Punk, documentário produzido pelo Iggy Pop – DICAS! Comentários sobre a excelente produção que joga novas luzes sobre a história do gênero!
A primeira vez que ouvi falar do documentário Punk foi quando rolou na coletiva de imprensa para divulgação, a clássica treta entre Jhonny Rotten e Marky Ramone, isso por si só já atraiu muitos holofotes para o doc.
Mais recentemente a Globo começou a jogar chamadas, nos intervalos comerciais, sobre o documentário, que está sendo passado no Globoplay em formato de série, com 04 episódios. Como eu não tenho Globoplay fiquei no gostinho.
Contudo, eu não tenho qualquer chefe, eu tenho O CHEFE! Isso mesmo caros leitores e leitoras, Danilo Cruz, a cara do Oganpazan, é um chefe da porra!!! O cara me veio, do nada, com um link do Google Drive que continha o documentário completo, em forma de série, legendado e todo buntinho, pronto para o meu deleite. Nada mais justo que eu retribuir com uma matéria sobre.
Vou utilizar a mesma lógica da Globoplay e dividir os comentários em 04 partes, até para contextualizar historicamente de uma forma mais didática:
Protopunk, como tudo começou.
O primeiro episódio faz uma abordagem do protopunk, trazendo personagens e músicos que foram essenciais e embrionários para o que viria a ser chamado chamar de punk ou punkrock.
Bandas como The Who, MC-5, New York Dolls, The Dictators e por óbvio o The Ramones, que se destacava das demais por sua simplicidade e genialidade.
Um ponto interessante foi a influência do The Stooges nessa fase embrionária, não sei se isso ficou mais nítido no documentário por conta de Iggy Pop ser produtor executivo, mas fato é que diversas pessoas citaram a presença de palco dele como algo de extrema influência para o punk.
A explosão Punk na terra da Rainha e o retorno as origens
A história segue no segundo episódio, demonstrado o quanto o punk na década de 70 era renegado em seu país de origem, bem como todas as dificuldades das bandas da época em fechar shows ou vender discos.
Por outro lado, demonstra também como foi bem aceito e capitalizado por Malcolm McLaren na Inglaterra, país onde o Punk teve uma explosão entre os jovens, fazendo por sua vez surgirem diversas bandas no final da década de 70, dentre elas o Sex Pistols, The Clash e The Slits.
Esse episódio é bem interessante por demonstrar que na Inglaterra diversas garotas passaram não apenas a ser público como assumir o protagonismo das bandas Punks, que até o momento era bem focada nos caras. Outro ponto que vale ser observado é a diferença, nítida, entre o punk norteamericano e o inglês.
Enquanto nos EUA era algo bem tranquilo, descomprometido e com letras focadas na diversão e em cheirar cola, na Inglaterra as letras focavam na política, contestando o governo e retratando a realidade da juventude sem futuro, sem emprego e sem perspectiva de vida.
Com toda badalação do Punk rock na Inglaterra, bem como os diversos problemas acumulados pelo Sex Pistols no país, era fundamental uma tour internacional para dar uma aliviada na barra. O país escolhido não poderia ter sido melhor: EUA.
O documentário retrata como foi essa polêmica tour norteamericana dos Pistols, onde além de trazerem de volta o punkrock para os EUA, dando novamente visibilidade ao estilo, trouxeram também uma forma diferente de curtir o som, o que aqui no Brasil chamamos de pogo punk, que já era bem comum nos shows realizados na Inglaterra.
Com esse novo gás do Punkrock diversas bandas surgiram e o punk mais uma vez se reinventou.
A ameaça Hardcore
Em meados de 80 as bandas não apenas estavam tocando aquele punkrock clássico, elas decidiram por acelerar e pesar mais as coisas, surgia ai o Hardcore.
Essa fase, como retratada pelo documentário, foi uma fase bem complicada dentro do meio underground, pois não apenas as bandas estavam mais agressivas, o público era via de regra violento, composto por membros de gangues e tudo mais, inclusive supremacistas brancos. Aqui a dança já não era o pogo punk, tinha mosh pits, stage dives e tudo regrado a nariz quebrado e cabeças partidas.
Bandas como a canadense D.O.A., Bad Brains e Black Flag foram fundamentais nessa fase, marcada por muita violência, agressividade, misoginia e afastamento do público.
O afastamento se dava, basicamente, porque nem todo mundo quer sair de casa e voltar com a cara quebrada ou, invariavelmente, ser preso pela polícia local que reprimia fortemente os shows de hardcore.
Foi também nessa fase que surgiu, dentro da cena hardcore de Washington, a subcultura Straight Edge, com os Teen Idles e posteriormente o Minor Threat.
Com tanta segregação, violência e todos os problemas parecia que era o fim do punk nos EUA.
Punkrock, Dinheiro e Mainstream
Todavia estamos falando do Punk e uma coisa que foi dita, de diversas formas nesse documentário é que o Punk nunca vai acabar, pois enquanto houverem jovens que não sabem tocar e querem fazer rock; enquanto houver alguém insatisfeito com a conjuntura política de onde vive; enquanto tiver alguém excluído ou revoltado com seus pais, o punk vai existir.
E é bem por ai, a ameaça punk é eterna, ela vai se modificando, mutando, mas sua gênesis permanece ali.
Na década de 90, por exemplo, é notado que o grunge que as gravadoras tanto sugaram, tinha muito do punkrock em sua essência, assim como foi uma cena bem inclusiva, tendo uma boa quantidade de bandas compostas por garotas. As L7 apesar de não serem de Seatle, bombaram muito nessa época.
Ainda falando de movimento de garotas na cena, um bem importante foi o Riot Grrrl, encabeçado pelas meninas do Bikini Kill, que mantinham uma boa relação com o Nirvana e o pessoal do grunge.
Em paralelo a todo esse lance grunge, estava se criando a nova mina de ouro da indústria musical, o hardcore melódico / Poppunk.
Bandas como Green Day, NOFX, Pennywise e The Offspring, estavam na estrada e prestes a sair dos seus selos para assinarem com grandes gravadoras ou fazer com que selos de pequeno porte, comparado as grandes, vendessem mais 10 milhões de cópias.
As bandas de hardcore melódico estavam em alta nos vídeos de surf e skate. Aproveitando todo esse hype, um produtor musical decidiu criar um festival itinerante que agregasse toda essa geração de bandas, o Warped Tour.
Porém, como a história do Punk é de altos e baixo, a coisa mais anárquica que poderia acontecer, paradoxalmente fodeu com meimundo de banda: Napster e serviços de compartilhamento de músicas gratuitas.
Confesso que quando descobri o Napster achei a coisa mais maravilhosa do planeta, afinal iria dar a possibilidade das pessoas terem acesso, mais facilmente as músicas. Necessário lembrar que nessa época o valor dos CDs não eram nada justos. Por óbvio que de pronto imaginei que isso ia foder com as gravadoras e também achei o máximo, mas não imaginei as implicações futuras disso para as bandas de hardcore / punk.
Porra, óbvio que segurar uma porra de artista pop num esquema de gravadora é bem mais fácil que um banda de hardcore / punk, então os primeiros a sifoderem com a queda das vendas de discos foram essas bandas, para além disso depois de um tempo a mídia física, o CD, ficou obsoleto e isso também eu não acho legal, eu amo CD’s.
Nesse ponto, mais uma vez o punk toma um baque a pergunta é, o punk ainda vive?
A resposta é: você tem de assistir o documentário e, o mais importante, vivenciar a cena local.
Se você chegou até aqui, significa que se interessa bastante pelo tema e merece um prêmio. Caso não tenha acesso ao Globoplay, eu subi os episódios do documentário no YouTube, aproveite até que eles tirem do ar:
-Punk, documentário produzido pelo Iggy Pop – DICAS!
Por Dudu