Contra o Racismo Azealia Banks é tiro, porrada e bomba

Primeiro foi o tema da apropriação cultural. Azealia Banks não mediu palavras para expor como os rappers brancos e brancas recebem o reconhecimento da mídia e da indústria fonográfica nos E.U.A. muito mais rapidamente que os negros, inclusive recebendo Grammys, de acordo com ela, injustamente. 

Em suas próprias palavras:

“O álbum do Macklemore não foi melhor que o do Drake. Essa me*** da Iggy Azalea não é melhor do que qualquer garota negra que faz rap hoje. Quando eles dão esses prêmios Grammys, que deveriam reconhecer a excelência… Iggy Azalea não é excelente. Eu não me importo que isso toque no rádio, tá tudo bem, só tenho problema de você chamar de hip-hop”.

De cara me impressionei com a potência critica e a consciência racial dessa moça, que sem papas na língua desmascarava a indústria cultural racista.

Depois veio a admiração artística com seu disco do ano passado, Broke With Expensive Taste. Uma diversidade de produtores, climas e ritmos, tudo temperado pelas rimas afiadas de Azealia Banks. A cantora (que neste disco de estreia apostou num leque amplo de ritmos do trap, bass até o house), deixou claro que não precisa de polêmicas para estar sob os holofotes.

Azealia BanksAgora, chega-me aos ouvidos e aos olhos, que Azealia Banks posou para um ensaio fotográfico na revista masculina Playboy. E qual o problema? Se existe algo que a artista não cultiva são falsos pudores, muito pelo contrário, suas posições são sempre claras, afrocentradas, mas claras.

“Toda vez que meu empresário programa uma sessão de fotos eu digo, vamos fazer uma foto nua” ela brinca, e completa: “Eu amo ficar pelada”.

Além da beleza física e da sua enorme qualidade artística, as fortes opiniões da rapper também costumam causar impacto. Nesta última sexta-feira dia 20, foi publicada junto ao referido ensaio fotográfico, uma bombástica entrevista onde não fica suave pra ninguém.

Azealia dá ideia e não poupa o racismo americano e nem as posições de outros artistas negros. Posturas que ela considera conciliadoras e subservientes á branquitude americana. Sobre o racismo norte-americano a cantora dispara:

“Eu odeio esses americanos brancos e gordos. Todas as pessoas encrustadas no meio da América, a carne gorda do país, são aqueles brancos conservadores e racistas que vivem em suas fazendas. Aquelas adolescentes que trabalham no Kmart e tem um vovó racista – aquilo é a América de Verdade. (…) Assim que eu tiver meu dinheiro, vou sumir daqui e deixar vocês todos com seus aparelhos”.

Os tópicos abordados por Azealia não param por aí. Como já tinha feito antes, ela critica a cultura pop atual e sua vinculação nas mídias. Passa pela crítica aos privilégios que os brancos não conseguem perceber, mesmo os que são seus fãs. E vai até o conhecimento da história da cultura negra, a sua ausência nas salas de aula e a necessidade de apropriação ativa. Sua metralhadora aponta também para artistas negros que são bem aceitos, porque de acordo com ela não ameaçam o status quo racial americano.

É bala para todo lado! Vamos então ao que considero os melhores momentos dessa entrevista:

Sobre discriminação na música pop:
“É sempre sobre a raça. Lorde pode falar as merdas que quiser sobre todas as outras vadias, ninguém vai dizer que ela é raivosa. Se eu tenho algo a dizer, sou jogada para escanteio. Todos vocês filhos da p*** ainda me devem reparações! Por isso que ainda se trata de raça”.

Voz contra o racismo:
“Eu me decepciono quando as pessoas dizem ‘por que você não se limita a fazer música?’. O que aconteceria se eu não pudesse cantar? Aí eu seria só mais uma vadia negra pra vocês. É muito irritante. Pessoas negras merecem reparações por terem construído este país, nós merecemos muito mais crédito e respeito”.

“Meus fãs brancos dizem ‘por que você exige reparações por um trabalho que você nem fez?’. Bem, vocês herdaram as propriedades de seus avôs e tiveram o direito de ficar com os diamantes e pérolas das suas avós. (…) Eu sou negra e sou um pé no saco para vocês. Mas eu não estou falando com vocês, é isso que deixa as pessoas nervosas. Vocês não estão convidados para essa conversa. Não é sobre vocês”.

Sobre cultura e inadequação:
“Quando você arranca pessoas de suas terras, de seus costumes e culturas, ainda há uma parte de mim que sabe que eu não deveria falar inglês. Eu não deveria estar cultuando Jesus Cristo. Toda essa merda não é natural para mim. As pessoas vão dizer ‘ah, você é ignorante porque não sabe falar direito o inglês’. Não. Isso não é meu. Eu nem escolhi isso para mim, então vou fazer o que eu quiser com esse idioma”.

 Sobre o ensino da história negra nas escolas:                             “Os livros de história nos EUA são horríveis se você não é branco. (…) Eu poderia escrever um livro sobre por que negros não devem ser cristãos. Crianças negras deveriam ter um currículo especial que não começasse na viagem da África até aqui. Tudo o que você sabe, enquanto criança negra, é que nós viemos para cá em um barco, não tínhamos nada e continuamos sem ter nada. Mas o que estava acontecendo na África? Qual é a cultura da qual fomos afastados? Essa informação é vital para a sobrevivência de uma jovem alma negra”.

Sobre Jay Z, Pharrell e o orgulho negro:                                       “[Jay Z] é o único em quem eu presto atenção. O lance da raça sempre vem à tona, mas eu quero chegar lá sendo extremamente negra, orgulhosa e barulhenta a esse respeito. Você me entende? Muitas vezes, quando você é uma mulher negra e orgulhosa disso, pessoas brancas não gostam de você. Na sociedade americana, o jogo é ser uma pessoa negra não-ameaçadora”.

“É por isso que você tem Pharrell ou Kendrick Lamar dizendo ‘como podemos esperar que nos respeitem se não respeitarmos a nós mesmos?’. Eles jogam esse jogo do negro não-ameaçador, é isso que faz as mães de família dizerem ‘ah, nós os amamos’. Até Kanye West joga um pouco esse jogo – ‘por favor me aceite, mundo branco’. Jay Z nunca jogou por essas regras, é disso que eu gosto”.

Fonte: Correio Brasiliense.

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