O primeiro show do Pat Metheny a gente nunca esquece. Depois de quase 3 anos, o público brasileiro conseguiu, enfim, assistir o astro.
O Pat Metheny voltou ao Brasil em 2022 para retomar uma turnê que precisou ser interrompida em função da pandemia. Foram 2 shows em São Paulo, acompanhado por seu trio de notáveis, formado pelo baterista Antonio Sánchez, a baixista australiana Linda May Han Oh e o pianista britânico Gwilym Simcock.
Foi com este grupo que Pat conduziu a plateia do Teatro Alfa (em mais um evento Tucca Jazz), entre os meandros de sua imensa discografia de estúdio. Foram mais de 2 horas de espetáculo, onde os ouvintes acompanhavam cada passo e vibravam a cada novo tema que Pat revelava, fosse tocando violão, sua clássica Ibanez ou o Pikasso, seu violão de 42 cordas, projetado pela luthier Linda Manzer.
Antes do show fiquei pensando: como vou reagir, assistindo um dos guitarristas que mais ouvi na vida, bem na minha frente? Com o Teatro Alfa lotado e uma atmosfera que ganhava tensão conforme o show se aproximava, pensei nas dezenas de lançamentos que formam a carreira do ilustre guitarrista norte americano, que entre gravações para o Blue Note, ECM Records e Nonesuch – só para citar alguns – gravou para os grande expoentes do groove jazzístico.
Indo além do repertório, fiquei bastante curioso também pela oportunidade de contemplar o baterista mexicano Antonio Sánchez – um dos grandes nomes da bateria mundial já há alguns anos – junto da baixista Linda May Han Oh e do pianista Gwilym Simcock.
Sobre a performance do Antonio, confesso que nunca vi um baterista tocar com tanta pressão, variando bastante – principalmente as alturas – sempre com movimentos muito compactos e com uma postura perfeita. Fazendo um paralelo com o Brasil, é possível citar o baterista Edu Ribeiro, dono de uma técnica formidável e uma movimentação que assim como a de Antonio, sabe tirar som dos kits, sempre com leveza e elegância.
Assisti ao Antonio alguns anos atrás quando ele veio ao Brasil para tocar o score do filme Birdman – que ele próprio criou – ao vivo, conforme o filme passava no telão de um parque famoso de São Paulo. Naquele dia virei fã e desde então acompanho suas peripécias musicais sempre que posso.
Dono de uma percepção musical aguçada e de grande capacidade para fatiar o tempo nas subdivisões e improvisar acompanhamentos em tempos bastante quebradas, o cidadão mostra um entrosamento fino com Pat e o restante do grupo. Vale lembrar que o Antonio toca regularmente com o guitarrista desde meados de 2012.
A baixista Linda May Han Oh também me impressionou bastante. A condução no baixo foi firme e privilegiou um dos pontos centrais desse grupo: a dinâmica. Linda fez um set primoroso, justamente por conseguir construir linhas que não se prestaram ao papel de mero acompanhamento. Solou magnificamente, ofereceu opções para os outros músicos e mostrou sua arrojada técnica, principalmente nos duetos. Assistindo a australiana tocar, foi impossível não pensar em como o Bebop ainda faz parte da linguagem moderna do Jazz.
O pianista britânico Gwilym Simcock trouxe uma sensibilidade nas teclas que enriqueceu a beleza quase dramática de algumas composições de Pat. Em temas como “Bight Size Life” – que foi gravado em trio ao lado de Bob Moses (bateria) e Jaco Pastorius (baixo) – o britânico, que também possui vasta experiência erudita, trouxe um plano de fundo de acordes e voicings muito interessantes.
Antes do show começar, pensei que ele fosse “sobrar” na banda, mas suas ideias trouxeram uma liga muito interessante para o som, ressaltando as pinceladas harmônicas e melódicas do universo de Pat Metheny.
Perto dos 70 anos o tempo é muito generoso com o senhor Metheny. Escutar seu timbre ao vivo é uma experiência poderosa. É notável como ele possui total controle do instrumento e como sua capacidade de improvisação é particularmente aguçada quando ele procura por novos sons no Pikasso.
Esse instrumento inclusive é perfeito para mostrar como ele pensa a música e como os meios convencionais já estão ultrapassados para ele. No final do show ele fez um duo, tocando violão ao lado do Antonio que foi uma verdadeira aula sobre paleta de efeitos. Tenho certeza que nunhum dos presentes imaginou uma passagem dessa num contexto acústico, especialmente num show de Jazz.
Dono de uma das discografias mais longas, prolíficas e longevas da música, Pat não precisa provar mais nada para ninguém, porém creio que ele ainda tenha muita coisa para provar a si próprio. É exatamente esse tesão que o ouvinte escuta, tanto nos disco, quanto ao vivo. É isso que o move e também o estimula a seguir tocando, sempre com foco no seu repertório mais recente, sem jamais alienar o seu publico.
Muito obrigado, Pat, foi uma honra. Obrigado pela música.