Lançado no dia 02 de agosto, o single Quando Eu Crescer, mostra o punch agressivo desse power trio dilacerador.
A intensidade presente nas músicas e performances ao vivo das Time Bomb Girls hipnotiza, impedindo que a atenção do ouvinte/ espectador seja desviada. Esse fato atesta a qualidade de uma banda. Isso porque sabemos bem que a maioria das pessoas colam nos rolês, mesmo na cena independente, para bater papo e interagir entre si. Comportamento que faz com que as bandas sejam reduzidas à meras executoras de música de fundo. Nesses casos falta apenas alguém subir ao palco e pedir para diminuir o som pois está impedindo que a conversa transcorra bem.
Antes mesmo de completar um ano a Time Bomb Girls lançou seu primeiro trabalho autoral. O Ep homônimo possui duas faixas, Confere com a Muda e Not a Sad Song. As faixas apontam as influências da banda que vão da surf music, passando pelo punk, garage, country até o pschobilly. Ambas as músicas revelam a identidade sonora da banda, um hibridismo dos gêneros que as influenciam mais a forma de tocar original que a banda possui. Isso evita a mimetização das influências levando à criação de algo novo.
Em Não Fale Com A Muda conseguimos perceber bem de leve uma levada rockabilly bem desenhada pelas linhas do baixo, que entra em choque com a linha melódica cantada agressivamente, de modo quase estridente. Esse choque não gera repulsão, ao contrário, produz camadas sonoras distintas, por vezes contrárias, mas convergentes. A música ganha peso e gravidade, levando o ouvinte a experimentar emanações sonoras vindas de um centro irradiador bastante intenso.
A natureza das TBG é selvagem, sobre isso não há discussão!! Not A Sad Song também une ingredientes contrários, pois ao mesmo tempo que se revela dançante nos faz perceber certa remissão à contemplação. Nos coloca em contato com duas dimensões distintas sem nos retirar do contato com o prazer auditivo.
Feito esse rápido percurso através dos trabalhos anteriores das TBG, podemos agora falar sobre o mais recente lançamento, o single Quando Eu Crescer. Um punk rock cheio de veneno que revela o sonho de criança das minas em serem Bikini Girls With Machine Guns.
Em tempos de suspensão do estado democrático de direito, em que há uma escalada de forças reativas extremistas no país, regidas por um governo cujas práticas estão pautadas em fundamentos fascistas, ser dona de casa, empresária, importante ou a Luana Piovani e aspirar por comprar casa, carro e ter uma vida de comercial de margarina só reforça comportamentos em conformidade com essa realidade distópica.
Quando Eu Crescer coloca em pauta uma questão que sempre foi central, a luta feminista por afirmar os desejos, anseios e o próprio ser da mulher, que é tudo menos aquilo que está em acordo com um projeto machista. Pois bem sambemos que o machismo sempre se fez presente na história da humanidade, porém, em tempos de bolsonarismo, a luta feminista se torna ainda mais importante. Isso porque essa onda extremista verde e amarela cria forças de combate ao feminismo e o coloca como baluarte da destruição da feminilidade, daquilo que do ponto de vista do machismo, constitui a essência feminina.
O novo single das TBG destrói qualquer tipo de imagem machista da mulher. A música nos apresenta uma metáfora da feminilidade permeada por uma rebeldia selvagem, conduzida por uma força incontida de contestação de qualquer realidade opressora. Nesse sentido estamos diante de uma música feroz que dialoga com seu tempo, sombrio é verdade, colocando-se em posição de ataque a toda e qualquer forma de aprisionamento das mentes e corpos femininos.
As Time Bomb Girl são:
Sayuri Yamamoto – guitarra, gaita e voz
Déia Marine – baixo e voz
Camila Lacerda – bateria e voz