1977 – Wado

wadoFico imaginando o modo como começou o dia 04 de março de 2015 para Wado. Provavelmente tomou seu café da manhã já experimentando a tensão gerada pela expectativa de compartilhar em sua página oficial no facebook a notícia sobre o lançamento de seu novo álbum 1977.

Talvez ele nem tenha acordado cedo e por isso não tomou café da manhã. Quem sabe acordou depois do meio dia, pois a noite anterior passou comemorando a finalização do álbum e a novidade que o acompanha, seu lançamento oficial no formato streaming antes de seu lançamento físico.

Às 13h59min em ponto Wado não apenas compartilhou, mas lançou seu oitavo álbum de inéditas via facebook. O alagoano avisa: brevemente 1977 poderá ser baixado através do seu site oficial.

Enquanto aguardamos a disponibilidade do álbum para download no site de Wado, ou, porque não, nas prateleiras das lojas de departamento Brasil afora, podemos ouvir 1977 no canal do músico no youtube. Escrevo esta resenha e ouço o álbum… confesso a vocês ter sido surpreendido! Pensei ter que encarar composições soando Los Hermanos nos meus tímpanos ao longo dos cerca de 27 minutos de duração do disco. Quanta felicidade por ter essa expectativa frustrada! Vazio Tropical, seu álbum anterior, fora produzido por Marcelo Camelo tornando-se, com o lançamento de 1977um divisor de águas na carreira de Wado.

Afirmo isso por considerar que Vazio Tropical se contamina em demasia pelas concepções musicais de Camelo cerceando, indiretamente que seja, a influência do próprio Wado sobre a constituição da sonoridade do álbum. A divisão das águas operada pelo Vazio reside por separar duas extremidades sonoras que demarcam bem a identidade musical de Wado. Estou me referindo ao seu disco homônimo Wado lançado em 2011 e 1977, objeto desta resenha. Vejam, volto aos outros dois álbuns por considerar inevitável a comparação para entender o que o compositor nos apresenta em 1977

Wado assume as rédeas da produção de 1977  resultando num álbum consistente e original. A tônica afro-beat muito presente (saturada talvez?) no rock nordestino, pernambucano em particular, característica marcante de seu álbum de 2011 apenas tempera algumas músicas de Wado – 1977Apenas Lar, faixa de abertura do álbum apresenta essa pegada que colocou Pernambuco no mapa do rock nos anos 90. Não me entendam mal, a intensão é apenas ressaltar uma mudança de paradigma sonoro de um álbum para outro.

Faço esta ressalva caso alguém considere que eu esteja diminuindo a qualidade e importância do afro e do mangue beat enquanto gêneros musicais. Wado mostra ter a necessidade de explorar novas formas, enveredar-se por sendas pouco habitadas ou ainda inabitadas. Poderia simplesmente repetir a fórmula de sucesso do álbum de 2011 e colher os lucros das vendas dos shows. Estava inserido numa cena já bem consolidada, com visual, ideias e gostos sedimentados do seu público, prontos para “consumirem” “novos” produtos. 1977 deixa claro serem outros os objetivos de Wado.

As três primeiras faixas Lar, Cadafalso Deita apresentam melodias leves, com ritmo timidamente agitado. Essa leveza começa a se desfazer a partir de Galo, quando certa densidade assume o comando. Aos poucos as temáticas e sons ganham atmosfera intimista convergindo para o âmago, adentrando uma geografia passional. Essa intensidade se concentra toda na “meiuca” do álbum. Galo, Condensa, Mundo Hostil  Menino Velho tem essa característica enquanto as três últimas, Sombras, Palavra Escondida Um Lindo Dia de Sol, ganham um ar mais lúdico e cronista.  

Esse movimento feito pelas músicas ao longo do álbum cativa, envolve conduzindo o ouvinte por sensações opostas: euforia/tranquilidade e nostalgia/entusiasmo e por ai vai. Se Wado estivesse diante de mim nesse momento perguntaria se ele tem ouvido a rapaziada do Clube da Esquina nos últimos tempos. Pode não ter sido proposital, mas a presença dos mineiros se faz presente em 1977Vale avisar que tal presença se dá como influência não como fórmula sonora. De qualquer maneira Wado se reformula apresentando-se como um trovador moderno, trovando de acordo com o contexto tecno-sonoro do século XXI.

1977 ainda conta com as participações de MoMo, Samuel Úria, Célio Gomes, Graciele Maria, Thiago Silva e Zeca Baleiro garantindo ainda mais diversidade ao álbum. Wado se mostra desbravador, sensível, criativo além de estar mais próximo ao público.

Enquanto aguardamos a disponibilização de 1977 para download gratuito no site do músico vamos ouvi-lo em seu canal no youtube. Vamos logo pra 1977.

Selo: Deckdisc
Gravação: Jair Donato, Shina, Pedro Ivo Euzébio, Dinho Zampier, Joaquim Prado, Vitor de Almeida e Tácio Mendes.
Mixagem: Pedro Ivo Euzébio.
Masterização: Sergio Soffiatti.
Produção: Wado.
Foto e capa: Pedro Ivo Euzébio.

NOTA:  logo3_notalogo3_notalogo3_notalogo3_nota_meiologo3_nota_pb

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