Drones (2015) – Muse

Quem diria que um dos melhores discos de rock do ano viria do Muse. Dei o play sem muito entusiasmo e fui logo nocauteado com uma sequência de músicas pesadas, bem diferentes do estilo da banda nos trabalhos anteriores. Drones é um daqueles álbuns capazes de redefinir a trajetória de uma banda que parecia já ter esgotado um ciclo. O Muse tem mais de uma década de estrada, esse é o sétimo álbum do trio britânico que sempre teve como principal característica uma mistura de indie rock com música eletrônica. Nesse novo trabalho, porém, eles resolveram tentar um caminho diferente e investir numa ópera rock!

O disco é uma grande homenagem ao gênero que fez muito sucesso nas décadas de 70 e 80, principalmente entre bandas inglesas. Construir uma ópera rock de qualidade não é uma tarefa lá muito simples. A necessidade de ter um tema que unifique todas as faixas e conte uma história com começo, meio e fim, em muitos casos termina engessando o artista e o resultado são discos no mínimo cansativos. Porém, o Muse apostou no que de melhor existe na ópera rock, entregando um petardo bem equilibrado cheio de referências e homenagens.

A linha condutora de Drones é uma crítica ácida à sociedade de controle nos moldes do clássico The Wall do Pink Floyd. O clima apresentado é de um pesadelo distópico que faria George Orwell sentir calafrios, mas que infelizmente não é uma realidade muito distante do que vivemos hoje. Dead Inside abre o disco falando justamente sobre esvaziamento e alienação: “On the outside you’re ablaze and alive / But you’re dead inside”. A faixa já planta desde o início na cabeça do ouvinte a imagem de um batalhão de drones sendo liberado.

Depois do vazio existencial o próximo passo é a desumanização. E aí a coisa começa a ficar séria. Psycho mostra o processo de doutrinação pelo qual o personagem passa, com direito a um militar proferindo frases que remetem diretamente ao famigerado sargento Hartman de Full Metal Jacket. Um stoner rock visceral, a música é responsável por momentos simplesmente épicos como: “You ass belongs to me now”, ou ainda “I’m gonna make you / I’m gonna break you / I’m gonna make you / A fucking psycho”. Definitivamente não é o Muse que eu conhecia.

Em seguida o personagem começa a reagir à brutalidade a qual está sendo submetido. Primeiro de maneira passiva e chorosa em Mercy, esperando que a ajuda venha de fora e implorando por clemência: “I tried to change the game, I try to infiltrate, but now I’m losing”, e grita “Show me mercy, can someone rescue me?”. No entanto, o tom meloso dessa faixa é logo deixado de lado. Quando nosso herói percebe que a única maneira de defender a sua humanidade é utilizando suas próprias forças, o metal entra em cena. Reapers nos coloca em meio ao absurdo da guerra de drones: “You kill by remote control / And the world is on your side”. É através de riffs pesados e de solos nervosos e cheios de urgência que experimentamos a irracionalidade daquela situação.

A reação vem com mais uma pedrada, The Handler. Na primeira parte da música o personagem confronta sua desumanização e quando ele já está perto de voltar à lamentação de Mercy entra uma série de marteladas e pull-offs que muda tudo. Se antes ele parecia conformado com a sua condição: “My mind was lost in translation / And my heart has become a cold and impassive machine”, o final da canção trás o grito de revolta contra o manipulador do título: “Let me go / let me be / I must stand free / From your grip / You will never own me again”. Essas palavras abrem caminho para a sua apoteótica libertação em Defector.

A deserção do herói é contada numa maravilhosa homenagem ao Queen. “Free / Yeah I’m free / From society / You can’t control me / I’m a defector”. Os solos de Matthew Bellamy emulam com sucesso o estilo do Brian May, criando um clímax arrebatador que transforma a atmosfera do álbum. A música que vem logo depois já começa com a som de sirenes e com o clamor de uma multidão. Não é por acaso que o seu título é Revolt. O personagem percebe que a sua liberdade é ilusória e que a única saída é o levante popular: “You’ve got strength, you’ve got soul / You can make this world what you want / You can revolt”.

A introdução de Aftermath (a décima faixa) pinta um cenário desolador que lembra novamente The Wall do Pink Floyd. Porém, a música logo se transforma em uma espécie de hino que reforça a importância de superar a alienação na luta contra as forças opressoras: “From this moment / You will never be alone / We’re bound together / Now and forever”. O sentimento de esperança que emana desta música é a antítese do que encontramos no início do álbum com Dead Inside. O ciclo se fecha. No entanto, o final não poderia ser tão otimista. Em The Globalist somos confrontados com o apocalipse nuclear numa canção de dez minutos repleta de nuances e reviravoltas.

“There’s no country left / It’s gone, it’s gone for good / It’s you and me babe / Survivors”, canta Bellamy. Tudo que resta é o paraíso das máquinas, o éden dos drones. É assim que a jornada se encerra na última fixa que leva o nome do disco, com uma espécie de canto gregoriano em louvor aos drones. Fantástico! O Muse entrega um disco enérgico, rico e contundente com uma mensagem social que, apesar de pessimista, serve de alerta sobre os perigos que continuam rodando o mundo contemporâneo. É o rock’n roll no que ele pode apresentar de mais subversivo e poderoso. Quem diria…

Nota: logo3_notalogo3_notalogo3_notalogo3_notalogo3_nota_pb

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