Conversamos com Arthur Vinih antes do lançamento do novo disco

10645249_505070322966501_1858664839468931615_nÀs vésperas do lançamento de seu segundo álbum solo, procuramos Arthur Vinih para entrevistá-lo em primeira mão. O compositor mineiro fala sobre as novidades presentes no seu novo trabalho e das ambições que direcionam seus novos projetos.

Buscando recursos para cair na estrada levando o show Inverso pelas cidades do Brasil, Arthur mostra não ter tempo para esperar ser “descoberto” por alguém para dai alcançar seu lugar ao sol no competitivo, e porque não, saturado cenário musical brasileiro. O músico arregaça as mangas, investe, faz shows e corre atrás de patrocínios, fazendo do trabalho duro o instrumento para realizar seus objetivos.

Há tempos existe a figura do “músico incompreendido”, que tal qual Narciso olha no espelho e enxerga um gênio. Compreende a si mesmo como joia a ser descoberta no garimpo da arte e então ser lapidado. Esse sujeito está sempre focado em reclamar por não ter nenhum incentivo, seja de outros músicos, seja de empresas ou do governo, para financiar seus projetos pessoais. Arthur também reclama quando essas barreiras surgem, mas enquanto trabalha, enquanto pensa em soluções para os problemas emergentes.

Sua entrevista revela esse lado trabalhador, empenhando em alcançar qualidade estética e pagar as despesas inevitáveis quando se investe na produção de um álbum de ponta. Leiam e conheçam esse jovem compositor que nos convida a conhecer seu verso e seu Inverso.

 

Carlim/Oganpazan: Bem Arthur, finalmente está finalizada a gravação de Inverso. Vivendo a tensão de pré-lançamento do álbum não há outra pergunta para iniciar nossa entrevista que não seja quando Inverso será lançado oficialmente?

Arthur Vinih: Agora estou focado na reprodução das cópias, essa parte é importantíssima, pois qualquer erro compromete todo o trabalho, por isso estou procurando os melhores profissionais da área para me auxiliarem. Minha previsão é de fazer o evento de lançamento em Maio deste ano, disponibilizarei algumas faixas do álbum na internet até o dia do evento.

Carlim:  Como foi concebida a ideia inicial do álbum e o que motivou dar inicio a esse projeto?

A. Vinih: Minhas ideias de composições sempre mudam com o tempo, acredito que seja pelos diversos gêneros musicais que costumo ouvir, eles acabam me influenciando. Nunca consegui focar em um único gênero musical e como estava criando muitas composições diferentes, fiquei motivado a colocá-las em um álbum. Samba, Funk, Reggae, Valsa, Balada. Fiquei bem à vontade e os músicos sob orientação inspirada do produtor Thomas Medeiro conseguiram entrar no mesmo universo que eu estava quando criei as composições, fiquei muito satisfeito com o resultado final.

Carlim: Esse foi seu primeiro trabalho produzido e gravado fora de Ponte Nova. Conte um pouco da experiência de trabalhar sob orientação do produtor Thomas Medeiro.

A. Vinih: Me senti muito seguro ao trabalhar com o produtor Thomas Medeiros desde o primeiro instante. Sua sensibilidade, concentração e carisma contagiam os músicos durante a gravação e o estúdio fica numa energia fantástica. Não tive dificuldade para interagir com ele, eu lhe mostrava alguns acordes, ele já entendia onde eu estava querendo chegar e já me mostrava as possibilidades. Foi uma experiência única, outras composições já estão martelando em minha cabeça para um próximo trabalho e com certeza ele será o produtor.

Carlim: Explique melhor em que sentido o toque de Thomas foi determinante. Nos fale de duas músicas que foram diretamente influenciadas pela produção dele.    

A. Vinih:  Difícil citar somente duas músicas cuja interferência direta de Thomas permitiu alcançar um melhor resultado, pois acredito que todas tiveram um melhor resultado final por causa de sua interferência direta, mas vamos lá. Vou começar pela música Pensamento em Temporal. Quando toquei a música no violão para gravar a primeira guia, ele já me freou, disse que eu estava correndo, minha mão direita estava um pouco apressada… Colocou o metrônomo mais lento, e pediu para eu tocar em cima. No inicio achei que iria ficar lento, mas quando Cristiano Provesani gravou o baixo em cima da bateria de Adaílton Couto, eu percebi que a música tocada daquela forma ficava bem mais envolvente, o swing fica em evidência.

Criei e escrevi os arranjos de trombone e trompete, quando mostrei para o Thomas ele olhou para as partituras entendeu a idéia que eu queria com os arranjos, mas não usou quase nada do que eu escrevi. Ele colocava os instrumentos que já estavam gravados para tocar e saia cantando outros arranjos, parecidos com os meus, porém mais interessantes. O maestro Elias, que gravou o trombone e o trompete, entrava na onda e saia reproduzindo tudo que ele cantava.

Quando fui gravar a minha voz, ele pedia para eu dançar, tirar os sapatos e entrar no clima da música, dizia que não bastava cantar afinado, era preciso encontrar o astral que a música pedia. Outra que posso citar é a música Sorte de Nós Dois. Essa nem entraria no disco, foi colocada de última hora, compus esta canção durante o processo de gravação, quando mostrei pra ele, eu disse que queria um reggae, com percussão, voz, violão e baixo. Ele sugeriu Moringa e ovinho para percussão, ukulele, violão, baixo, flauta e um coral de crianças para encerrar a música. Ele mesmo gravou moringa, ukulele e baixo. Quando Jader gravou as Flautas ele pedia para Jader conversar com as crianças, porém utilizando a flauta, as crianças cantavam e Jader respondia, ficou fantástico, bem diferente do que eu imaginava.

Carlim: Mais uma vez você grava um disco com a colaboração de músicos pontenovenses, todos eles seus amigos. Goiabinha (Jader) e Adailton já haviam gravado outros trabalhos seus. Porém, foi a primeira vez que teve a oportunidade de gravar com Cristiano Provensani e Elias. Como foi realizar outro projeto junto desses músicos/amigos? Como foi gravar com Cristiano e Elias pela primeira vez? Sei que a participação de Elias além de ser crucial para o resultado final das músicas rendeu divertidas histórias! (risos)

A. Vinih:  Gravar com esses dois grandes músicos e amigos foi sensacional, e muito divertido. Vou começar pelo Cristiano. Fui até a casa dele para mostrar as composições que eu pretendia gravar, quando mostrei a primeira composição a reação dele foi segurar a barriga dando uma crise de risos, depois perguntou o que eu havia fumado quando criei aquela composição. Eu também comecei a rir, pois a risada dele é muito bizarra, impossível não rir (risos). Após a crise de risos ele pegou um Violão e começou a criar as linhas do baixo da música Samba de Segunda, uma musica completamente dissonante. Fiquei impressionado com a facilidade que ele teve para desenvolver as frases, senti naquele momento que ele seria ingrediente indispensável para a realização do trabalho.

Dois dias depois voltei para outra visita, quando cheguei vi uma folha pregada na geladeira com as músicas do disco e as tonalidades, ele já havia criado praticamente todas as linhas do baixo. O mais interessante é que ele não tinha baixo em casa, criou tudo no violão. Entramos para o estúdio, Thomas Medeiros colocou um baixo Tagima em suas mãos, ele olhou meio desconfiado, quando deu a primeira dedada sentiu que o Tagima estava todo alterado. Thomas havia trocado todo o circuito do instrumento, o baixo era dos bons!

Daí pra frente foi um banho de swing e sensibilidade! Eu só observava Thomas e ele conversando e desenvolvendo as linhas de baixo, impecáveis.

Agora vamos para a participação do Maestro Elias. Toquei Trombone quase dez anos, já fui aluno de Elias, nunca vi ninguém dominar instrumentos de bocal como ele. No meu disco ele gravou trombone, trompete e tuba. Só quem toca instrumentos de bocal conhece a dificuldade em dominar estes três instrumentos, é dificílimo. Todo mundo que conhece Elias estava duvidando, falavam que eu não conseguiria colocá-lo em um estúdio para gravar esse disco comigo, ele tem fama de enrolado, para muitos ele é uma espécie Tim Maia do sopro. (risos)

Marquei ensaios com o Elias, ele compareceu em todos. Eu já havia bolado alguns arranjos como disse na resposta anterior. Apresentei ao Elias os arranjos. Quando entramos no estúdio a química entre Elias e Thomas foi perfeita. Peguei as partituras, mostrei para o Thomas, depois coloquei minhas partituras debaixo do braço e deixei os dois brincarem, pois pareciam duas crianças brincando de tão natural. Thomas cantava os arranjos e Elias colocava o tempero necessário.

No segundo dia de gravação Elias deu o “bolo”, mas não fiquei chateado, ele estava com crédito, acredito que não teria graça gravar com Elias sem tomar pelo menos um “bolo” (mais risos). No dia da finalização das gravações Elias estava ainda mais inspirado, gravou tudo que faltava, conseguiu tocar Tuba, Trombone e Trompete no mesmo dia. Thomas disse que ele estava com o Beiço afiado.

Carlim: Eu sei qual foi o “bolo” que Elias lhe deu, mas os leitores do site não. Seria uma maldade de nossa parte se você não compartilhasse esse “bolo” conosco tamanho é seu sabor. Portanto, faça-nos esse agrado, conte aos leitores do site sobre o “bolo”.

A. Vinih: Sim, vamos lá. No segundo dia de gravação liguei para o Elias. Já estava tudo no jeito, iríamos para Viçosa finalizar as gravações, acordei bem cedo e sai de casa para encontrá-lo. Marquei com ele às sete da manhã. Liguei para o Elias, sua mulher atendeu e disse que ele havia passado mal e estava no SAMDU (pronto-socorro de Ponte Nova), só que coincidentemente eu havia parado o carro na porta do SAMDU, e o SAMDU estava fechado (risos). Depois ele me disse que foi para outro Hospital.

Gosto de contar essa história entre amigos para zoar o Maestro Elias. Brincadeiras a parte, pois ele foi importantíssimo para realização desse trabalho, esse “bolo” acabou sendo ótimo, pois Thomas teve mais tempo para trabalhar a edição de outras músicas que Elias já havia gravado. Quando voltamos para o estúdio, Thomas nos apresentou algumas faixas já editadas. Acredito que isso nos motivou ainda mais. Pretendo trabalhar muito com o Maestro Elias.

Carlim: Essa resposta mostra com todas as cores a importância de Elias para o sucesso do álbum, pois faltaram ingredientes na receita do “bolo” (risos).  Vamos ao que interessa. Quais as inspirações para as composições do Inverso?

A. Vinih: Tudo me inspira, eu respiro música o tempo todo. Nesse álbum, uma folha de árvore rolando pelo chão me inspirou, um sonho que tive com minha bisavó me inspirou, um passeio romântico me inspirou, o som da chuva me inspirou. Sou movido pelo que eu sinto. A música sempre me procura. Os artistas que ouço ajudam muito em minhas inspirações, por isso o disco ficou essa mistura, Samba, Reggae, Funk, Soul, Valsa… Tenho ouvido muito som diferente um do outro.

Carlim: Fico tentado a concluir que seu método de preparação de um álbum não segue um planejamento. Você não pensa um conceito para o álbum para depois iniciar o processo de composição das músicas. Ao menos é a impressão que tenho. Estou certo? 

A. Vinih: Até algumas semanas atrás nunca havia pensado num conceito para um álbum antes de criá-lo, sua pergunta foi quase uma previsão (risos). Há pouco tempo atrás sentei num boteco com o meu amigo músico e mestre José Carlos Daniel e disse para ele que estava com a ideia de criar um álbum, mas ainda não havia criado músicas para ele. Queria compor uma sequencia de canções fortes, com letras voltadas aos problemas sociais. Já havíamos tomado algumas cachaças quando batizamos o álbum, o nome seria Dedo no cu do mundo. Acho que conseguiria, fiquei tentado…

Carlim: Sintonia perfeita entre entrevistador e entrevistado! (risos) O que motivou essa mudança de método de criação?

A. Vinih: Sempre tive vontade de falar sobre problemas sociais em minhas composições. Depois do papo que tive com o José Carlos Daniel, fiquei ainda mais empolgado. Tenho ouvido muito Jorge Benjor, Tim Maia, Racionais Mc’s, Di Melo e Bezerra da Silva. Estou procurando ouvir sons que me influenciem.

Carlim: Pra finalizarmos a entrevista me responda o seguinte: como você encara a possibilidade de Inverso tirá-lo do cotidiano de músico de barzinho e coloca-lo no inicio da estrada de uma carreira profissional de sucesso?

A. Vinih: Sempre quis trabalhar com as minhas composições e o barzinho acaba me limitando. Coloco uma ou outra composição própria, mas acabo tendo que montar um repertório repleto de músicas de outros artistas já consagrados, escondendo o Arthur Vinih compositor. Encaro a possibilidade de sair do cotidiano de músico de barzinho de forma empolgada, acredito que o álbum Inverso seja o primeiro passo dessa nova estrada que quero trilhar.

Penso em buscar um público que queira escutar músicas novas. Não quero levar somente entretenimento para as pessoas, eu quero levar arte através das minhas composições.

 

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