Oganpazan Entrevista Lord Breu

Você conhece o trabalho do Dj e Produtor Lord Breu? Então leia a nossa entrevista com essa figura de destaque da cena eletrônica brasileira.

Lord Breu 1 Felipe Pires
foto: Felipe Pires

Lord Breu é um pensador eletrônico que utiliza nossa ancestralidade musical em suas frequências mais graves, para nos posicionar inteiros no presente atual da música global. Sim, através da audição das suas produções constatamos facilmente que o seu poder criativo – e suas pesquisas – utiliza os nossos tambores com a intenção de dialogar com outros povos da diáspora, com outros guetos mundo afora. Um dialogo estranho, é bem verdade. Pois mais preocupado na convergência de fluxos rítmicos que na mera troca de palavras, um pensamento do corpo que se identifica através das diferenças entre os locais, entre os territórios percorridos. Mas que certamente encontra sua porção globalizada justamente na mesma medida em que afirma toda a sua singularidade através da potência da música afro baiana.

Dj e produtor já com um currículo bastante significante, figura simpática no trato, Lord Breu nos deu uma oportunidade ímpar de aprendermos um pouco mais sobre música eletrônica, sobre ele mesmo e sobre a cena baiana contemporânea. Confira o papo que tivemos logo abaixo.

 

 

Oganpazan – Onde você nasceu e foi criado? Como você lembra da música na infância e adolescência? O que você ouvia nessa época?

Então, sou Baiano de Salvador, nascido e criado no bairro da Ribeira onde vivo até hoje. A música sempre esteve presente na minha vida. Minha família é grande e todos são muitos próximos, e quase todos tocavam algum instrumento. Nos finais de semana era muito comum as tardes com percussão, violões, teclado no quintal da casa dos meus avós. Estas são as melhores lembranças relacionadas a música na minha infância e adolescência, mas não posso deixar de citar os carnavais e as batucadas, sempre acompanhado dos mais velhos. Com tanta gente reunida, entre parentes e amigos, ouvia-se muita coisa diferente, e eu, o mais novo neste meio, absorvia de tudo: mpb, rock nacional, música baiana, reggae, punk rock, samba, salsa,  música afro e outras coisas que eram legais e eu não conseguia rotular. Foi assim basicamente até os meus 14 anos, quando começaram a surgir as preferencias e as pesquisas mais direcionadas.

Oganpazan – Lord, como começou o seu envolvimento com música?

A cultura Afro-brasileira sempre esteve presente como uma veia principal, somado a todo o caldeirão musical das influencias de todos que estavam ao meu redor desde a infância. Mas o meu primeiro projeto foi um grupo de Rap, em 97. Foi quando tive os primeiros contatos com a produção musical, inicialmente através de loops e samples.

Oganpazan – Quais são suas principais influências musicais?

Tenho muitas influencias, mas as principais são a cultura Afro-brasileira, a cultura dos sistemas de som jamaicanos, os ritmos regionais latinos e africanos e a cultura eletrônica dos guetos de diversas partes do mundo.

Oganpazan – Como começou sua carreira artística, você já começou nas pick ups?

Comecei a minha carreira produzindo instrumentais de Hip Hop no final dos anos 90 (eu formei um grupo de Rap em 97, e na época, eu rimava e produzia), e no mesmo período, comecei a ouvir Dub e me aprofundei nesta pesquisa (o que mudou a minha visão da música, e talvez da vida). Partindo disso, mergulhei em tudo que tivesse a influência do Dub jamaicano até chegar ao formato da Bass music atual. Comecei a fazer DJ sets e produções de Dub, Jungle e Ragga-jungle na cena eletrônica de Salvador em 2004. UK Stepper, Dancehall, Reggaeton, Kuduro, Breaks, Dubstep e outros estilos foram fazendo parte da minha pesquisa, que somados aos ritmos Afro-baianos, brasileiros e latinos, e a minha paixão pela música, cultura e festejos da minha região (Bahia), resultou no formato atual dos graves tropicais e globais da minha música.

Oganpazan – Explica um pouco pra gente o que é o Movimento Bahia Bass, e como se deu sua inserção nesse movimento?

O movimento Bahia Bass sugere a aproximação da cultura musical baiana com a Bass Music global, seja recriando os nossos ritmos de forma eletrônica, ou usando as influências e os elementos da nossa cultura musical como parte mais expressiva da música grave e contemporânea. Falamos em “cultura musical baiana” apontando para movimentos que vão além da Axé Music convencional (sem descartar a mesma, é claro), como a cultura dos Blocos Afros,  Afoxés, Samba de Roda, Samba-Reggae, Arrocha, Pagodão e outros.

A minha inserção no movimento Bahia Bass se dá com naturalidade, como a continuidade de tudo que venho fazendo e produzindo, chegando ao lance do Global Bass, onde são somadas as minhas expressões musicais, culturais e a vivência na minha região com a cultura eletrônica dos graves globais que venho pesquisando e produzindo. 

Em 2014 fui convidado por Mauro Telefunksoul em parceria com o selo Braza para participar da primeira coletânea do gênero (Bahia Bass Vol.1, e da qual participei dos outros dois volumes), pois eu já tinha faixas publicadas com esta estética desde 2005… e outros artistas já tinham faixas publicadas nesta linha bem antes! Antes mesmo de existir um rótulo, eu sempre achei mais interessante somar a minha música elementos locais (assim como a maioria dos artistas baianos). A nossa bagagem cultural é muito rica e atraente!

Mas é importante citar que o formato, naturalmente, sempre foi praticado por aqui, só que com os nossos ritmos locais. Sempre tivemos os nossos próprios graves, sejam nos tambores dos blocos afros e afoxés ou nos sistemas de som das festas de largo e trios elétricos, dentre outros.

 

Oganpazan – Preciso de uma aula, Bass music, Global Bass, Bahia Bass, como se dá essa relação? Me parece que são movimentos onde se valoriza aspectos  que negociam entre o global e o local, é isso mesmo, explica pra gente ?

Exatamente isso. Global Bass é a Música eletrônica baseada em frequências graves, desenvolvida a partir ou sob influencia direta da música e cultura regional de diversas partes do mundo. Dentro deste contexto existem vários gêneros e subgêneros; são nestes subgêneros que encontramos o Bahia Bass.

Oganpazan – Como você vê o momento atual da música preta baiana, e da música baiana em geral? Você sente um enfraquecimento do Axé como indústria musical? Acredita que esse enfraquecimento tem aberto espaço para outras manifestações musicais em nossa cidade?

Eu vejo um momento de independência, crescimento e valorização da nossa cultura e dos nossos ritmos, em diversos estilos musicais que estejam sendo feitos aqui, partindo não somente dos artistas e formadores de opinião, como também do público em geral.
Pensar atualmente em Axé music e no formato atual da nossa indústria da música é reconhecer a existência do desgaste e a necessidade de renovação. É dentro dessa necessidade que o leque se abre e surgem novos artistas e novas propostas. O que está faltando mesmo é a abertura de espaços, e dinheiro no jogo.

Oganpazan – Você lançou dois excelentes Ep’s ano passado, fale um pouco dos elementos musicais e influências que permearam esses trabalhos e como eles foram recebidos?

Em Junho de 2015 lancei o Dendê EP, pelo selo canadense Mal Dicen/Latino Resiste, com influências de Samba Reggae, Samba de Roda, Zouk Bass, Afoxé e Moombahton. A ideia começou a surgir após a minha apresentação na festa de Iemanjá (2 de fevereiro), de frente pra rua e pro mar, pro povo nas ruas. Na sequência, o carnaval formatou a ideia e após a festa momesca, comecei a produzir. Convidei 3 caras que eu gosto muito para participar com vocal nas tracks: Don Maths, FayakayanoMr. Cappy AKA Capitão América. Para a arte da capa convidei o artista visual Júnior Pakapym, que possui uma série de ilustrações de matriz africana que eu gosto muito e acompanho. Este time fechou certinho com a ideia do projeto. São todos meus amigos e a gente se bate sempre nas festas e na noite, muitas vezes, no mesmo line up.

Em Dezembro lancei o Inna di Samba EP (independente), com duas faixas que são frutos de experiências na  mini turnê que fiz em Sampa e nos festivais que participei no segundo semestre de 2015. A proposta foi dar continuidade aos experimentos com Samba Reggae e samba de roda, como um material complementar, para fechar o ano. Ambos foram muito bem recebidos pelo público, djs e meios especializados.

Oganpazan – Quais são os planos para esse ano, o que podemos esperar de novidade?

O plano é dar continuidade a essa construção, mergulhando cada vez mais nas infinitas possibilidades de produção com a nossa música e cultura, além de expandir a minha arte a novos lugares e fazer novos contatos. Gosto de lançar EP’s, coletâneas muito legais estão na agenda e alguns remixes estão por vir também. Em breve, novidades!

Quero agradecer a família Oganpazan pelo convite e pelo suporte, e parabenizar pelo trabalho que vem se tornando indispensável para a nossa cena baiana!

Vida longa!

O Soundcloud do Lord Breu é diversão garantida, escute aqui o EP Dendê e o remix para Andar com Fé do mestre Gilberto Gil:

 

 

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