Macaco Bong e sua Macumba Afrocimética

Macaco Bong e sua Macumba Afrocimética
Macaco Bong e sua Macumba Afrocimética

Existem grupos que surgem e rapidamente nos conquistam, apesar das poucas informações que conseguimos. A qualidade musical – que é o mais importante – seduz e a aliança se forma.

O Macaco Bong é uma dessas bandas que nós acompanhamos sempre na esperança de que os caras não desistam. Sim, não desistam porque deve dar um puta desanimo tocar num nível foda e não encontrar facilidades mínimas. A cada disco sentimos a afirmação ali contida, musicalmente sempre se diferenciando, buscando escapar da mesmice. Ter que ser excelente em tudo – além da música – deve cansar, obrigação de fazer o corre da divulgação, buscar lugares para tocar, ensaiar, compor, lançar material novo. Ufa…

O artista do underground (pelo menos aqueles que querem se manter) tem o trabalho de cruzar na área e chegar cabeceando sem desanimar. No entanto, ao que parece muitos desses artistas sacaram que o lance é se profissionalizar, estabelecer uma cadeia produtiva e de distribuição e partir pra estrada, afim de divulgar os trabalhos. A perspectiva é a de um dos títulos de disco deles: Artista Igual Pedreiro, nada de camarim com toalhas brancas, esperando tocar em gigantescos festivais. O trabalho principal é sempre o de formar um público. Todo artista que se preze sabe que a sua arte precisa criar um público, um povo por vir, pelo menos longe da ideia das plateias robotizadas, os famosos “macacos” de auditórios, amplamente encontrados em vários espaços de consumo da música.

Onde os fracos não tem vez, o Macaco Bong já conta com 10 anos de estrada, dois discos de estúdio, os excelentes: Artista Igual Pedreiro (2008) e This is Rolê (2012). Chegando agora ao seu terceiro disco de estúdio: Macumba Afrocimética (2015), com apenas Bruno Kayapy como remanescente da formação original. Contando com os novos integrantes Julito Cavalcante (guitarra e baixo) e Daniel Fumega (bateria), neste disco eles apostam numa sonoridade nova que certamente surpreenderá quem acompanha a banda desde os trabalhos anteriores.

Em seus primeiros discos as músicas possuíam um punch muito forte e arranjos arrojados, tendendo em alguns momentos para situações jazzísticas, com músicas longas. Sempre dosando peso e suavidade, construindo harmonias intrincadas e melodias que se quebram no ir e vir – entre o tema e os improvisos. Os flertes com o stoner, com o sludge metal, foram abandonados. Neste disco novo, encontramos um misto de balanço e contemplação, o ritmo diminui e as novidades se dão muitos mais em novos sabores, e numa calma inédita até então. Riffs fortes de baixo, num clima por vezes etéreo, mas que não abre mão da força que neste registro encontra uma bateria por vezes swingada, na construção de climas contemplativos. Talvez cause certo desconforto em quem estava acostumado à pegada antiga da banda, mas essa estranheza é logo superada pela qualidade do disco.

De nossa parte agrada esses novos ares e tempos que a banda passa a cultivar. Acreditamos que apostar indefinidamente na mesma fórmula funciona somente em raras exceções, no mais das vezes é mero sintoma de esgotamento criativo. E se pensarmos no fato do Macaco Bong trabalhar sempre com a música instrumental, aí é que a experimentação é mais do que bem vinda. Quem se dedica a criação instrumental deve sempre prosseguir no domínio do seu instrumento, o que consequentemente o leva – ou deveria – a experimentar novos caminhos. Bruno Kayapy enquanto mente que lidera a banda nos deixa claro com este trabalho que não busca meramente a aprovação da sua música. Ele não está na missão de se fazer “bombar”, mas de demonstrar o quanto é prazeroso explorar outras possibilidades para sua arte. E desta forma nos demonstra o quanto é salutar a busca por inovações, timbres, andamentos diferentes.

Para o admirador atento, ás vezes possuímos a sensação de estar junto aos criadores, na medida em que eles vão tateando esses territórios inexplorados. Não porque estejamos diante de uma obra amadora, mas pela honestidade da proposta e pela obra ser fruto de uma experimentação nova para a banda. Em alguns momentos a sensação é de estarmos sendo levados pela mão numa estrada, rumo ao deserto. Em outros, o espaço é preenchido por vozes, num ritmo cadenciado pela bateria eletrônica. Os riffs em geral nos chamam a parar um pouco e ouvir com mais atenção, que direção isso deve tomar?

O fato é que a morte da formação original fez o Macaco Bong renascer mesmo com outra cara, outro corpo, outra consciência. Uma banda nova, mas que não se vende como peixe a beira mar, que não encara o seu direcionamento como mero produto. Antes, eles apostam em produzir novos sons, uma usina sonora de afetos inovadores, capazes de continuar assegurando suas turnês por todo país e formando um público fiel. Mais um peixe nadando livre no imenso mar que é a música, descrevendo uma trajetória firme, honesta e imensamente criativa.

Para fazer o download gratuito do disco clique aqui e divirta-se.

 Nota: logo3_notalogo3_notalogo3_notalogo3_nota_meiologo3_nota_pb

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