A baiana A Dona tem feito barulho com músicas fortes e com uma fábrica de hits que em pouco tempo tem chamado a atenção, confira nosso papo!
Nos últimos anos, vem despontando no Pagodão da Bahia um movimento muito importante de incorporar como protagonistas mulheres e LBTQIA+, o que vem a somar-se com o amplo desenvolvimento musical que esse gênero musical construiu nas últimas décadas. O Oganpazan como site especializado em música e originário da capital baiana, não poderia deixar esse importante movimento passar longe de suas páginas.
Quanto mais vamos conhecendo os trabalhos das mulheres do pagodão baiano, mais percebemos a força desse movimento. E ao mesmo tempo, vamos percebendo a riqueza de suas histórias e a potência de suas ideias e de sua arte. Quem por exemplo imaginaria que uma das vozes mais fortes do pagodão atual é uma cantora oriunda do gospel.
A Dona da porra toda, chegou no Pagodão bagaçando sem miséria, em 1 ano de atividade ela já tem três discos: Não Confunda (2020), Ela Tá Louquinha (2020) e Dominando seu Paredão (2020). Com a maioria das composições de sua própria autoria A Dona é original e bate de frente com qualquer tentativa de lhe domar, em suas músicas fica muito escurecido que essa mulher preta e periférica é quem da as ordens, afinal é A Dona né?
Atualmente, A Dona faz parte do casting da produtora estourada HMJ produções, e foi apadrinhada pelo Biruta, figura destacada na cena do pagodão baiano. A Filha do Biruta, não apenas pede respeito, ela se impoem, basta ouvir o groove de seus discos e as suas composições que rapidinho você como eu estará dominado pelo swingão empoderado d’A Dona. Conversamos com ela, para saber um pouco mais de sua trajetória e de seus lançamentos, o papo você confere abaixo!
A Dona Original – Eu sou filha de Pastor de igreja evangélica e comecei a cantar aos 3 anos de idade, ainda bem criança, e desde então minha vida esteve ligada a música. Sempre cantei na igreja e aos seis anos de idade fiz minha primeira música e de lá pra cá eu componho. Sempre compus para festivais de colégio. sempre compus e ganhei vários festivais compondo músicas temáticas, então isso nasceu comigo, o dom de escrever e cantar. Minha inteira foi na música.
Oganpazan – Como era sua vivência com o Pagode antes da sua carreira e como sua família recebeu a notícia de sua carreira?
A Dona Original – Eu sempre fui evangélica e filha de pastor, dessa forma o pagode nunca foi presente em minha vida durante a infância e a adolescência, como falei acima. Eu conhecia o pagode de rádio, paredões e bares que por onde eu passava estava tocando, mas eu nunca imaginaria que um dia eu me tornaria cantora de pagode. E é tudo muito recente, o pagode despertou como uma possibilidade pra mim, do final do ano passado para o ínicio desse ano.
No começo meus pais não gostaram muito da ideia, ficaram surpresos com minha atitude de me tornar cantora de pagode, foi um grande susto, foi um baque porque eles nunca imaginaram que eu iria sair do gospel para cantar logo pagode que tem toda a representatividade forte das favelas, com as coisas da maloca e tal!
Oganpazan – Porque A Dona como seu nome artístico? Dona de que? Explique pra gente…
A Dona Original – Eu fui convidada para cantar numa banda de pagode, da produtora Tmusic Brasil com o nosso saudoso MC Dumel (artista que faleceu no começo da pandemia vítima do Covid-19) daí então eu não sabia qual seria o nome. E o MC Dumel teve a ideia e colocou o nome da banda A Dona da Zorra Toda, e aí demos continuidade com esse nome. Porém, hoje estou na produtora HMJ Produções e decidimos mudar para A Dona Original, que é um nome mais acessível para aparecermos melhor.
Oganpazan – Eu conheci o seu trabalho através de uma dica do pesquisador GG Albuquerque em uma lista de indicações que ele publicou recentemente. Como você vê a cobertura da mídia baiana sobre a novidade de termos tantas mulheres no pagodão, e a cobertura do pagode em geral?
A Dona Original – Eu penso que a divulgação de novas bandas é bem fraca e necessita de uma movimentação maior, ainda mais por sermos mulheres. As bandas de pagode masculino já são bem representadas e divulgadas, as mulheres merecem mais atenção. Temos um instagram chamado Pagode por Elas, lá elas divulgam nossos trabalhos, nos apoiam. Mas não é suficiente, porque são muitos trabalhos saíndo e muitas mulheres entrando nesse mundo, e se tornando cada vez mais forte e que vem tomando. Hoje são muitas bandas femininas, antigamente eram poucas em 2020 são muitas e esse movimento de empoderamento feminino está se unindo e se tornando cada vez mais forte. As mulheres merecem mais atenção.
Oganpazan – Esse ano você lançou três discos começando em Março e o último saiu agora em Setembro. Como é que funciona essa fábrica de hits?
A Dona Original – Os meus discos têm a maior parte das músicas feitas por mim mesma, são composições minhas, porém algumas músicas são de parceiros com trabalhos que eu me identifico e que coloco também no meu repertório. Inclusive nesse último disco, eu coloquei uma música dos nossos parceiros da Caneta Nervosa, Alê, Marron e Luciano, que são pessoas maravilhosas e são parceiros que carrego pra vida e eles são os compositores da música Empoderada.
Oganpazan – Seu último disco: Dominando o Seu Paredão, traz muitas músicas novas, como foi para selecionar o seu repertório? Quem são os músicos envolvidos e quem produziu o disco?
A Dona Originial – Nesse disco, eu tive que me reinventar, porque eu tinha saído da banda, e ali foi o meu retorno onde eu tive que mostrar que eu sou A Dona né? hahahaha Então, eu trouxe vários hits, trazendo várias músicas diferenciadas, com um pagodea mais empoderada elevando a mulher. e é isso, eu fiquei muito feliz. Os produtores foram Elder Marcos (O Biruta), G. Leite e Psico (A Invasão), eles que produziram o que eu considero o meu melhor disco até aqui, e que espero que venha bater em todos os paredões da Bahia e do Brasil…
Oganpazan – De que modo você vê que sua vivência como mulher preta e periférica ajuda na composição de suas músicas, na liberdade para abordar os temas que você canta?
A Dona Original – Ajuda muito a saber o que realmente a gente vive né? Pois eu não vou compor uma música sem saber do que eu tô falando né, do que a gente vive ali na realidade né? E ser mulher preta, periférica vivendo toda essa realidade da favela, vendo o que acontece de verdade, me ajuda muito a fazer letras verdadeiras, que quem ouve sabe da colé da verdade dessas composições.
Oganpazan – Você teve ou tem dificuldades por ser mulher negra no Pagode? Como é a sua relação com outras mulheres do cenário?
A Dona Original – Graças a deus, eu nunca tive empecilhos ou sofri preconceito no pagode, pelo menos não que eu saiba. Minha relação com as outras mulheres do pagode, é ótima e converso com todas. Inclusive temos um grupo no whatsapp onde trocamos informações, músicas para que uma ajude a divulgar a outra, como eu sempre disse elas são exemplos pra mim, são inspiração. A Dama, A Poderosa, Rai Ferreira, Aila Menezes, Swing de Mãe, Nessa, todas as meninas em geral, elas trazem em si mesmas um aprendizado para mim, experiência e eu me espelho nelas. E com certeza, me orgulho de tantas guerreiras, lindas e empoderadas estarem no pagode, e eu cheguei pra somar.
Oganpazan – As mulheres vêm assumindo protagonismo no pagode e em várias músicas podemos perceber como as compositoras tem combatido a ideia de que o cara precisa iludir as mulheres para conseguir transar. Como você vê que o atual pagode feito por mulheres, contribui e reflete a autonomia que as mulheres têm alcançado na sociedade?
A Dona Original – As mulheres chegaram pra mostrar que o pagode masculino não é nada daquilo que eles cantam, não é nada daquilo que eles compõem. Porque muitas vezes eles falam que mulheres precisam ser iludidas, que mulheres são lixo, que nós não prestamos que só servimos para transar e jogar fora e não é assim. Nós temos nosso valor, nosso temos o nosso respeito. e que se nós quisermos iludir para conseguir alguma coisa, nós podemos tranquilamente fazer isso. Chega de machismo, “machista não tem vez” né? como diz a música da minha parceira Alana (A Dama).
E é isso, nada de romantizar o que os caras cantam sobre e para a gente. Putaria no meio do pagode, sim é válido, existe. Mas nós mulheres estamos aqui pra mostrar que se quisermos transar, a gente transa e a gente também deixa lá. Não são só eles que podem fazer isso com a gente, isso não existe. Direitos iguais para todos e empoderamento feminino além de tudo, não precisamos de homem pra nada. não precisamos de homem pra sermos bancadas, hoje século XXI, nós mulheres temos nossos carros, temos nossos empregos e somos vitoriosas, então homem pra gente é consequência e quando não é homem vem de mulher mesmo, porque mulher com mulher também se entende!
Oganpazan – O clipe de Empoderada lançado na última semana, veio com uma super produção e saiu no canal Mete Som. Comente sobre esse último trabalho, que inclusive tem a participação d’A Travestis.
A Dona Original – AH, esse clipe para mim foi uma realização de sonho, tava com pessoas maravilhosas, pessoas que acrescentaram bastante e que eu só tenho a agradecer. Nós conseguimos mostrar que o padrão somos nós, mulheres. Contei com a presença d’A Travestis, a Tertuliana e eu amei muito a presença dela, mostrando que mulher trans merece respeito, entendeu? que somos empoderadas independente da sociedade machista dizer que não. E eu tô muito feliz e realizada com o resultado desse projeto incrível e espero que vocês tenham gostado também e quem ainda não viu vai dar o play abaixo e ver, A Dona Orginial EMPODERADA!
-A Dona Original – Novas Vozes do Pagodão
Por Danilo Cruz