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10 discos pra entender o reggae baiano, confira!

10 discos pra entender o reggae baiano, confira a seleção de álbuns fundamentais para adentrar a força e pluralidade da música reggae baiana!

 

Fazer trabalhos de modo independente depende de muitas coisas, o melhor aproveitamento do tempo, as alianças e o apoio de quem admira e reconhece o nosso esforço. Essa matéria foi feita a 6 mãos e fruto de uma amizade e respeito, Fábio Mandingo, escritor e professor (meu colega de rede) de história na prefeitura de Salvador, Bobo Tafari meu colega de faculdade, formado em Sociologia e baixista do projeto Império do Ragga e Libertai. A caminhada desses dois manos pela cultura negra de resistência em Salvador dispensa apresentações. Contamos ainda com o nosso querido amigo sergipano apreciador da boa e velha reggae musica Felipe Roots, que produziu a arte exclusiva da matéria!

Mas, sempre na espreita de produzir um material de qualidade para o nosso querido site, convidei os dois para fazermos uma matéria sobre 10 discos fundamentais do reggae baiano. Fiquei muito feliz quando os dois prontamente aceitaram e o resultado vocês podem conferir abaixo. São 10 discos: 3 de cada e eu escolhi 4 álbums que consideramos importantes para a história do reggae baiano. Não pretendemos fazer algo cronológico e ou por ordem de importância, muitos menos rankeado o valor de cada obra. São discos que nos tocam profundamente e ou sabemos de sua importância para a história e o desenvolvimento do cenário reggae baiano.

Privilegiamos aqui uma mosaico que abrange as diversas manifestações presentes ao longo da história do Reggae baiano do roots, passando pelo dub, pelo ragga, dancehall até o pop reggae! Enfim, muita gente boa não está aqui, mas isso é somente uma excelente desculpa para fazermos outros discos essenciais pro reggae baiano, pois a nossa história é gigante!    

Edson Gomes – Regaste Fatal (1995)

Mudei meu escolhido por motivos de não conseguir localizar o disco de estréia do Adão Negro nos streamings, e passei pro jogo fácil por um motivo simples: Resgate Fatal (1995) possui uma primeira música de introdução que diz algo fundamental hoje: “Quero meu direito de ser o que eu quiser ser”. Em qualquer favela de Salvador, qualquer faixa etária conhece Edson Gomes, meus alunos conhecem, eu quando criança em Santo Amaro, ouvia músicas diferentes dele na medida que caminhava pelas ruas. Sua importância para a consolidação do reggae na Bahia é inconteste, a força de sua música é facilmente e instantaneamente percebida, basta tocar.

O maior e com o perdão de todos, o melhor reggaeman do Brasil lançava em 1995 um dico com 13 faixas que hoje, muitos conseguem cantar todas. Eu pelo menos, ouvi esse disco tantas vezes, que certamente não esqueci nenhuma. É um disco com uma sonoridade totalmente pra cima, e as primeiras faixas do disco representam isso muito bem sem deixar de fazer criticas potentes a nossa Babilônia. Uma banda muito azeitada segurando a mesma qualidade dos três clássicos discos anteriores, em músicas como “Olinda”, “Resgate Fatal”, “Issac” entre outras. Os ataques dos metais aqui são sempre certeiros e não saem mais da memória culpa dos arranjos e da execução Nivaldo Cerqueira (Sax Alto), André Becker (Sax Tenor), Ferreira Filho (Trombone) e o mestre Joatan Nascimento (trumpetes).

Lazzo Negrume dá aulas de baixo em “Devolução” onde Edson compoem uma música também atual sobre o exterminio índigena ainda e agora com mais vigor no atual momento. A banda ainda conta com Bastola e Quinho (percussão), Zé Paulo e Tinho (guitarras), Robson Nonato e Saraa Cronin (teclados), Júlio do Rosário e Quinho (bateria), feras que seguram um disco totalmente pra cima com uma qualidade muito rara. Edson Gomes, é jogo certo sempre, sua discografia é um patroimônio do reggae baiano, e despensa apresentações maiores, escute!

Por Danilo Cruz

Dionorina – Música das Ruas (1994)

Um dos grandes mestres do reggae nacional, Dionorina é um nome que sempre ouvia mas nunca conseguia escutar. Conforme fui pesquisar mais a fundo a nossa história musical preta na Bahia, seu trabalho se tornava incontornável . Assim que você der o play em Música das Ruas (1994), ficará totalmente escuro para você o porque esse disco é um clássico do Reggae Nacional e porque Dionorina é um dos grandes entre os grandes!

Dono de um timbre vocal delicioso e de uma força de composição muito ampla, seu disco é um dos mais fortes do ínicio das gravações profissionais do reggae baiano. “Porrada de Polícia” é um dos seus clássicos e ao longo das dez canções presentes no trabalho, podemos perceber também sua potência como interprete ao gravar o clássico underground Nego Dito (Itamar Assumpção). A música homônina ao título do disco é uma das mais bonitas presente nesse debut. Cheia de imagens bonitas é um símbolo do que é o poder do reggae: “música das ruas, lamento dos guetos, sou a verdade, alma nua, sou reggae a fúria dos ventos”. Um clássico imortal!

Por Danilo Cruz     

Ministereo Público – Sistema Perambulante de Som (2011)

Esse coletivo e suas quintas dancehall foram um ponto de virada na cultura do reggae baiano, mostrando que essa Kingstom brasileira, que é Salvador possúia um bonde nervoso de DJ e “toasters” prontos pra colocar fogo nessa Babilônia que é toda nossa. Agregando diversos mc’s oriundos do rap baiano, nas sessões de microfone aberto, assim como as minas que bagaçavam certão fritando a audiência com rimas nervosas e cheias de uma malemolência especial.

O que o Ministereo Público promoveu como um coletivo de Djs, pesquisadores da música jamaicana e de seus desdobramentos, ainda não foi plenamente avaliado. Dudoo Caribe, Regivam, Dj Raiz, Lord Breu, Dj Magone, ajudaram com suas pesquisas e apresentações a abrir trilhas para a música baiana no século XXI. Russo Passapusso, Dimak, DaGanja, Vandal, Soraia Drummond, Fael Primeiro, Semente da Paz, Nailah, são alguns dos excelentes vocais presente ao longo das 19 faixas! Disco Fundamental é pouco…

Por Danilo Cruz 

SISTEMA DE SOM PERAMBULANTE by Ministereo Público Sound System

Dubstereo – Dubstereo (2013)

Um verdadeiro dream team da música jamaicana da Bahia está presente nesse grupo e seu primeiro e último disco é uma excelente apresentação do quanto nossa tradição vem sendo trabalhada e ampliada. Formado por Russo Passapusso (voz), Fael 1º (voz), Jorge Dubman (bateria), Alan Dugrave (baixo), Gabriel Simon (teclados) e Jardel Cruz (percussão), Tiago Tamango (teclados) e Prince Áddamo (guitarra). Essas feras reunidas conseguiram o feito de lançar um debut que entrou pra história. Começar logo chamando atenção para a bagaceira que Dubman e Dugrave fazem em “Sem Crise”, toda a banda é competentissíma e essa dupla trabalha como Pelé e Pepe do groove. A composição de Russo é uma das coisas mais bonitas e fortes do disco.

São 11 faixas e em absolutamente ‘todas a virtuosidade dos músicos pode ser sentida como em “A Invasão” e “Café Quilombo'” uma dubzera nervosa e super groovante, dois temas instrumentais que impressionam. “SOS Dancehall” e a primeira versão de “Jah Jah Revolta” que depois seria suesso com o Baiana System, ainda hoje tocam nos meus fones e é literalmente impossível não me fazer dançar pelas ruas de Sal City. Descubram ou redescubram essa joia do nosso reggae!

Por Danilo Cruz  

Geraldo Cristal – ReggaeEssência (2003)

No início dos anos 1990, Salvador era uma cidade que pulsava arte e cultura favelada nas ruas da periferia e do centro da cidade que também era um grande favelão disfarçado dentro dos casarões coloniais. Nos palcos &  praças , nos imóveis ocupados, estavam os Rastas, os Punks, os Loucos, os Poetas, os Atores, lapidando em arte seu ódio, sua revolta, e sim, seus amores. Foi por essa época aí que eu vi pela primeira vez um show de Geraldo Cristal e Banda KGB, se bem me lembro no sindicato dos bancários, em um show em que tocavam bandas de Reggae e bandas Punks, coisa muito comum naquela época. A mensagem batia pra mim tanto quanto os graves do contrabaixo: medo da polícia, cabreiro com os ladrão, altamente cabreiro com a “proteção do estado”, mas também tateando na espiritualidade, no amor entre os nossos e na ampliação da consciência para “atravessar fronteiras mentais e revitalizar o amor” reggaeando a babylônia pra baixo…

O disco  vem em um momento (2003) em que a música de Cristal já estava consolidada como referência na cultura popular da cidade principalmente pela potência das apresentações ao vivo. Geraldo Cristal além de cantar, segura o “one drop” na bateria que também conta com Valdir Teles. 

Fundamentalmente um disco de Roots Reggae, ReggaEssência flerta  em alguns momentos com o rock e com outras vertentes da afroMusic. Necessário destacar a presença luxuosa dos craques Milan Gordilho e Alex Pantera nas guitarras. Milan e Pantera sozinhos já merecem um verbete em qualquer enciclopédia dos grandes instrumentistas do Rock e do Reggae baiano.

Recentemente a música que dá título ao disco, ganhou um belíssimo videoclipe produzido por Giovanni “CoisaForte” Sobrevivente e Omim Onawalê. Vale a pena buscar. Máximo RasPect ao Garveyta Geraldo Cristal.

Por Fábio Mandingo 

Ras Ciro Lima – Hailê Selassiê I (2003)

-Nos fundos do corredor de entrada do Passo 48, cinco, seis, oito Rastas noite adentro tocando Nyabingui com o suor escorrendo na testa. Plugada na caixinha , a guitarra de Ciro cortando um rock steady arranhado. No CSU Pernambués, Berimbau tocando um São Bento Pequeno arrastaaaaadooooo para os irmãos subindo e descendo no jogo da mandinga. No Beiru, falando aos meninos do Jornal sobre os caminhos. No Terreiro de Jesus, tocando berrante, batendo um bumbo, sem dar golpe em vão. Pausa para o discurso.

Ras Ciro Lima. Ras Ciro Trindade. Mestre Ciro.  Reggae só Roots, Capoeira Só Angola. 

Não é à toa que o disco começa com esse teclado de igreja. I-gre-Jah. Em verdade o disco todo tem uma pegada GodSpell nas letras, na proposta e na sonoridade sacra proporcionada pelos teclados, pelos corais e pela participação magnetizante da grandiosa cantora lírica Rita Braz. Essa atmosfera, no entanto, não se desequilibra com a batida do Roots, com a guitarra dedilhada, com o peso grave do Nyabingui com o qual seu filho Naum é convocado, e nem mesmo com o Afoxé reggueado da faixa que homenageia o tradicional Bloco Amantes do Reggae. Mas o disco é fundamentalmente uma oração Rasta em família. 

Capoeira só Angola, Reggae só Roots…isso eu levava pra mim…

Nifé já é homem barbado e ainda escuta “acorde Nifé!” quando vem no Passo…as crianças do Passo…porra…

“Saiam, saiam, saiam Rastas do Pelô! Nada mais que escuridão…”

Por Fábio Mandingo

Remanescentes – Remanescente (1992)

Eu que me achava conhecedor do Reggae Baiano… eu que me orgulhava de conhecer a história de Jorge de Angélica, o Jorge Radical que não comia nada de ninguém, das estórias que meu irmão me contava…de ter visto no show de Dionorina…de ter visto esses primeiros shows do Novo Tempo onde as principais bandas de Reggae da minha geração despontaram…

…fui pego no pulo comendo banana quando o cumpádi do meu cumpádi, o professor e Capoeira Otávio Neném (prefeito não declarado de Cachoeira), me falou sobre os Remanescentes. Remanescentes do Paraguaçu. Como assim uma banda de reggae em que tocavam JUNTOS Tim Tim Gomes, Nengo Vieira ,  Sine Calmon e João Teoria???? 

Fui buscar. Encontrei. Como é imensa essa cidadezinha chamada Cachoeira, co-berço de tudo de Preto que move esse cativeiro brasileiro!!!!!

Das margens do Paraguaçu, em plena América do Sul…, o disco além de ser um Manifesto, enquanto proposta de uma perspectiva Rasta muito própria de Cachoeira, também é um Manifesto Estético Musical, posto que as sonoridades instrumentais e vocais ali postas são, inegavelmente, referenciais  pra quase tudo do Reggae que foi produzido na Bahia nas duas primeiras décadas do XXI, inclusive porque algumas das músicas do Remanescentes iriam se tornar sucessos das carreiras individuais dos seus membros, posteriormente à dissolução da Banda. 

Estude Remanescentes do Paraguaçu!

Por Fábio Mandingo

Irmandade Brasmorra – Denunciando a mentira e glorificando a verdade (2005)

A banda Irmandade Brasmorra, oriunda da Cidade Baixa, um territorio de Salvador sem tradiçao de bandas de Reggae ate o seu aparecimento, se notabilizou como uma das bandas mais populares do Brasil e possivelmente como a principal representante do Reggae baiano da geraçao pos Sine Calmon, inaugurando um novo periodo na História do Reggae na Bahia. Com seu Reggae politicamente combativo e filosoficamente espiritual conquistou admiradores em varios Estados do Brasil o que lhes rendeu a oportunidade de se apresentar nos grandes eventos de Reggae de Salvador ao lado de icones do reggae mundial como Max Romeo, The Congos, entre outr@s.

O disco “Destruindo a mentira e glorificando a verdade” nos apresenta o principio dessa caminhada e contem o dna do som da Brasmorra, mensagens simples e diretas acompanhadas por uma sonoridade basica, sem muitos artificios tecnicos, com forte inspiraçao no som produzido nas Ihas Virgens e popularizado pela banda Midnite, principalmente nos dois primeiros discos Unpolished e Ras Mek Peace. 

O disco traz muitas das faixas que posteriormente se tornaram clássicos do Reggae baiano, verdadeiros hinos cantados em coro pelo publico nas apresentações da banda.

Por Bobo Tafari 

Sine Calmon & Morrão Fumegante – Fogo na Babilônia (1997)

Recém chegado no Brasil em meados dos anos 80 o Reggae caminhava a passos lentos tendo somente Edson Gomes como principal expoente na industria fonografica ainda bastante fechada para o ritmo. No inicio dos anos 90, o lançamento do disco de um conterraneo, o Remanescente Sine Calmon, ira sacudir toda a cena da musica baiana, tendo uma de suas musicas eleita como musica do carnaval e rendendo ao seu interprete inumeras premiações. Tal realizaçao inseriu o Reggae definitivamente no contexto da industria musical da Bahia abrindo uma perspectiva para uma serie de instrumentistas que nao se identificavam com as opcoes oferecidas pelo mercado musical baiano que naquele momento era dominado pela hegemonica Axé Music, gerando uma explosão de bandas de Reggae.

Fogo na Babilonia é um disco antologico e fundamental para todo aquele que quer conhecer as bases do Reggae feito na Bahia e de como esse Ritmo originalmente jamaicano encontrou tradutores a altura da sua sofisticaçao ritmica, harmonica e melodica. Grande parte do material apresentado no disco ja vinha sendo amadurecido anos antes através das apresentaçoes da banda Remanescentes do Paraguassu, da qual Sine Calmon fez parte e que pode ser considerada a primeira banda de Reggae do Brasil, algo comparavel ao que a The Wailers representava na Jamaica. 

Foi nesse berço, ás margens do Rio Paraguassu que nasceu Fogo na Babilonia, um dos grandes discos de Reggae lançado no Brasil.

Por Bobo Tafari

Diamba – Ninguém Está a Salvo (1997)

Em seu disco de estreia Ninguém Está a Salvo, a banda Diamba nos apresenta uma forma de fazer Reggae autênticamente baiano mas sem o compromisso de manter princípios musicais sagrados aos ouvintes mais ortodoxos de Reggae. Utilizando elementos musicais e poéticos tipicamente nordestinos bastante presentes na lírica do vocalista Duda Sepúlveda, acrescentaram a intensidade do Rock bastante evidenciada nas guitarras de Rafael Pondé e Tadeu Patola mas principalmente na condução do baterista Caio Frenn apoiado pelo contrabaixista Renato Nunes, remetendo a bandas como Steel Pulse, Israel Vibration assim como Led Zeppelin e também Luiz Gonzaga.

Apesar de fazer parte da geração do reggae da década de 90, que pode ser considerada como a segunda, apresenta uma sonoridade diferenciada diante das demais bandas soteropolitanas desta época, ainda bastante influenciadas por Bob Marley e pelo Reggae feito no Recôncavo baiano. O que a levou a ser uma das grandes representantes do Reggae baiano no Brasil.

Por Bobo Tafari

https://www.youtube.com/watch?v=8KVkLCydqyA&list=PLGt7MPQY0bFMfMpxaLVfwlI_Rt6ey7BCH

-10 discos pra entender o reggae baiano, confira!

Por Danilo Cruz, Bobo Tafari e Fábio Mandingo

 

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