Robin Trower – Something’s About To Change

Existe um fenômeno que acontece com todos os seres humanos. Trata-se de algo natural, vai chegando com a idade e, pelo parece, é inevitável. Vocês já notaram como a música muda com o tempo? É óbvio que cada geração cria seu respectivo som, mas se atentem ao fator idade… Quantos aposentados, fãs de Slayer, você conhece?
Nenhum! E sabes o motivo? Pegue seu avô por exemplo, o meu gostava muito de Bruce Springsteen quando novo, depois de velho o negócio virou Roberto Carlos. Perceberam?! A idade faz todos nós abaixarmos o volume, mas aí é que está o ponto desta resenha, podemos mudar e tom e ainda assim tirar um som chavoso, por favor, sem essa vibe de Eric Clapton aposentado!

E se você ainda ousa questionar a falta de velhacos duro na queda, o senhor muito provavelmente desconhece toda a história de vida, classe, Blues, Rock Progressivo, Hard e Fender’s do grande Robin Trower. Pode pegar qualquer nome da guitarra ”Bluseira moderna”, o Trower dá um cacete e se bobear ainda serve um chá depois da aula.
São vinte discos de estúdio e em todos ele acha um jeito de ir se moldando perante tudo que aparece, desde as modernidades até o fator idade, quesito que já igualou 70 invernos com pegada de guitarrista de 25 e uma sabedoria que só os grandes músicos podem colocar em notas.

E ”Something’s About To Change” (lançado dia 10 de fevereiro), chega com requintes de vigésimo trabalho de inéditas e ainda mantém a escrita descolada, que nenhum violeiro dessa idade consegue elencar com tanto feeling, classe e pureza. Um dos grandes momentos do som dos campos de algodão esse ano, prova cabal que a idade chaga, mas que nem por isso é hora de jogar dominó.

Line Up:
Robin Trower (baixo/guitarra/vocal)
Luke Smith (teclado)
Chris Taggart (bateria)
Richard Watts (teclado)

Track List:
”Something’s About To Change”
”Fallen”
”Riff No 7. (Still Alive)”
”Dreams That Shone Like Diamonds”
”Good Morning Midnight”
”What You Never Want To Do”
”Strange Love”
”Gold To Grey”
”The One Saving Grace”
”Snakes And Ladders”
”Up And Gone”
”Til I Reach Home”

Depois de dois anos do ótimo ”Roots And Branches” o sempre oportuno Robin surge para mais um workshop gratuito de música. Em relação aos trabalhos recentes creio que esse é um dos mais inspirados e mais incisivos do guitarrista.

Em discos mais recentes senti que o Blues foi abordado sem algum tipo de foco, algo que fica longe de ser ruim, muito pelo contrário, mas em ”Something’s About To Change” os sons correm com a certeza de um trabalho conceitual, é de longe um de seus melhores CD’s dos anos 2000, milênio que assim como os clássicos de 60 (no Procol Harum), 70, 80 e 90, fazem de seu curriculum um dos mais perfeitos nesse bussiness à base de feeling.

E quando abrimos o disco com a faixa título, isso fica claro, vale lembrar inclusive que a levada malandra desso som virou até clipe. Quem diria, setenta anos nas costas e ainda brindando a psicodelia em vídeo!

Sem essa de frescura meu caro, use o tempo ao seu favor e veja que a experiência do mestre faz com que tudo tenha plena cadência no som. Os teclados uivam ao fundo, a batera faz a base e o baixo (também tocado por Trower), segue a rifferama trepidante sempre com aquele ar swingado de ”Fallen” e os vocais marcantes de ”Riff No.7”.
E o mais impressionante nem é a idade, tampouco a qualidade que o cidadão destila, mas sim o tesão que todo esse trabalho inspira, o velho fez 70 anos mas a vontade é a mesma de sempre, sua música jamais foi rotineira e seu sentimento nunca foi sob encomenda para temas como ”Dreams That Shone Like Diamonds”.

É claro que ele tem facilidade, uma voz aveludada que nos auxilia a entender os ensinamentos de ”Good Morning Midnight” e etc e tal, mas o lance é que seu som nos impacta com força, tanto nessa primeira fase mais ácida do disco, quanto em momentos mais lentos, onde sua guitarra econômica valoriza cada vácuo de bend… O ouvinte fica até com a pressão mais baixa quando ”Strange Love” vai entrando sorrateiramente. 

Seus solos seguem lindíssimos, sua criatividade ainda é exuberante, mas aqui, além de um grande disco, temos um homem que precisa ser visto e ouvido por todo e qualquer Blueseiro. Sua áurea é oriunda da tradicional educação britânica, seu  desleixo é absolutamente requintado e o timbre de sua guitarra é tão palpável que chega a parecer que nós podemos tocá-lo em pleno frenesi de air guitar.

Esqueça esse clichê de que a coisa fica melhor com o tempo, isso de fato se aplica a esse senhor, mas não é algo que vale para qualquer um não, engana-se quem pensa que ele parou de pegar pesado num Hard ou apostar em psicodelia… Ele tem essa cara de bobo mas a Strato dele é o prato de comida, o cara vai penteando e penteando a musa e o que sai é só sequência de nível ”Gold To Grey” pra cima.

Desligue-se do Clapton, vejam aqui um guitarrista que soube envelhecer e que segue fazendo discos relevantes, mesmo com um passado tão estupendo e repleto de sucesso por onde passou. Poucos creditam o devido valor para esse mestre e ele ainda esnoba a crítica com uma dessas…

É brincadeira, senta lá Cláudia, Blues não se ensina na escola, os maestros apenas trombam ele na rua e colocam a platéia no bolso, igual o gênio faz com ”Til I Reach Home”. Preciso ver esse cara ao vivo, que brasa!

Articles You Might Like

Share This Article