Com tantos problemas no mundo, com tanta dor e excesso de controle, crença, imposição de ideias e conceitos… Listar parece até algo vago e aí é que está o problema, quando os percalços não nos causam desconforto à ponto de nos fazer levantar e se tornam apenas lamentações ligadas ao desespero.
Somos capazes de decidir nosso destino e temos não só o direito mas o dever de fazê-lo e, se precisar, lutar por isso. Mesmo que não nos queiram juntos, unidos pelo todo, da forma que realmente deveria ser. A revolução não é uma anedota regada à sangue, pelo menos não deveria, o sangue de um povo precisa correr em veias e não pelo chão. Um país só é de fato um país quando seu povo para de nutrir ódio por uma mesma bandeira, algo desesperadoramente hilário: bancar a guerra e a paz com a antítese sem fé de uma pátria sem bandeira. Pátria esta que em teoria prega a união, mas que na verdade apoia o asqueroso racismo ideológico ou colorido pela pigmentação do couro da pele.
O sistema político alimenta essa cadeia de cemitérios a céu aberto. A fuga dessa Babilônia parece até inevitável, até por que a pureza da cor da pele é irrelevante perante o brilho de um par de olhares. Porém, para alguns, ela esconde a verdade. Transforma um ser humano em peso de papel e alimenta sua descrença, o deixa fraco e apenas faz com que sua vida institucionalizada se assemelhe com a rotina de um presidiário em paradoxal liberdade.
A sobrevivência se torna um mito. O sobrenome compra tudo, o dinheiro banca a loucura, a influência… A utopia é quase uma realidade para quem consegue se manter corrupto neste caminho egoísta, mas na mente de quem é a base da pirâmide o tema já virou lenda.
São passos vazios, pés que antes caminhavam com um sentido verdadeiro e real sem pensamentos forjados pelas circunstâncias. Um tempo que deveria existir em todos nós, uma época que não é descrita em nenhum livro, que leva o indivíduo em consideração e tenta elevar seu espírito, mas sem religião, afinal de contas a verdadeira religião é aquele que te move, o que lhe faz andar enquanto muitos formam uma fila.
A unificação de tudo é o molde da longevidade, mas sem levar em conta o aspecto material, até por que o direcionamento correto é o espiritual. A luta segue e alguém sempre vai virar estatística para que algo comece a ser arquitetado, algo de fato grande e impactante… Revolucionário talvez.
Alguém que consiga trazer uma mensagem maior do que ele próprio e tenha noção de que é apenas um instrumento de paz, de mudança e de propagação dessa nova formatação de um corpo de ideias para completar a peregrinação e purificação dos caminhos. É tudo questão de se munir de todas as armas possíveis para não nos deixar influenciar, precisamos de integridade para chegarmos ao apogeu do virtuosismo. Defenda seu ideal e siga rumo a sua própria colônia interior, procure seus semelhantes mas não se desligue dos pensamentos diferentes, dissolva as ideias e complete o mar de armas psicológicas lado a lado, sem diferenças.
Complete o caminho. Veja que no começo de tudo, no início deste pergaminho, a missão estava só no começo. Com o decorrer das linhas as coisas começaram a ficar mais claras e tudo seguiu seu fluxo. Talvez você tenha embarcado em seu caminho e encontrado a trilha de algo maior que você, algo que seja benéfico para seus semelhantes… Talvez tenha começado a crer em seu potencial… Talvez tenha começado a lutar, superou a cilada de seu próprio povo e começou a evolução. Você está pronto, você é um sobrevivente, um dos 48 revolucionários do clube da liberdade.
Line Up:
Bob Marley (vocal/guitarra/violão)
Aston ”Family Man” Barrett (baixo/guitarra/percussão)
Carlton Barrett (bateria/percussão)
Judy Mowatt (vocal)
Tyrone ”Organ D” Downie (teclado/percussão/vocal)
Alvin ”Seeco” Patterson (percussão)
Marcia Griffiths (vocal)
Junior Marvin (guitarra/vocal)
Earl ”Wire” Lindo (teclado)
Al Anderson (guitarra)
Rita Marley (vocal)
Track List:
”So Much Trouble In The World”
”Zimbabwe”
”Top Rankin”’
”Babylon System”
”Survival”
”Africa Unite”
”One Drop”
”Ride Natty Ride”
”Ambush In The Night”
”Wake Up And Live”
Se por acaso você, caro leitor, tenha apreciado este texto até o presente momento, saiba que o mesmo foi formulado pelo próprio Bob Marley, porém redigido por mim, em uma espécie de co-autoria. Falo sério, cada linha deste fragmento só foi criado por que teve como plena base toda a linearidade que o melhor disco do mestre Marley (opinião do resenhista), pode transmitir para os ouvintes dentro de um panorama histórico fantástico do cenário de guerrilha que o continente africano estava inserido.
Considero ”Survival”, o melhor disco do Jamaicano, pois creio que nenhum outro trabalho conseguiu ser tão relevante em seu próprio país, aliás creio que nenhum outro disco seja tão importante para o continente africano tal qual este aqui. Em menos de quarenta minutos o messias com dreadlocks fala do todo com um domínio de guru espiritual, focando no lado humano, usando o Reggae como sinônimo de pertencimento e levantando a bandeira Rastafári sem impor nada, e quem conhece o conflito do Oriente Médio (por exemplo), sabe o quanto isso é raro.
Os ensinamentos do Etíope Haile Selassie, a reencarnação de Deus, são um dos aspectos que adicionam sentimentos proféticos nas letras do lion man. Nesse disco o lado religioso é citado assim como em tudo que Bob escreveu, mas desde a capa, sentimos que o conteúdo é quase que 100% político, o lado dos ensinamentos é menos presente mas é ele, mesmo em pouca quantidade, que deixa o LP leve (180g) enquanto seu conteúdo pesa uma tonelada.
Lançado em 1979, ”Survival” é o nono disco da granada Reggaeira que este cidadão estourava quando entrava em estúdio, porém diferentemente do que acontecia na própria África aqui retratada, a explosão criado por este cidadão era em prol do amor, da música e da união das diferenças. E dentre as alegrias que 2014 depositou em nossas vidas uma das maiores delas foi o aniversário de 35 anos deste marco subversivo no segundo dia de outubro, um pedaço de arte que intriga até quem não gosta de Reggae.
E o apogeu deste som anti opressão foi sem dúvida o show realizado dia 17 de abril de 1980 no Rufaru Stadium durante a cerimônia de independência do Zimbabwe, país que inclusive usava a música de mesmo nome (presente neste disco), como uma espécie de segundo hino. Uma prova de como o som do made in Trench Town estava atingindo o pessoal do topo, influenciando todos os movimentos que apoiavam a independência sem os absurdos das tradicionais ditaduras que tanto povoaram o continente.
O legado é justamente mostrar como a arte pode influenciar algo e não é exagero nenhum dizer que Bob foi um dos responsáveis pela independência, não só do Zimbabwe, mas também de várias outras bandeiras que ilustram a capa deste marco zero. ”Survival” é praticamente uma obra conceitual sobre o poder do sistema capitalista e a submissão do homem perante este modelo, mas o elementar é mostrar que tudo acaba, até a Babilônia caiu e o senhor Marley foi o Niemayer responsável pelo seu novo projeto.
É fabuloso acompanhar as letras deste disco pois take após take nota-se que uma revolução musical começa, se desenrola e termina. O plano começa a ser tramado de forma tensa… Os diversos problemas do gueto são apontados em ”So Much Trouble In The World”, os reprimidos são estimulados a lutar com a mão no peito ao som de”Zimbabwe” e mergulham na miscigenação de ”Top Rankin”’.
E entender o que acontece ao seu redor com ”Babylon System”, sentindo uma brisa libertária com a faixa título (”Survival”), se lembrando que são iguais com ”Africa Unite” e que a felicidade é um direito de todos (”One Drop”). Acreditando em algo (”Ride Natty Ride”) ou não, pregando o respeito e mudanças para que o povo não seja enganado novamente cantarolando ”Ambush In The Night” e colhendo os louros da empreitada quando a independência bate à porta, sempre com ”Wake Up And Live”.
O ouvinte começa descrente e acaba devoto. Começa preso e termina livre. Inicia a jornada careca e acaba com dreads. Surge sem religião e finaliza Rastafári de nascimento. Mais do que Reggae ou música de forma geral, creio que ”Survival” seja mais que um disco, é um mantra. Trata-se de um livro aberto que cumpre a difícil tarefa de nos ensinar a viver de forma humana, o único exemplar de auto ajuda que de fato faz alguma diferença no beat pacífico de Jah. Façam o sacramento e venerem a poesia sublime do elevado Robert Nesta Marley.