Hiromi Uehara e a monstruosidade do The Trio Project

Tocar até os dedos doerem. Sonhar com música, acordar com música, sempre vivendo em função dela. Nutrindo uma relação tão próxima com seu instrumento que parece que a ligação ser humano/instrumento é muito maior do que qualquer coisa que possa existir.

Seu instrumento passa o que você quer dizer por meio da poesia das notas e não é necessário ser nenhum virtuoso para poder fazer isso, se bem que dependendo do ponto de vida, isso é coisa de quem não busca o melhor. 

As vezes nada pode soar tão bom quanto uma boa e velha fritação, mas uma fritação com sentido, virtuose à serviço do groove e, para vocês que achavam que iríamos na jugular de algum guitarrista, afirmo com muita tranquilidade que trata-se de um grande engano de sua pessoa.

Hoje é dia de piano e teclado com a japa mais maluca que ousou tocar num Yahama nos últimos anos. Falo sobre a visionário Hiromi Uehara e um de seus projetos mais cabulosos, o elogiadíssimo ”The Trio Project” e seu terceiro trabalho, ”Alive” lançado dia 17 de junho de 2014.

Line Up:
Hiromi Uehara (teclado)
Anthony Jackson (baixo)
Simon Phillips (bateria)

Track List:
”Alive”
”Wanderer”
”Dreamer”
”Seeker”
”Player”
”Warrior”
”Firefly”
”Spirit”
”Life Goes On”

Essa mulher não é fisicamente possível, essa sim tocou até de fato as mãos doerem, por que não só pela parte técnica, mas pelo feeling, essa cidadã se mostra absolutamente fora de curva, e a música agradece imensamente e ainda o faz em forma de Trio.

Para variar o disco ficou fantástico, assombroso, interplanetário e miraculoso. A senhorita Uehara segue impressionando a crítica de uma maneira inexplicável, afinal de contas desde de seu primeiro CD ela se mostra uma artista pronta para chegar e decidir, sempre com trabalhos que nunca deixam um pingo de dúvida, nem para o Jazz, tampouco para os ouvidos.
Não só pela parte técnica da coisa e sim pela audácia, mas acima de tudo pela mente aberta musicalmente falando e da gama de produção que ela se prontificou a criar. Por que não é só pela complexidade (até por que virtuose não significa bons discos) e sim pelo andar gracioso de uma cozinha super intrincada, que da forma mais leve possível, quase que banal, com toques da escola clássica e Jazzística, inundam os sentidos do ouvinte num oásis de notas sem igual.

Se ela demorasse 5 anos entre um trabalho e outro seria plenamente justificável, afinal de contas a qualidade é soberba, mas é isso que é o mais absurdo: a fome que essa japa tem quando adentra um estúdio. Em toda sua discografia o maior intervalo entre um registro e outro foram de 3 anos, o que ocorreu entre ”Spiral” e ”Place To Be” (de 2006 e 2009 respectivamente) e ”Beyond Standard” e ”Voice” (de 2008 e 2011) e isso é algo para se aplaudir, de fato.

Afinal de contas os temas que ela e sua banda destilam não são criados do nada, muito pelo contrário, demoram um tempo bem razoável para serem elaborados. Composições complexas, rápidas, absurdamente sincronizadas e repletas de algo que falta para muitos e que infelizmente não se ensina, sentimento.

Tramas insanas, surpreendentes e um teclado que não se acompanha nem com o dedo (!) Parece um simpósio de marfim malhado, mas não, trata-se de apenas uma pessoa, dois braços e duas mãos. E para os outros dois envolvidos (o baixista Anthony Jackson e o baterista Simon Phillips), digo a mesma coisa.

Quase uma hora e vinte de um jazz pra lá de eloquente, com cozinha de power trio improvisando igual orquestra. Viva a Hiromi, do primeiro take, até o último, com ”Life Goes On”, é só arregaço!

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