Dando prosseguimento ao seu projeto de um single por mês, Mobiu chega agora com mais uma música: Amanhã (Prod. Dj Gug Pinheiro) com Dogalove na parceria.
Vivemos novos tempos, sempre novos, o amanhã é produção do presente ativo. É talvez uma questão de percepção entender que apesar das permanências, a estrada do futuro recebe sua verdadeira destinação no passo firme e atual. E é nessa visão que nos parece, Mobiu, tem colocado seus esforços.
Criando modos novos de produção, de todos os tipos, empresarial, de conhecimento, de eventos, de arte. Essa história de uma música por mês deve ser o terror para o jornalista, pelo menos para aquele que pretende mais que noticiar, necessita absorver e pensar o novo. E é essa a missão do pensamento que nos interessa: pensar o impensável, o novo, o verdadeiro Amanhã, a potência irresistível que lhe faz sair do lugar e perceber a necessidade de capturar e dar forma àquele acontecimento, em termos de palavras.
Racionalizar e dar sentido aos afectos suscitados pelo ritmo e a pela poesia, uma vez por mês, como pequenas pílulas invadindo o organismo para curar algum mal entendido, para lhe arrancar da mesmice, para matar o tédio. Pílulas para o dia seguinte!
A minha primeira pergunta dirigida a um artista (como um simulacro de jornalista), foi exatamente feita para o poeta aqui em questão. E se tratava exatamente de produção musical. Naquela altura me incomodava a falta de noticias, sobre a produção de algo novo referente ao grupo Versu2. O tempo passa rápido e já deve ser o 4º ou 5º texto sobre algo relacionado à Afreeka, ao Mobiu, ou a algo onde o doutor Octopus tenha estendido seus tentáculos.
E o fato é que em tempos de excesso de informação, de produção pasteurizada, em tempo de novidades velhas, esses textos não parecem compactuar com nada disso. Porque as produções lançadas, não compactuam também. Núpcias. O que essas músicas lançadas tem me feito perceber, é que existe talvez uma circularidade entre esses singles, e os primórdios da indústria fonográfica. Afinal, pra quem não sabe, nem sempre os artistas lançaram discos cheios, EPS, Demos e afins.
Os singles foram a forma primeira, rápida e barata de difusão musical. Singles esses que eram pensados como pequenas joias lapidadas para serem capazes de conquistar corações e mentes, e a partir daí abrir condições para que os artistas excursionassem.
E é nesse pique que Mobiu vem, se cercando de outros excelentes artistas, produzindo com cuidado, pequenas pílulas contra a mesmice. Punk velho, rapper de última geração, uma mescla que reivindica á tradição do rap baiano aquele punch característico do punk, herança do Quilombo Cecilia. O conjunto da obra só será conhecido no final do ano, mas aos poucos vamos descobrindo por onde anda a cabeça do poeta.
E Amanhã aponta mais uma direção, o sampler do gênio total Cassiano, dá a dica, futuro circular, fruto de um passado reflexionado no presente projetando o amanhã, Aion mais do que Cronos (O que tem se tornado uma das constantes dos singles). Pois alertávamos acima, não é de quantidade (Cronos-Cronologia, mera demarcação do tempo) que se trata.
Um presente, um homem em constante produção ativa, termina por eliminar o ego em favor das singularidades (“Se não fosse o plano, viveria em close…”) habitando esse mesmo plano com a potência da vida, plano de imanência. O amanhã é uma promessa, que nesse caso vem sendo relançada constantemente como uma construção que vem sendo planejada com a perícia dos melhores generais.
Esses singles tem aos poucos se tornado verdadeiros Dias D, para o rap nacional, cada mês uma Normandia… Pra quem vem acompanhando o que tem sido produzido esse ano, a comparação nos parece, procede.
Dogalove chega na responsa, abrindo a música em plena harmonia com a temática, e ele também preferindo o Valor ao Peso. Dj Gug, como já alertamos acima, mandou muito nos samplers e base, fazendo a ponte – entre Cassiano e seu fã confesso Brown – por onde Mobiu e Dogalove atravessam bravamente em direção ao futuro.
Esperamos agora mais um raiar do Rei Sol, para sermos iluminados pela luz. Mas uma cena dessa batalha, para podermos aos poucos, mês a mês, perceber, fotografar pequenas polaroides, dos acontecimentos, relatos de uma mente perturbada. Escritos direto do front.