Trocando ideia com o Rap Colombiano: Crack Family, Mary Hellen e Lumbresiete!

Um passeio por alguns excelentes nomes do Rap Colombiano, como a rapaziada do Crack Family, a Mary Hellen e o mano Lumbresiete:

Rap Colombiano
Crack Family

O que você conhece do Rap Colombiano? Como membro pós-doutorando do projeto internacional CIPHER Hip-Hop Interpellation (University College Cork, Irlanda) pude trocar ideia com grandes nomes da cena colombiana como Cejaz Negraz (Crack Family), Mary Hellen e também do underground como LumbreSiete

Rap Colombiano
Foto por @jsteban

Desde agosto de 2022, faço parte do projeto internacional CIPHER Hip-Hop Interpellation como pesquisador e pós-doutorando investigando o hip-hop latino americano e caribenho. Devido a essa oportunidade única, tenho entrado em contato com muita gente interessante de diversos países como Colômbia e México – ainda há muitos outros que irei abordar – conseguindo entrevistar nomes de grande reconhecimento como Cejaz Negraz (Crack Family) e MC Luka; respectivamente um dos maiores da cena colombiana e mexicana, e portanto, latino americana. 

Porém, nem só de artistas famosos se faz uma pesquisa e outros nomes como Mary Hellen e LumbreSiete foram igualmente importantes para esse trabalho. Mary Hellen é uma rapper, cantora de R&B, reggaeton e diversos outros ritmos latinos que já rodou o mundo com sua música tocando em países como Espanha, México e Estados Unidos. Além disso, seu trabalho já esteve em produções para a televisão e colaborou com nomes importantes da cena colombiana como a própria Crack Family citada anteriormente. Certamente, uma artista para se prestar atenção em nosso país vizinho. 

 

Com um trabalho que passeia por diversos estilos e utiliza samples e instrumentos tipicamente colombianos e latino americanos em sua produção, Mary Hellen faz um rap e R&B com bastante originalidade, sem simplesmente reproduzir o que é feito na gringa. Na troca de ideia com Mary Hellen, vários pontos interessantes foram apontados pela artista. Por exemplo, ela cresceu numa família musical que sempre ouviu sons tradicionais como tango, boleros e música popular de Medellín; algo que foi incorporado depois quando passou a produzir seu próprio hip-hop. Vinda de uma quebrada de sua cidade onde “se assassinavam pessoas, jovens em grupos armados” ela reconhece como o hip-hop tem salvado vidas por meio de sua cultura e canalização da violência em algo construtivo. 

Rap Colombiano
Lumbresiete

Outro ponto que chamou bastante atenção na troca de ideia com Mary Hellen é que ela trabalha majoritariamente com homens em sua equipe de produção mas não se sente em desvantagem devido a esse fator. Na verdade, ela coloca que o hip-hop sempre a acolheu mesmo sendo um ambiente masculino e/ou masculinizado, portanto, só tem a agradecer a essa cultura que tanto tem feito pelas juventudes periféricas do mundo globalizado.

Mais ou menos na mesma pegada, LumbreSiete, MC colombiano do underground de Bogotá pontua como Bosa – a quebrada em que cresceu e já não mora mais lá – foi essencial na sua formação enquanto pessoa e artista de hip-hop. Em um ambiente multicultural tipicamente latino americano na qual “as tribos do ska, hardcore e hip-hop” conviviam e se encontravam; Lumbre igualmente desenvolveu um olhar rico e multicultural sobre sua própria produção enquanto artista de hip-hop. Um exemplo disso é seu álbum Rap Solo Para Hardcoreros (2020) no qual samples de grupos como Hatebreed e Limp Bizkit são usados para suas bases de rap. Falando nisso, Lumbre foi guitarrista de um grupo de hardcore de sua cidade antes de fazer rap chegando também a conquistar relevância no cenário pesado de Bogotá. Em suas rimas aborda diversos temas como o cotidiano de Bogotá e o desejo de progredir sempre como rapper e indivíduo. 

Finalmente, troquei ideia com Cejaz Negraz – líder de Crack Family; um dos maiores grupos de Gangsta rap de Bogotá – e pude obter respostas sobre um dos meus sons preferidos do grupo: “Medicina”. De acordo com Cejaz, o poder da música e das palavras pode tanto “curar quanto ferir alguém” (não por menos, os versos de abertura são: “que te cura o te mata”.) Isso quer dizer muito para um grupo de rap Gangsta que já passou por diversas críticas – hipócritas, diga-se de passagem – por parte da mídia e da sociedade colombiana por ser violento em sua lírica. Afinal, não muito diferente de outros países do nosso continente, a Colômbia é marcada pelo tráfico, pobreza, desigualdade socioeconômica e violência urbana. Em um mundo aonde MCs são levados ao tribunal pelo o que dizem em suas letras – sim, isso acontece no EUA e por toda parte do “Novo Mundo” – é importante ter alguém que esteja disposto a denunciar as mazelas sociais de forma franca e aberta.   

Cejaz falou também sobre como ao longo do tempo foi se distanciando do Gangsta rap por querer ter a leveza e liberdade de abordar outros temas. Ele enfatizou como o hip-hop tem amadurecido nesse sentido oferecendo uma gama maior de temáticas , estilos e abordagens ao longo do tempo. Hoje, o artista fala também de fé, esperança, amores e ganja… afinal, nem só de guerra vive o homem.

Bom, Oganautas. Vou deixando vocês aqui com esses petardos do rap colombiano e um pouco sobre como foi a troca de ideia com esses grandes artistas. Vamo que vamo e até a próxima matéria!0)

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-Trocando ideia com o Rap Colombiano: Crack Family, Mary Hellen e Lumbresiete!

Por Gustavo Souza Marques (Gusmão) 

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