O grupo baiano Rap Nova Era segue a linha e manda mais um audiovisual marcante. Agora com um single duplo num clipe tipo curta metragem!
Não é possível confusão, quaisquer que sejam as artes que possuam um quê de ativismo se colocam do lado oposto da lei. Se considerarmos as estruturas da nossa sociedade, o modo como ela é gerenciado, o hip hop por si só, é uma cultura marginal. Na dupla acepção da palavra: feito e localizado à margem da sociedade, das leis, dos costumes e do estado que organiza e controla tudo isso.
O Rap Nova Era é ponta de lança no movimento hip hop de Salvador, segue há mais ou menos um década, oficialmente, lutando em sua música pelos becos e vielas de Salcity. São muitos verões e invernos vivendo o veneno da cultura underground e independente, preta e periférica, e nessa caminhada vencendo batalhas que são amplamente reconhecidas pelas comunidades da Bahia que possuem aproximação com a cultura hip hop. Reconhecimento esse que não faz o grupo Rap Nova Era amolecer, senão expressa a cada novo trabalho suas imensas qualidades.
Dando continuidade às produções da gangue: Moreno, Ravi Lobo e DJ Kbça (Rap Nova Era) sequestram o amor pra mostrar que o crime é uma escolha furada. Explico-me melhor: o audiovisual de “Sem Refrão” e “Love in Crime”, retirados do sucesso de seu último disco Renovação (2020), trabalham sobre as visões estereotipadas sobre quem vive à margem da sociedade e de suas leis. É comum, encontrarmos o discurso do bandido bom é bandido morto, nas nossas próprias quebradas. Porém, sabemos como essa visão é implantada nos corações e mentes dos nossos.
Aquele que desvia do padrão de comportamento, aquele que visam o lucro “fácil”, aquele que não possui a cor de pele que geral não odeia, são as pessoas que se auto-elegem para participar do jogo, pré-moldado e configurado para que só exista uma classe de ganhadores. Brancos e ricos, seguem assim ao longo dos últimos mais de 50 anos controlando os seus lucros, e àqueles que o providência. Como canta Jorge Ben: “E Quero Ver Quando Zumbi Chegar”, e de nossa parte já identificamos em nosso dia a dia quem como Zumbi bate de frente com essa situação, e sobretudo quem rói a corda.
Nessa corrida de ratos, o Rap Nova Era trazem a caçamba e corda para esclarecer quem são os inimigos reais do nosso povo. Quem de fato está trabalhando dentro das margens da lei diuturnamente para nos manter na posição que estamos e matar o resto que ousar se desviar. A combatividade do Rap Nova Era, está em justamente não abrir mão de seguir marcando a ferro e fogo a cara da branquitude que controla o estado e as finanças e ao mesmo tempo mostrar que sim, somos humanos e merecemos viver.
Possuímos os mesmos sentimentos, fisiologia, capacidade subjetiva que eles, porém não temos esse direito básico reconhecidos dentro de um estado que se diz de direito. Ora, diante da opressão total, a violência se faz justificada e sem ideinha! Como nos falou um outro poeta da Ugangue: “Saia pra buscar se não é pista, estuda”, cantou Vandal. E com uma linguagem simples que o Rap Nova Era, vai junto com suas músicas lançando audiovisuais que só chegam para somar nas visões que os caras querem passar para os favelão!
Com a direção do mano Ícaro Luan que produziu uma audiovisual que registra ações de um mesmo ser humano, que tem em Ravi Lobo (Rap Nova Era) o protagonista, como ator principal, que não pode deixar de contar com seus irmãos, o mano Moreno e DJ Kbça. Não pode deixar de contar nos corre da música com o grupo Rap Nova Era, mas que no “filme” são parceiros da ação entre amigos.
É o que nos mostra o clipe de “Sem Refrão”, onde o trio joga um empresário no porta mala de um carro. Com o beat produção da “Coro de Rato”, codinome do mano Yuri Loppo, enquanto acompanhamos as cenas de sequestro, ouvimos as linhas de Ravi que não deixam de alertar para o fato de que tudo aquilo ali, é tudo ilusão e já tem um roteiro pré-estabelecido pela branquitude. E essa é uma caractéristica que o Rap No va Era, vem mostrando bem ao longo
Na segunda parte do “curta-metragem”, em “Love In Crime” com o beat do mano Dactes, a primeira love song do grupo serve como complemento ideal para o seu par anterior. Aqui, Ravi Lobo é focalizado pelas câmeras com um par romântico humanizado diante daquelas visões que chamávamos atenção acima. Com sua esposa, o papo é outro, é aquela outra banda que é talvez o normal, o elemento normalizador de qualquer sociedade, o reconhecimento de que todos nós precisávamos, precisamos, ou precisaremos de amor, de compreensão e afeto. Para que consigamos ser os seres humanos que podemos ser!
-Sem refrão, Rap Nova Era se equilibra entre amor e crime
Por Danilo Cruz