent group, even if Vanja Holm and I put the band together now and then for occasional projects. In 1991 an all-female quintet version of Salamander played at the Jazz & Blues Festival, Haparanda in northern Sweden and this was the group’s last gig.

Below, video featuring Salamander at the Jazz Fest Berlin 1981.

 

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